Inovações tecnológicas e exigências do mercado consumidor fizeram com que fruta melhorasse aparência e sanidade
Esteja o preço como estiver e independentemente da área cultivada, o bananicultor chegou a um ponto em que não é mais possível produzir sem qualidade. "Se não investíssemos numa fruta melhor não teríamos comprador", diz o fruticultor João Brianezzi Filho, que cultiva, junto com a esposa, Elisabete Ferreira de Freitas Brianezzi, 20 hectares de banana em Avaré (SP).
"O cliente nos cobra qualidade", confirma o agrônomo Leandro Piedade Damásio, da Sacramento Agropastoril, que produz, em Avaré, 2 mil toneladas anuais de banana em 40 hectares.
Basta relembrar que, há cerca de uma década, não dava para imaginar que aquelas tradicionais pintinhas pretas na casca não fizessem parte da banana. "Hoje, dificilmente o consumidor vai a supermercados e se depara com bananas pintadinhas - sinal de que a casca foi picada por um inseto minúsculo chamado tripes", diz o agrônomo Antonio Rangel, diretor-técnico da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de Avaré.
A região de Avaré vem se firmando como o segundo principal pólo bananicultor do Estado, com produção anual de 35 mil toneladas, em 1.100 hectares, atrás da região de Registro, no Vale do Ribeira, que em 40 mil hectares chega a colher 1 milhão de toneladas por ano.
Atualmente, explica Rangel, tecnologias como ensacamento dos frutos na lavoura - "Considerado uma loucura há uma década" - e a retirada do coração da bananeira logo que o cacho finaliza sua formação já garantem um bom controle do inseto e a boa granação de todo o cacho, "além de bananas sem manchas na casca".
CAIXAS PLÁSTICAS
Os cuidados com a qualidade começam no campo e vão até o embarque da fruta, acondicionada preferencialmente em caixas plásticas que evitam, no empilhamento, o contato da caixa de cima com as bananas da caixa de baixo. "Esse atrito resulta em manchas pretas na casca durante a climatização (amadurecimento controlado) das bananas", diz Rangel.
Se as caixas forem de madeira, antes de receber as frutas coloca-se um forro de plástico na parte interna, para evitar atritos. "Mesmo verde, a banana é sensível. Qualquer dano à casca fica marcado." As quinas da caixa de madeira também são mais altas para que elas, e não as bananas, suportem o peso do empilhamento.
Lavar a banana, outra prática impensável há alguns anos,também virou rotina e há tecnologia para isso: ganchos com distância de 50 centímetros, para evitar o contato de um cacho com o outro, suspendem e transportam os cachos separadamente até uma piscina com água, detergente neutro e sulfato de alumínio. Essa tecnologia foi importada pela Epagri, de Santa Catarina, dos plantios equatorianos, tradicionais em exportação, diz Rangel, da Cati.
Após a primeira lavagem, a penca é colocada sobre uma almofada de espuma e separada em buquês - pequenos cachos. Em seguida, vai para outra piscina com a mesma solução, cujo alumínio funciona como cicatrizante da parte cortada do cacho. Após limpos, os buquês são cuidadosamente acondicionados nas caixas.
Rangel, que tem 30 anos de pesquisa em bananas, conta que antes os cachos eram colhidos, deixados uns sobre os outros sobre palha no campo, ao ar livre. Depois, empilhados em caminhões abertos, que transportavam a fruta, sem lavar, direto para os centros consumidores. "Hoje as pencas são, ainda no campo, acondicionadas sobre espumas em carretas sem bordas laterais", diz. "Pôr um cacho sobre o outro, nem pensar."
Mudas livres de doenças
Plantas produzidas em laboratório são isentas de fungos e nematóides, pragas altamente problemáticas na banana
Mesmo com uma pequena produção de 600 toneladas por ano de banana, os Brianezzi não puderam ficar de fora da busca por mais tecnologia na lavoura. Com madeira reciclada e gastos de R$ 15 mil, instalaram na propriedade uma pequena packing house, onde as pencas chegam da lavoura - transportadas por carretas sem laterais e forradas de espuma -, são penduradas em ganchos e transportadas até a primeira piscina de lavagem. Passam pela primeira lavagem, pela separação em buquês, são novamente lavadas na piscina seguinte e acondicionadas nas caixas.
Elisabete, que tem todas as contas em detalhadas planilhas, diz que, este ano, o clima não ajudou e eles produziram 22 toneladas/hectare, ante a média normal de 30 toneladas/hectare. "Tivemos, em 2007/2008, prejuízo de R$ 10.500", lamenta a produtora, acrescentando que, este ano, quem segurou a onda foi o milho, em 7 hectares.
SEM RECUOS
"Adotar tecnologia para melhorar a qualidade do fruto logicamente aumentou os custos de produção", acrescenta João Brianezzi. "Mas não podemos voltar atrás e aplicar menos tecnologia." Tanto que, se o casal concretizar seus planos de aumentar a área de banana, tentará fazê-lo com mudas de laboratório, que são isentas de quaisquer tipos de doenças, sobretudo fungos e nematóides, os principais problemas sanitários da bananicultura.
Na Sacramento Agropastoril, que tem produtividade de 50 toneladas por hectare, sem irrigação, já é certo que haverá ampliação de área, e com mudas de laboratório. "Vamos plantar mais 60 hectares; a banana garante renda o ano todo", diz Damásio. Além de banana, a Sacramento produz em Avaré pêssego e ameixa, frutas sazonais.
Outro fator que, na visão de Rangel, da Cati, exigiu a tecnificação do bananicultor, seja o grande ou o pequeno, foi a chegada da sigatoka negra, a pior doença da banana, aos plantios paulistas. "Sem monitoramento semanal e aplicação correta de defensivos, o produtor pode perder tudo", diz Rangel. "A sigatoka expulsou o bananeiro da lavoura e manteve o bananicultor", compara.
Tanto na propriedade dos Brianezzi quanto na Sacramento o controle da sigatoka é rigoroso. "Monitoramos semanalmente", diz Damásio. "Fazemos aplicações, porém, só quando necessário. Chegamos à média de oito a nove aplicações por ano", continua, acrescentando: "Nas regiões equatorianas, o número de aplicações ultrapassa 50."
Na sexta, a Sacramento será palco de um workshop promovido pela Unesp de Botucatu, com o tema "Inovações Tecnológicas na Bananicultura", que terá início amanhã, em Botucatu, com palestras sobre o tema e, na sexta, terá visita técnica a produtores, conforme a organizadora, a professora Sarita Leonel, da Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais (Fepaf/Unesp).
Adensamento é opção de cultivo
No Vale do Ribeira, a principal região produtora do Estado, com 80% da safra, 40 mil hectares cultivados e colheita anual de 1 milhão de toneladas, além de todos os cuidados no tratamento da fruta como ensacamento e lavagem, outra tecnologia que avança, assim como em Avaré, é o cultivo adensado, informa o agrônomo Luiz Antonio de Campos Penteado, diretor da Cati Regional de Registro. "No plantio adensado, vão de 6 mil a 8 mil plantas por hectare, mas veja bem: isso funciona na várzea, não no morro, onde falta água", alerta. Depois, no desbaste, deixam-se de 2 mil a 2,5 mil plantas por hectare. "A alta produção da primeira safra ajuda a cobrir custos de instalação da lavoura", explica.
Veículo: O Estado de S.Paulo