A estiagem que castigou o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado não prejudicou apenas os produtores de grãos, que nesta safra 2011/12 poderão amargar quedas da ordem de 60% na colheita de soja e de 45% no caso do milho. A seca também pegou em cheio a pecuária leiteira do Estado, a segunda mais importante do país, atrás da mineira.
Na região noroeste, responsável por 70% da produção total de leite do Rio Grande do Sul, a retração foi da ordem de 30% desde dezembro, de acordo com levantamento realizado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS). A entidade avalia que as chances de os produtores recuperarem os prejuízos neste bimestre março-abril são nulas, porque as chuvas não foram suficientes e os custos de produção já aumentaram aproximadamente 25% desde o começo da estiagem.
Nos cálculos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), uma diminuição aceitável na produção gaúcha de leite para a estação do outono oscila entre 10% e 15%, até que as culturas de inverno, como aveia e azevém, estejam disponíveis para alimentar os animais. "Mas a perda bate em 30% e o produtor consumiu boa parte da reserva de alimentação [volumoso e silagem]
preparada para o inverno", avalia Jorge Rodrigues, presidente da Comissão de Grãos e Leite da Farsul. "Quando as pastagens estão pobres em termos nutricionais, o pecuarista compensa com alimentação no cocho. Foi isso o que aconteceu antes do tempo", emenda.
Segundo ele, o produtor já começou a encarar preços mais elevados para semear os cultivos de inverno. O quilo da semente de aveia, que era comercializada a R$ 0,50, já subiu para R$ 1, e insumos básicos como os farelos de soja e de milho, aumentaram em torno de 30%. "A ração, que era vendida por R$ 0,60 por quilo, já chegou a R$ 0,78". Para Rodrigues, o atual preço do leite, de R$ 0,75 pago por litro, não faz frente aos custos que o pecuarista do Rio Grande do Sul passou a encarar. No mês passado, o valor do produtor no Estado chegou a R$ 0,84 por litro, segundo o indicador Cepea/Esalq.
Na avaliação da Farsul, a venda de 200 mil toneladas de milho em balcão, liberada em março passado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - por meio do programa que permite criadores e agroindústrias de pequeno porte terem acesso aos estoques públicos com vendas diretas -, não foi suficiente para atender aos produtores gaúchos e catarinenses, também beneficiados pelo programa. "Diante dos acontecimentos, passamos a reconsiderar desde já o crescimento de 7% na produção que tínhamos planejado para 2012", lamenta Jorge Rodrigues.
Veículo: Valor Econômico