As ações do governo para reaquecer a economia direcionadas ao consumo interno, como desoneração fiscal para linha branca e móveis, ampliação do salário mínimo e mais crédito à população começam a surtir resultados e o varejo parece ser o primeiro a ver os efeitos. Tudo indica que o segmento pode retomar a curva de crescimento este ano.
Mesmo com altos índices de inadimplência, o comércio varejista faturou R$ 16,8 bilhões em maio, um crescimento de 6,9% em relação ao igual período de 2011, um recorde para o período, além de ser o maior crescimento do mês desde 2007. Além disso, a empresa líder no setor, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), comemorou esta semana o triplo do lucro líquido no segundo trimestre, ante igual época do ano anterior, ao alcançar R$ 255 milhões - dado que deve ser levado em consideração, dizem analistas.
Apesar da luz no fim do túnel em que alguns segmentos do varejo, como o supermercadista que pode divulgar projeção de retomada do crescimento nas próximas previsões, apoiado ainda no calendário do segundo semestre, em detrimento dos índices anterior de desaceleração, consultores criticam a postura do governo em apoiar a busca pelo crescimento da economia apenas no consumo interno.
De acordo com Luís Henrique Stockler, sócio da consultoria de varejo baStockler, "ainda que daqui até o final do ano o País tenha um varejo ótimo, para o investidor de longo prazo isso não será muito impactante". O especialista afirma que apesar de o primeiro trimestre ter sido ruim, o segundo não o foi, e o varejo voltará a ter desempenho expressivo. "O governo e o Ministério da Fazenda têm apostado na retomada do PIB e agido apenas em cima do consumo. Mas isso não é plausível. A indústria não está preparada para essa retomada no varejo, e deverá voltar a importar. Em longo prazo, a economia deve sentir efeitos das ações do governo", declarou ao DCI.
Outro indicativo do mercado apontado pelo analista refere-se ao desempenho da economia no ano que vem. A perspectiva é que a proximidade da Copa do Mundo ajude na expansão nacional.
Com relação aos dados de recorde do setor, apontados pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), os impulsionadores desse índice positivo - em maio - foram os supermercados, com crescimento de 6,2%, e as lojas de eletroeletrônicos, com vendas 31% maiores no período analisado. Juntos, os dois segmentos responderam por 51,5% do crescimento.
Para Martinho Paiva, diretor de economia da Associação Paulista de Supermercados (Apas), o desempenho pode se repetir nos próximos meses. "O padrão deve ser verificado. O setor supermercadista tem apresentado crescimento nos últimos anos acima das demais atividades econômicas e até mesmo do Produto Interno Bruto [PIB]", disse ele.
Ainda segundo informações levantadas pelo economista, o aumento do salário mínimo e outros fatores podem agir positivamente neste cenário.
"As variáveis macroeconômicas em 2012 são menos favoráveis que 2011 e o ambiente macroeconômico também. Mas a manutenção do ambiente favorável no mercado de trabalho e o reajuste do salário mínimo em 2012 serão os fatores que determinarão o desempenho neste ano", estima Paiva.
Desempenho
Na comparação das vendas de maio, devido ao Dia das Mães, com o mês anterior, o avanço foi de 7,1% e, no ano, o indicador acumula alta de 4,4%. Ainda com dados da Fecomércio-SP, esse é o melhor índice do varejo desde novembro de 2010 e o maior registrado em maio nos últimos cinco anos. Farmácias e perfumarias e o comércio eletrônico (e-commerce) também tiveram bons resultados no período, faturando 29,6% e 10,1% a mais do que em maio de 2011, respectivamente. Na outra ponta, as lojas de departamento e de vestuário, tecido e calçado faturaram 4,2% e 3,5%, índices menores a que os do ano passado.
Outro setor que teve um desempenho melhor no mês de maio foi o comércio automotivo com incremento de 5,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, contribuindo com 20,5% do crescimento da PCCV.
Para Claudio Felisoni, presidente do Programa de Administração do Varejo (Provar), o setor não deixará de crescer e estará mais contido ao longo deste ano, o que pode se estender até 2013. "Haverá crescimento, sim, mas a aceleração é que vai mudar", explica o especialista. Felisoni acha arriscado o governo continuar projetando crescimento baseado apenas no comércio e consumo interno e a tendência é de que o Natal seja razoável ao setor. "Não será igual aos anteriores, mas não significa que será péssimo", diz.
Veículo: DCI