A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) vai às ruas de São Paulo na manhã de hoje, juntamente com mais de 250 empresários, a fim de reivindicar a abertura imediata do Shopping JK Iguatemi. O protesto acontecerá na esquina da Avenida Juscelino Kubitschek com a Avenida Chedid Jafet.
"É inadmissível que a burocracia prevaleça, impedindo o trabalho de empresários que querem ajudar no desenvolvimento econômico da cidade de São Paulo, além do desemprego causado a tantas famílias, que dependem do trabalho no shopping para sobreviver. São mais de 3 mil vagas de trabalho sendo colocadas em risco, além de um investimento superior a R$ 250 milhões em estoque, treinamento de funcionários, compra e instalação do ponto comercial, que estão sendo desperdiçados. Pedimos que haja um entendimento entre os órgãos públicos, para que todos os varejistas deste shopping possam trabalhar", afirma o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, que promete marcar presença neste ato.
O futuro centro de compras, no cruzamento das avenidas Juscelino Kubitschek e Nações Unidas, teve o pedido para abertura das portas negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), na última quarta-feira, por não ter concluído as obras para desafogar o trânsito gerado pelo empreendimento na região. Ele seria inaugurado na última quinta-feira.
A 11ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo negou pedido de antecipação de tutela proposto pela Wtorre, construtora responsável pelo projeto, que solicitava permissão para funcionamento do shopping e das duas torres comerciais no local, apesar de não ter realizado as obras exigidas.
Com quatro pisos de lojas e estimativa de público diário de 20 mil pessoas, o Shopping JK Iguatemi tem área bruta locável de 35.246 metros quadrados e teve investimentos de
R$ 322,3 milhões.
Quando inaugurado, o JK Iguatemi se unirá aos 432 shopping centers no Brasil, que faturaram R$ 108 bilhões em 2011, conforme números da Associação Brasileira de Shopping Center (Abrasce). Até 2013, deverão ser inaugurados no País mais de 70 centros de compras, 42 apenas neste ano. São Paulo é o estado que vai receber o maior número de empreendimentos. Serão 17 shoppings, sendo dois na Capital paulista, com inauguração prevista para este ano.
Esses templos de consumo parecem ganhar a preferência de consumidores que moram em localidades menores. Só as cidades do interior deverão receber 29 centros de compras. Para 2012, a Abrasce projeta uma alta de 12% nas vendas realizadas nesses empreendimentos.
Os números da Alshop são ainda mais otimistas. Para os próximos três anos, uma pesquisa da associação feita com o Ibope prevê a abertura de 113 shoppings em todo o País, em um investimento estimado em mais de R$ 5 bilhões. O presidente da Alshop atribui o bom momento da indústria de shopping center ao fato de o Brasil possuir muitas localidades sem a presença desses centros de compras.
Isso aumenta o interesse de investimento das empreendedoras e administradoras de shopping. Além disso, o setor se beneficia do mercado de capitais, onde as companhias captam recursos para investir em participações e construção de espaços.
Prazos – Com a expansão do setor, aumentam os cuidados que o lojista deve ter antes de fechar um contrato para vender nesses templos do consumo. O prazo de inauguração, por exemplo, deve estar previsto em pelo menos um dos documentos assinados pelo lojista. Essa informação é importante para o empresário se programar e evitar imprevistos.
Segundo o advogado Mário Cerveira Filho, especialista em Direito Imobiliário, em geral, os contratos estabelecem prazos que podem ser prorrogáveis por 180 dias ou mais.
Para o advogado, são incomuns ações judiciais movidas por lojistas que se sentiram prejudicados pela demora na inauguração do empreendimento. Atrasos podem ocorrem em várias circunstâncias, o que inclui o não cumprimento de regras estabelecidas pelo poder público. É o caso do Shopping JK Iguatemi.
Cerveira Filho lembra que é de dois anos, em média, o período de "maturação" de um shopping, ou seja, o tempo necessário para o aumento do fluxo de pessoas. Sendo assim, a recomendação, antes de assinar um contrato, é negociar descontos no valor do aluguel até o lançamento do empreendimento. Até porque o lojista terá de contribuir para um fundo extra, criado para as despesas com a abertura do centro de compras.
Risco de saturação já está nas análises
O Brasil passou nos últimos dez anos por um processo de expansão do emprego e renda que deu novo dinamismo à economia: o consumo se aqueceu, impulsionando o varejo. Um movimento que pode ser sintetizado pelo rápido avanço dos centros de compras. No período, foram inaugurados, em média, 20 shoppings por ano no País. E se as previsões para os próximos três anos se confirmarem, essa média será elevada para mais de 30 lançamentos ao ano.
Para alguns especialistas em varejo, como Marcos Hirai, sócio-diretor da BG&H Real Estate, "há excesso de shoppings no mercado". Caso as previsões de lançamento se confirmem, até 2014 teremos um incremento de mais de 90 shoppings no País. Segundo ele, para ocupar esses novos espaços serão necessários 16 mil lojistas. "Não vejo esse potencial no mercado. Vão faltar lojistas", afirma o especialista.
De acordo com Hirai, 90% dos shoppings inaugurados nos últimos dois anos ainda não vingaram. Isso porque o tempo de maturação desse tipo de empreendimento se dá após dois anos na maioria dos casos. "Não se mudam os hábitos de consumo da noite para o dia, o que inclui a mudança de local das compras", diz o especialista. "O problema é que são poucas as redes que conseguem se segurar ao longo desse período de maturação", completa.
Dentro desse quadro, há um outro fator determinante: o elevado custo de se manter uma loja em shopping. O valor do metro quadrado no Iguatemi São Paulo, por exemplo, chegou a R$ 7 mil no ano passado para aluguel. Os custos elevados, somados à demora para se ter retorno, têm levado os lojistas a postergarem a decisão de entrar nos shoppings para depois do lançamento dos empreendimentos. Daí, a perspectiva de falta de lojistas para ocupar as áreas locáveis dos shoppings que virão.
Mas a situação pode ser ainda mais preocupante ao se notar que o avanço dos novos centros de compras se dá de maneira desorganizada, nas palavras dos especialistas. Como exemplo clássico, basta observar uma área de pouco mais de dois quilômetros na cidade de São Paulo. Nessa extensão, em cujos extremos estão o Eldorado e o Morumbi, seis shoppings (Cidade Jardim, Iguatemi, Market Place, Vila Olímpia, Shopping D&D, Villa Lobos) – entre os já construídos e os que estão em obras – dividem espaço. Isso sem contar o aguardado JK.
Na região do Grande ABC, que carecia de shoppings, de repente muitos projetos começaram a ser tocados praticamente ao mesmo tempo. "Essa sobreposição acarreta risco de que um empreendimento canibalize o outro", diz o sócio-diretor da BG&H Real Estate.
Segundo Marcos Hiller, coordenador de MBA de Gestão de Marcas da Trevisan, a economia aquecida disfarça a maneira desregrada com que cresce o setor de shoppings. "Enquanto a economia estiver aquecida, com o consumo em alta, novos empreendimentos vão aparecer", afirma o coordenador da Trevisan.
A questão é: e quando a economia se acomodar, o que acontecerá com os centros de compras que pipocaram nas cidades brasileiras? Se a resposta estiver no mercado norte-americano, teremos um grande problema pela frente. Nos últimos anos, centenas de shoppings fecharam as portas nos Estados Unidos (veja reportagem sobre o assunto na página 20), depois de uma expansão extremamente agressiva do setor.
No Brasil, enquanto os shoppings representam cerca de 20% das vendas do varejo, nos Estados Unidos, eles participam com 70% das operações. Além disso, embora o crescimento desses centros de compras no Brasil esteja acelerando, estamos longe dos números norte-americanos. Por aqui, temos cerca de 470 shoppings, enquanto nos EUA são mais de 10 mil, considerando os padrões de shoppings adotados no Brasil, entre 20 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL) até 60 mil.
Justamente por essa diferença nos números é que as consequências da acomodação na economia brasileira, conforme os especialistas, não devem incorrer em quebradeira no setor. Mas, para Hiller, haverá a necessidade de adaptações no mercado. "A tendência é que os shoppings mais lucrativos se mantenham, enquanto os demais tenham de encontrar formas de se sustentar no mercado. Uma das opções é a segmentação", diz o coordenador.
Na opinião de Hiller, a tendência é que esses shoppings temáticos – especializados em segmentos de decoração, luxo, moda, móveis, entre outros – sejam a opção de formato em um mercado menos aquecido.
Veículo: Diário do Comércio - SP