Flexibilidade, conhecimento e entrega de resultados contam na seleção dos executivos que ficarão na nova empresa
Nos últimos 10 anos, PauloMacedo trabalhou em cinco empresas diferentes sem nunca ter encaixotado os seus pertences.O executivo é o que se pode chamar de “sobrevivente” a fusões e aquisições. A história começa com a sua chegada à empresa de bebidas canadense Molson que, logo em seguida, comprou a Kaiser.
Cinco anos depois, em 2007, foi a vez da Femsa substituir o grupo controlador no Brasil. Em 2010, a empresa mudou de mãos novamente: passou para os holandeses da Heineken. Nessa dança das cadeiras dos acionistas,Macedo não ficou parado.
A cada mudança, as responsabilidades do executivo aumentaram—no início era diretor de comunicação e hoje é vice-presidente de um dos maiores conglomerados do setor de bebidas do mundo. Assim como Macedo, Theo Pinheiro também é figurinha marcada na equipe escolhida para ficar no escritório de publicidade que passou por quatro operações de aquisição e fusão.
O publicitário começou na Dez Propaganda que passou a se chamar Energia, Dez Brasil e ainda Energy. Hoje, se chama VML. Esses casos são curiosos por serem, na maior parte das vezes, exceções. Quando companhias passam por uma fusão ou aquisição, o mais comum é que, em caso de duplicata de cargos, ocorram demissões. Portanto, o que os dois executivos têm em comum que explicam a permanência deles?
Especialistas dizem que a flexibilidade a mudanças, os conhecimentos sobre o setor e a empresa, além dos resultados apresentados nos últimos anos são os fatores que mais pesam na balança, na hora de definir o novo quadro de funcionários da companhia. “Portanto, não se precipite, apenas demonstre a sua competência. O melhor é não pedir demissão, e esperar ser escolhido ou não.
Se a situação não for insuportável, é melhor aguardar ser, eventualmente, demitido pois, neste caso, o executivo terá direito a benefícios como a retirada do FGTS”, recomenda Gilberto Guimarães, gestor de carreiras
O conselho é dirigido às centenas de executivos que estão com medo de perderem o emprego depois das 86 operações de fusões e aquisições que ocorreram no Brasil apenas em maio, segundo a consultoria PwC.
Este é o segundo maior número da história, atrás apenas de dezembro de 2010 que apresentou 95 transações. Izabel de Almeida, managing partner da Thomas Case&Associados/ Case Consultores, diz que é natural as pessoas sentirem medo das mudanças. Por isso, não é raro que executivos optem por não ficar na empresa, mesmo quando são convidados a ficar.
O importante, segundo Ana Guimarães, gerente da divisão de mercado financeiro da RobertHalf, é perguntar exatamente quais são as expectativas e planos da nova companhia. Assim, é possível identificar se eles são compatíveis com a trajetória que o executivo pretende seguir.
Macedo, da Heineken, sempre aproveitou esses momentos para propor novas responsabilidades. “Ao longo desses anos, por mais que a empresa fosse a mesma, sempre encarei como novo emprego”, afirma. “Colhemos o que plantamos. A época de plantio é o que dá a base sólida — a formação acadêmica e os conhecimentos de mercado. Depois, é importante saber que não existe cultura certa e, sim, diferente. É preciso ter capacidade de absorver novas culturas de forma rápida. E o mais importante: se não trouxer resultado de curto prazo, não fica na empresa”, diz.
Macedo acrescenta que uma armadilha que os executivos precisam ter cuidado é com a zona de conforto. “Não quer dizer que a pessoa escolhida vai ficar lá para sempre. Eu acredito que posso crescer com a Heineken. Esse é o meu novo objetivo".
Veículo: Brasil Econômico