A indústria de suco de laranja pressionará o processo de criação da Consecitrus para ver o conselho oficializado antes do início da próxima safra, em maio. O projeto vem sendo discutido há mais de dez anos e enfrenta impasses, com divergências entre representantes da produção citrícola.
Quase realizada nesta semana, a assinatura do estatuto do Consecitrus, que estabelece diretrizes e organiza a relação entre produtores e industriais, sofreu uma reviravolta. E também houve quem tenha ficado de fora da fase final da consolidação do documento: a Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), que se reuniu ontem para criticar os rumos que a discussão tomou.
"A Associtrus, que é a verdadeira entidade representativa dos citricultores, não aceita que se chame de Consecitrus essa ferramenta que eles estão impondo", afirmou o presidente do Conselho da associação, Renato Toledo. O estatuto estava prestes a ser assinado na última terça-feira, quando a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) - que também se coloca na discussão como a principal representante dos citricultores - questionou a posição do ex-secretário paulista João Sampaio como mediador do processo.
As divergências da Faesp e da Associtrus fazem parte da sucessão de desentendimentos que permeia o caso. A fragmentação do segmento citrícola, na área de representação dos produtores, é o principal impeditivo para a consolidação do Consecitrus - um conselho de representação aos moldes do Consecana, criado em 1998 para o segmento sucroalcooleiro.
"Falta definir qual ou quais entidades vão participar do conselho", expôs Sampaio, que participa da coordenação do projeto desde que estava à frente da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. "A produção tem que chegar a uma posição definida para debater com a indústria", disse.
Nas últimas negociações, a mesa foi dividida pela Faesp e a Sociedade Rural Brasileira (SRB), que assumiram o processo de criação do estatuto. A primeira quis ter poder de voto duplo, enquanto a segunda era a favor da entrada de todas as entidades de representação no conselho. O conflito de ideias culminou com o questionamento sobre a liderança de Sampaio - que disse à Agência Estado: "Ali, acabou para mim" - e, em consequência disso, a saída da SRB da discussão.
"Essas negociações paralelas são um acinte", criticou Toledo. A Associtrus rejeita a criação de um conselho antes da apresentação pública dos números da indústria citrícola - hoje em posse do escritório de advocacia Mendonça de Barros. "Querem que eu concorde, antecipadamente, com o que só depois virá de propostas", disse o presidente da associação, Flávio Viegas. O diretor da Faesp Marco Antônio Santos garantiu que a federação está aberta a diálogo com todas as outras representações de produtores e disse que "com certeza iremos costurar tudo". Ele negou que a coordenação de Sampaio tenha sido rejeitada pela entidade. "Não foi o que aconteceu. A Faesp jamais vetou a presença de João Sampaio. Houve um questionamento", disse.
A Faesp representa 237 sindicatos rurais em São Paulo: 180 fazem parte do segmento citrícola. Quanto à Associtrus, que briga pela liderança representativa, conta com 1.300 associados e estima que 7.000 produtores estão em seu raio de representação.
Lado da indústria
O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), Christian Lohbauer, disse que a indústria de suco de laranja vai "trabalhar ativamente na semana que vem para que [o Consecitrus] saia antes do início da safra, quando começam as tensões". O representante disse que a indústria apoia inteiramente a criação do conselho, e que portanto contribuiu com o fornecimento de números para um diagnóstico. "Não temos como interferir mais. A indústria virou espectadora."
"Estamos no processo de negociação há quase dois anos. Há tempos não há divergência em relação ao conteúdo. O grande problema, que atrasa o processo, é a representação. Na citricultura, não existe unidade", analisou Lohbauer.
Veículo: DCI