Sobrepeso direciona setor têxtil para o mercado plus

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As confecções e as lojas estão de olho no plus size. Antes visto com cautela por parte dos empresários do setor têxtil e do varejo, o segmento está em franca expansão. É o que pode ser percebido nos estandes da Feira Nacional da Indústria da Moda (Fenim), que acontece até amanhã, no Serra Park, em Gramado. Quem produz ou coloca uma peça de tamanho maior em suas araras não tem do que reclamar. É a tal lei da oferta e da procura, afinal, o sobrepeso é tendência no Brasil, independentemente de faixa etária.

Além do estudo do IBGE, o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/Cetiqt), do Rio de Janeiro, está realizando um estudo antropométrico - definição de medidas anatômicas -,  para determinar um padrão médio de medidas do brasileiro, por região. O gerente de infraestrutura e capacitação da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Sylvio Napoli, adianta que dados preliminares apontam um crescimento de tamanho da população – seja em altura seja em peso. “É fato que o mercado vai crescer. Por conta disso, há uma preocupação do setor em aumentar toda a grade de tamanhos.” E hoje já há um aumento de produção dos tamanhos G e GG. Não à toa.

Demorou para a indústria e o comércio despertarem para o filão. Mas tem empresas já tradicionais no segmento grande. É o caso da Malhas Paniz, que há cerca de dez anos criou a marca de tamanhos grandes Adelaide Tricot. Adelaide Paniz, diretora da empresa, lembra que havia carência de produtos alinhados à moda.

Na primeira coleção, ainda cautelosa, Adelaide apresentou itens mais básicos e com cores escuras. “Até os lojistas tinham receio, mas os que compram uma vez sempre voltam”, assinala Adelaide. Com a aceitação do mercado, decidiu ousar. Hoje suas peças são coloridas e abusam de composições e aplicações. Tudo para fugir do lugar comum. “É um mercado muito fiel, mas mais exigente”, explica a empresária.

Criada há cerca de cinco anos, a linha plus size Rery Classic, de São Paulo, ultrapassou as vendas da Rery tradicional, e hoje responde por 70% da produção. Jini Hong, supervisora de varejo da Rery, afirma que também houve uma dificuldade inicial para convencer os lojistas a colocar tamanhos grandes em suas vitrines, e hoje a Classic é carro-chefe em todas as varejistas com as quais trabalha.

Lançada há exatamente um ano, a Miss L, de Florianópolis, superou as expectativas dos sócios Susie Hahn e Cleverton Almeida. Com experiência em confecção de mais de duas décadas, investiram no filão e só têm a comemorar. A produção que se esperava a médio e longo prazo, foi alcançada a curto prazo. Susie, que também é estilista, não faz as pesquisas no mercado plus size. “Adapto o que se vê nas passarelas, com bom senso, levando em conta as tendências de cores, tecidos e moda”, conta. Para ela, o fato de trabalhar com tecidos de alta qualidade, com modelagens confortáveis, é parte do segredo do sucesso. Apesar do rápido crescimento, Almeida afirma que prefere um ritmo menos intenso. “Nem tão rápido, nem muito devagar, queremos nos firmar dentro de um planejamento”, diz o empresário.
Varejo teve que vencer preconceitos antes de ofertar tamanhos grandes

Receio é um sentimento comum para quem ainda não trabalha com roupas de tamanhos especiais. Uma vez superada a barreira, no entanto, os resultados são excelentes. É o que garante a empresária Leonice Fatima Marques Zaguini, das lojas Vik, de moda feminina, e Ele Grande, masculina, de São José do Rio Preto (SP). Quando abriu a primeira loja, há 12 anos, ela lembra que só havia uma varejista na cidade focada neste público, mas com peças mais tradicionais. Não foi fácil encontrar fornecedores para abastecer as prateleiras das lojas com itens arrojados e modernos. Agora, Leonice afirma que a oferta é bem maior, principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

Já no início foi um boom no mercado, diz Leonice. Instalada em um shopping, a loja feminina fez um desfile que foi sucesso na mídia e fez a loja conhecida em toda a região. “As outras lojistas disseram que os manequins tamanho grande na vitrine iriam espantar as clientes, mas muita gente se assumiu como gordinha e foi comprar em minha loja.”

Fiel e que não economiza na compra são características desse perfil de consumidor. Claudia Vieira de Araújo, proprietária da Cláudia Fashion, localizada no condomínio Terra Ville, em Porto Alegre, concorda. Há 20 anos trabalhando com roupas para quem tem medidas maiores, Claudia diz que o mercado só cresce.

O mercado atrai novos lojistas. A proprietária das Lojas La Belle, de Gramado, Iara da Silva, pensa em comprar uma grade maior. Isso depois de ter esgotado em um curto prazo um estoque de camisas de tamanhos maiores que 44. “É uma frustração para quem quer comprar e para quem atende. As fábricas tinham que atender a esse público melhor, não existe pronta entrega para tamanho 54”, exemplifica.

Ao lado das boutiques, grandes redes como C&A também se entregaram às saliências mais generosas. Em abril deste ano, a marca colocou no mercado a primeira coleção do tamanho 44 ao 56: a Special for you. A estreia da coleção trouxe mais de 20 modelos. Com isso, se nota que o mercado dos grandes é um grande mercado, independentemente do porte da loja.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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