Cai o preço do remédio, indústria ganha menos

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A variação negativa de 0,25% nos preços aos consumidores finais de 48% dos medicamentos disponíveis no mercado – os considerados de baixa concorrência, segundo a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) –, em vigor desde 31 de março, junto ao reajuste máximo de 5,85%, não mexem só com o bolso do consumidor. Em maior ou menor nível, a rentabilidade da indústria e do varejo farmacêutico também são afetadas. Para compensar possíveis perdas, reduzir descontos ao consumidor pelo varejo, ou até a perspectiva de recuo nos investimentos pela indústria são possíveis saídas utilizadas para tentar melhorar os resultados.
 
Pelo lado dos fabricantes, a medida é criticada por penalizar as empresas mais eficientes, segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma). Isso porque a redução nos preços somada à forte pressão em custos como eletricidade (11%) e reajuste de trabalhadores (7,5%) podem não só afetar a rentabilidade, mas comprometer lançamentos de produtos e de investimentos.
 
De acordo com o vice-presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini, o problema não seria reduzir o preço de fábrica, mas não ter como repassar os custos, pois a margem do varejo é garantida por lei em todos os produtos. "Vende-se mais, porém ganha-se menos. O setor é pressionado por novos custos, mas não há chance de repor preços na mesma velocidade", disse. Para compensar, só diminuindo gastos – o que complica pela alta constante dos insumos. "Ou reduzir investimentos, o que seria péssimo", destacou.
 
Para o varejo, os impactos de qualquer tipo em preços de medicamentos são minimizados com o repasse ao consumidor final. A tendência, nesses casos, é que os descontos concedidos aos clientes sejam menores. Para se ter uma ideia, na prática, já há diminuição entre 3% e 4% só por conta da substituição tributária, disse o diretor executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sincofarma-SP), Juan Carlos B. Ligos.
 
Para ele, o maior problema é a alta dos custos, já que a redução de 0,25% representa "praticamente zero", ou um "agrado" ao consumidor. "O fato de os preços não aumentarem não quer dizer que (o consumidor) vá pagar menos. Se hoje eu dou 10% de desconto, amanhã darei 5%. Quando os custos sobem em decorrência da burocracia, alta carga tributária e despesas acessórias, (as farmácias) repassam o aumento. Quem teve as despesas majoradas não vai tirar tudo dos lucros", exemplificou.
 
Compensações – O real valorizado, que tem reduzido os gastos da indústria farmacêutica com matérias-primas, majoritariamente importadas, são uma espécie de "luz no fim do túnel" para o Sindusfarma. Porém, segundo Mussolini, o problema é que essas medidas do governo afetam pouco o consumidor, mas atrapalham muito o setor.
 
Como exemplo, ele cita a redução de preço em uma apresentação como o anticoncepcional, por exemplo, que custa R$ 4,45. A queda no preço é mínima, e varia entre R$ 0,01 e R$ 0,02. "O consumidor pode nem sentir a queda, ou até pagar mais caro (pela redução do desconto), e a margem do varejista não tem tanto impacto. Entretanto, na cadeia, quando um perde, todos perdem."
 
Para Ligos, as perspectivas de expansão do setor farmacêutico podem mudar esse quadro. Apesar dos R$ 16 bilhões em impostos pagos em 2011, de acordo com ele, o faturamento do ano fechou em R$ 46 bilhões – número que deve dobrar em cinco anos. "O crescimento será muito expressivo. Com isso, o ganho de volume deve ajudar a não repassar (todos os custos) ao consumidor", aposta, o diretor da Sincofarma.


Veículo: Diário do Comércio - SP


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