O clima adverso, com chuvas fora de época que ainda atrasam a colheita e prejudicam a
qualidade do café, tem "tirado o sono" da Cooperativa de Cafeicultores de Guaxupé
(Cooxupé), no sul de Minas Gerais, que está cautelosa em firmar contratos de exportação
de longo prazo diante do receio da redução de oferta de produtos finos.
Joaquim Libânio, diretor de exportação da Cooxupé, diz que o grupo pretende negociar um
volume maior após a colheita terminar, em setembro, para "ver" efetivamente o que foi
colhido. Por enquanto, não estão sendo fechados contratos para entre setembro e junho do
ano que vem, quando termina a safra 2012/13. "Não posso me comprometer a entregar
qualidade de café fino, não vamos ser agressivos".
Segundo Libânio, os compradores podem migrar a procura para outros países, como Peru e
Honduras, mas não têm muita opção, pois o Brasil representa 35% dos embarques mundiais.
E, em virtude das incertezas, os próprios importadores também estariam receosos em firmar
contratos de longo prazo com torrefadores. Libânio diz que, nesse contexto, a meta de
exportação da Cooxupé para este ano - 2,9 milhões de sacas, 18% mais que em 2011 - poderá
ser revista. A Cooxupé é a maior cooperativa de café do mundo e foi a maior exportadora
do produto do país no ano passado.
Nas regiões pesquisadas pela cooperativa - Sul de Minas, cerrado mineiro e Vale do Rio
Pardo, em São Paulo -, 21,4% da área total foi colhida na semana passada. Historicamente,
a colheita teria atingido 37% neste período. E cerca de 15% a 20% do café caiu no chão.
Com mais umidade, esses grãos podem fermentar, embora alguns já estejam levemente
estragados. Libânio disse que ainda é cedo para saber a redução da produção de cafés
finos. "O volume ainda não é significativo", explica ele.
A Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso (Cooparaiso), na
Mogiana mineira, adotou uma estratégia conservadora mesmo antes de as chuvas atingirem os
cafezais. Os cafés finos serão vendidos no mercado de balcão e os contratos de longo
prazo já foram firmados prevendo um padrão "médio" de qualidade do café, conforme
Francisco Ourique, superintendente do Departamento de Café da cooperativa.
A Cooparaiso arquitetou o plano de triplicar as exportações este ano frente a 2011, e,
segundo Ourique, já foi conservadora e um pouco "defensiva" na definição da qualidade do
grão a ser embarcado. A cooperativa pretende exportar 200 mil sacas em 2012, das 1,5
milhão que deverá receber de seus cooperados. Do total previsto para ser vendido ao
exterior, dois terços já estão comprometidos. "Vamos conseguir honrar os compromissos".
Ourique acredita que a safra da região da Mogiana mineira terá apenas entre 10% e 15% de
café de altíssima qualidade. E também poderá haver redução de volume. A colheita chegou a
20% na região de atuação da Cooparaiso, quando o normal para este período do ano é um
índice de cerca de 35%.
No total, as exportações brasileiras de café continuaram a recuar em junho. Foram
embarcadas 1,7 milhão de sacas de 60 quilos no mês, 7,2% menos que em maio e 23,5% abaixo
de junho de 2011, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O
diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Guilherme Braga,
observa que a queda já era esperada. Historicamente o país embarca pouco café da nova
safra em junho. O mês costuma ser suprido com "saldo" do grão da temporada anterior -
que, no caso de 2011/12 foi menor que no ciclo anterior (2010/11).
Ele acredita que o atraso da colheita atual, reflexo das chuvas, vai se refletir nos
embarques de julho. "E quanto menor a oferta, haverá a participação maior de cafés de
qualidade inferior", afirma. A lacuna que for deixada pelo Brasil no mercado
internacional dificilmente será suprida por outros países em função da entressafra na
América Central, tradicional fornecedora de cafés arábicas colhidos a partir de novembro.
Braga observa que esta safra 2012/13 não transcorrerá "tranquilamente" como as duas
últimas, sem problemas climáticos significativos. "Acendeu uma luz amarela", resume.
A previsão dos meteorologistas é que a situação se normalize nas próximas semanas.
Entretanto, mais chuvas podem ocorrer em setembro, durante o fim da colheita.
Veículo: Valor Econômico