Os efeitos da crise global, principalmente da recessão na Europa e da desaceleração da China, já são visíveis nas exportações brasileiras. Três fenômenos interligados atingem os embarques do Brasil: queda dos preços das commodities, menor demanda de clientes importantes e o aumento do protecionismo.
No mês passado, o Brasil exportou 8% a menos que em abril de 2011. É a primeira queda nesse tipo de comparação desde novembro de 2009, quando o mundo ainda vivia o auge da turbulência econômica. De janeiro a abril deste ano, as exportações brasileiras subiram só 2%, uma brutal desaceleração frente a alta de 17,5% acumulada em 12 meses.
Os planos de austeridade adotados pelos governos da Europa fizeram despencar investimentos, salários e geraram desemprego recorde. Na China, o ritmo da economia ficou mais fraco. O resultado é uma redução do consumo nas duas maiores regiões importadoras do planeta.
O pessimismo já levou a Organização Mundial do Comércio a cortar a previsão de crescimento das trocas globais em 2012 de 5% para 3,7%. O ano promete ter o segundo pior resultado em duas décadas. Em fevereiro, o comércio global contraiu 0,3%. Só 2009, o pior ano em sete décadas, com queda de 12% do comércio, foi mais negativo que 2012.
Tatiana Prazeres, secretária de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, admite que 2012 será um ano difícil para as exportações, mas ressalta que outros países também enfrentam a mesma situação, como África do Sul, Chile e Coreia do Sul. A previsão do governo é que as exportações brasileiras cresçam 3,1% este ano, muito abaixo da alta de 27% de 2011.
A queda na demanda global atingiu os volumes e os preços das commodities, avariando um dos motores do crescimento do comércio exterior do Brasil. Das 23 principais matérias-primas exportadas pelo País, 16 tiveram queda na quantidade embarcada e 18 redução nos preços. As exportações de produtos básicos caíram 7,2% no mês passado. O desempenho só não foi pior por causa dos preços recordes da soja e das vendas de petróleo.
As exportações brasileiras recuaram para quase todos os destinos importantes no mês passado, com exceção dos Estados Unidos, país que absorve cada vez mais petróleo do Brasil. As vendas caíram 2,9% para a China, 8,5% para a União Europeia e 17,3% para a América Latina.
Protecionismo. O Brasil vinha mantendo um bom desempenho nas vendas para a Argentina, principalmente de manufaturados. Nos últimos meses, esse canal de venda também foi comprometido. Em abril, os embarques caíram espantosos 27%, porque a Argentina adotou medidas protecionistas que quase fecharam seu mercado. O governo brasileiro está preocupado e deve se reunir esta semana com autoridades argentinas.
Veículo: O Estado de S. Paulo