Varejo se mobiliza contra salvaguarda

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As principais redes do varejo têxtil nacional se articulam contra a adoção de medidas de salvaguarda para confeccionados chineses. Tais políticas estão na pauta de reivindicações da indústria têxtil e de confecções, que espera vê-las em prática ainda este ano. A Riachuelo prevê redução de margens, se a proteção for adotada. Já a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), diz que o problema afetará todo o setor.

A Riachuelo importou, em 2011, 17% do seu portfólio de confecções, de acordo com o gerente de Relacionamento com Fornecedores Reginaldo de Sousa. No passado, a empresa também fez uma tentativa de importar calçados, mas eles tiveram baixa aceitação pelo consumidor. "Quando houve a sobretaxação, já não importávamos, então não fomos afetados", afirma o executivo. Desde 2010, o Brasil adota tarifa antidumping para a importação de calçados chineses.

Segundo Sousa, a empresa produz nas fábricas do Grupo Guararapes 50% do que vai para as lojas. O que não é importado ou de fabricação própria é comprado de fornecedores nacionais. "Este ano, aumentou a participação de importados e terceirizados e diminuiu a da Guararapes. Estamos buscando diversidade", diz. Hoje são 348 os fornecedores, dos quais 200 são de confecção, conta Sousa. O número de fornecedores cresce cerca de 10% ao ano, para suprir o aumento do número de lojas - em 2012 é prevista a inauguração de 30 lojas, que se somarão às atuais 148.

"Se a salvaguarda vier, vai diminuir a importação, mas podemos aumentar a produção da Guararapes para compensar", diz Sousa.

A Guararapes está investindo é uma nova fábrica de jeans, em Fortaleza (CE), que deve começar a produzir no início de 2013. Mas a alternativa da substituição por produção própria pode ser difícil para a companhia, uma vez que, como o próprio presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, admitiu em entrevista à Tribuna do Norte, "a empresa cresceu enormemente nestes últimos dois anos e a produção da fábrica não a acompanhou. Não só não está acompanhando o crescimento da empresa, como também está perdendo espaço".

Conforme o gerente de fornecedores, se a Riachuelo tiver que recorrer a um aumento do fornecimento de terceiros nacionais, poderá, sim, sofrer redução das margens de lucro, devido aos maiores custos dos produtos brasileiros. Mas a dificuldade não será específica do grupo pernambucano, devendo atingir todo o setor varejista, segundo a Abvtex.

"Para algumas categorias de produto, o País não tem produção que possa abastecer o mercado interno; então, dependendo da salvaguarda, pode haver desabastecimento, por exemplo, de itens de inverno", diz o porta-voz da Abvtex. "Para outros produtos, de que o País tem produção, o pedido de salvaguarda pode resultar em aumento de preços, até porque o fornecedor nacional, com uma medida de segurança dessas, tende a recompor margens perdidas no passado."

Por uma política da entidade, os porta-vozes da Abvtex dão entrevistas apenas anonimamente, uma vez que a associação não possui um presidente, mas apenas um conselho diretor.

Preços

A entidade aponta que uma virtude da importação para o varejo é a possibilidade de usá-la como ferramenta de controle dos preços nacionais. "De alguma maneira, a importação aplaca a ânsia da cadeia nacional por reajuste de preço", diz o representante. A Abvtex está atuando junto ao governo federal, acompanhando a movimentação de pedidos de salvaguarda ou antidumping. Para ele, a indústria precisará comprovar a existência de um surto de importação, isto é, um aumento expressivo em curto espaço de tempo, e relacionar este surto ao dano ao mercado nacional. "Será difícil para a indústria de confecção comprovar este dano, devido à pulverização do setor", acredita.

Estudo encomendado pela entidade e pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) à consultoria Tendências mostra que o faturamento da indústria de confecção aumentou de US$ 29,3 milhões em 2006 para US$ 56,7 milhões em 2010. "Não há um processo de desindustrialização, como alega a indústria."

De acordo com a Abvtex, a participação do vestuário importado no consumo aparente (soma da produção com as importações menos as exportações) nacional é de 9,3%. Já nos grandes varejistas, esse índice varia de 15% a 30%.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o déficit da balança comercial têxtil e de confecções em 2011 foi de US$ 4,7 bilhões, 34% maior do que em 2010. Considerado apenas o vestuário, o aumento das importações foi de 60% no ano passado. De janeiro a maio de 2012, o déficit foi US$ 2,2 bilhões, alta de 18% sobre igual período de 2011, com avanço de 41% das importações de vestuário. A associação está formulando estudo, a ser entregue ao Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), para demonstrar a deterioração das condições de competitividade do setor.

O secretário-executivo do MDIC, Alessandro Teixeira, diz que o ministério aguarda a apresentação dos dados para se posicionar. Sobre a questão do equilíbrio entre os interesses da indústria e do varejo, afirma: "O governo sempre vai levar em conta toda a situação econômica".


Veículo: DCI


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