A alta do feijão carioca foi de 12,66% no mês de abril
O preço do feijão dobrou nos supermercados do interior de São Paulo entre o final de março e começo de maio, a exemplo do que já ocorrera em Minas Gerais e no Paraná. O quilo do feijão carioca tipo1, que custava pouco menos R$ 3,00 no final de março, chegou aos R$ 6,00 nesta semana em supermercados de Bauru, Araçatuba e São José do Rio Preto, assustando as donas de casa. "Aqui o preço está em média a R$ 6,44 o quilo", diz o economista Hipólito Martins Filho, das Faculdades Dom Pedro 2º, que mede o índice da cesta básica em Rio Preto. "O pior é que a gente não tem o costume de trocar de alimento. A gente acaba pagando o preço", disse a dona de casa Orlandina Alves, de Araçatuba. "Até a semana passada o preço estava em R$ 5,00, agora está em R$ 6,20", disse ela.
Mas alta não foi só no interior. O produto também é o vilão no cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) nas capitais e regiões metropolitanas. De acordo IBGE, a alta do feijão carioca, o mais consumido no País, foi de 12,66% em abril, colaborando com a inflação dos alimentos, que dobrou na passagem de março (0,25%) para abril (0,51%).
O aumento - que acompanha alta no preço pago ao produtor - é causado pela falta de oferta do produto, cujas plantações foram impactadas pela redução das áreas de plantio e pela falta de chuvas durante o verão nas regiões produtoras do Paraná ao Piauí, afirma o pesquisador José Sidnei Gonçalves, do Instituto de Economia Agrícola (IEA). De acordo com o IEA, o preço da saca de 60 kg do feijão carioca pago ao produtor acumula alta de 76% nos últimos seis meses e de 52% no ano. No atacado, de acordo com o IEA, a alta é de 85,7% em seis meses e de 71% no ano para a saca de 60 kg. Por quilo, a alta é de 104% no ano no atacado.
"O que houve foi que o produtor, desanimado pela baixa remuneração do ano passado - o preço da saca de 60 kg chegou a R$ 45,00 para um custo de produção de R$ 82,00 - migrou para outras culturas, como soja e milho, cujos preços eram melhores", explicou Gonçalves. "E depois veio o veranico e também houve atraso no plantio, agravando ainda mais a situação", completou.
O resultado foi que a falta de feijão elevou o preço do produto, chegando a R$ 230,00 a saca até a semana passada. Nesta semana, o preço caiu para R$ 200,00, mas segundo Gonçalves as previsões de queda não são reais. Segundo ele, o preço deverá continuar em alta, especialmente por conta da quebra na safra causada pela seca que atinge as regiões produtoras do Nordeste (Bahia e Piauí), cuja produção abastece São Paulo. "Essas previsões são especulações. A falta de oferta vai continuar e se o consumo ficar em alta os preços podem até chegar aos mesmos níveis de 2008, quando a saca atingiu R$ 270,00", disse.
"Já estamos acostumados, é sempre assim: quando a gente não planta, o preço fica lá em cima, quando a gente planta, ele desce, sem contar dos problemas climáticos", diz o produtor Hélcio Roberto Heirich, que plantou cerca de 30 hectares de feijão na região de Avaré. "Hoje, os estoques estão nas mãos de atravessadores, que embalam o produto e ganham muito mais que os produtores", diz.
Veículo: Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba/SP