A Moleskine, fabricante italiana dos blocos de notas de mesmo nome, testará um mercado
volátil, ao tentar converter o crescimento rápido e altas margens de lucro em uma oferta
pública inicial de ações (IPO) no quarto trimestre.
O valor dos papéis postos à venda será de pelo menos € 250 milhões, segundo uma pessoa
envolvida no planejamento do IPO. Isso tornará a oferta maior que a da Brunello
Cucinelli, especialista em cashmere, que vendeu cerca de € 160 milhões em ações em abril,
no único IPO italiano neste ano.
A Moleskine se empenhará em convencer os investidores de que há um futuro promissor para
os seus cadernos "especiais", baseados em originais supostamente usados por artistas e
escritores, como Pablo Picasso e Ernest Hemingway, e que custam pelo menos US$ 10. A
empresa diversificou seu mix com bolsas, canetas e lápis, acessórios para leitura e
álbuns. Cerca de 30% de suas receitas vêm, agora, de itens não confeccionados com papel.
Uma decisão de última hora de cancelar o IPO ou um mau começo na bolsa de valores não
teria um efeito negativo sobre a Moleskine, diz seu executivo-chefe, Arrigo Berni. Ele
tem certeza de que a empresa poderá continuar a ampliar sua receita em 25% ao ano no
futuro próximo, ao mesmo tempo em que mantém sua margem de lucro bruto em cerca de 40%.
"Nossa marca é forte e o fluxo de caixa é suficiente para atender nossos planos de
crescimento sem quaisquer recursos do IPO. Por isso, não estamos preocupados com o que
acontecer no mercado, porque vamos manter as margens e taxas de crescimento", afirmou
Berni ao "Financial Times".
Apesar das condições difíceis do mercado, a Syntegra Capital, empresa de "private equity"
que é dona de 68% da Moleskine, deseja resgatar parte de seu investimento, porém mantendo
uma participação significativa após o IPO, previsto para o fim de outubro.
A Moleskine está tentando imitar os dois únicos IPOs no mercado italiano nos últimos 18
meses: da Salvatore Ferragamo e da Cucinelli Brunello, fabricantes de artigos de luxo. As
ações da Ferragamo valorizaram 80% desde seu IPO, um ano atrás, e as da Cucinelli têm
alta de 44% desde seu lançamento em abril. "Tudo dependerá das condições do mercado e
voltar atrás é sempre uma possibilidade, porque os mercados estão esquizofrênicos", diz
Marco Ariello, sócio na Syntegra. "Você tem uma janela - veja o caso da Cucinelli -
depois a janela se fecha, por isso é importante estar preparado para a oportunidade."
Os bancos Goldman Sachs, UBS e Mediobanca comandarão a venda das ações da Moleskine.
A Modo&Modo, uma pequena editora de Milão, criou a marca Moleskine em 1997 para trazer de
volta os famosos cadernos. A SG Capital Europa, hoje Syntegra, comprou a Modo&Modo e a
marca Moleskine em 2006,e no ano seguinte renomeou a empresa, que passou a chamar-se
Moleskine. A Index Ventures, com sede em Milão e segunda maior acionista da Moleskine
detém 15%, sendo o restante dividido entre Francesco Franceschi, fundador da Modo & Modo
e seus gestores.
Com a compra da participação pela Index em 2011, o valor da Moleskine ficou em € 200
milhões, mais de três vezes os € 62 milhões que a SG Capital Europe pagou à Modo&Modo em
2006, quando a empresa tinha menos de 20 funcionários e um faturamento de € 20,8 milhões.
A Moleskine hoje tem 120 funcionários e em 2011 obteve um lucro operacional de € 28,6
milhões sobre receitas de € 66,6 milhões.
Os Estados Unidos são o maior mercado da Moleskine e absorvem 30% de suas vendas. Depois
vêm a Itália e a Alemanha, com 14% cada uma. O Reino Unido é o quarto, com 10%.
A Moleskine tem, tradicionalmente, usado pontos de venda dentro de outros varejistas, mas
agora está testando suas próprias lojas. As três primeiras lojas foram inauguradas em
2011 na China e Berni diz que o país poderá ter até oito lojas até o fim do ano. As
únicas lojas fora da China foram as abertas no mês passado em Milão e Roma. Se elas
tiverem êxito, mais lojas serão abertas em outros países. "Não há varejista capaz de
manter (em estoque) todos os nossos 750 produtos, e é por isso que acreditamos haver uma
oportunidade para explorar o varejo mediante a operação de nossas lojas próprias", disse
Berni.
Veículo: Valor Econômico