A expectativa de redução da oferta de trigo no Brasil na próxima safra já eleva o preço do cereal no país.
Ontem, o valor médio da saca de 60 quilos subiu 3%, para R$ 29,59, segundo pesquisa da Folha. Neste mês, a valorização é de 7,5%; no ano, é de 17,5%.
Os produtores reduziram a área de trigo em 12,6% na safra 2012/13, cujo plantio está praticamente concluído, segundo a mais recente estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Os baixos preços praticados na safra anterior e a migração de alguns produtores para o milho safrinha explicam a menor área plantada.
O clima está favorável ao desenvolvimento das lavouras, mas não será suficiente para evitar queda de 13% na produção, segundo a Conab.
A situação na Argentina, principal fornecedor de trigo para o Brasil, preocupa ainda mais. A área plantada caiu 22%, para 3,6 milhões de hectares, segundo a Bolsa de Cerais de Buenos Aires.
A política do governo argentino para as exportações e o clima seco desestimularam o plantio. Com a produção em baixa, o preço de exportação do trigo argentino sobe 19% neste mês (até o dia 24) e 41% no ano.
A dependência da Argentina faz os preços internos reagirem. "A alta no mercado interno reflete os preços na Argentina", diz Renata Moda, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O Brasil importa metade do trigo que consome. Do total importado, 90% vem da Argentina.
A seca nos EUA, que fez o trigo subir 21% em Chicago em 30 dias, também estimula a alta na América do Sul.
Para o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná, Marcelo Vosnika, a redução dos estoques do governo manterá os preços em alta até o próximo ano.
"Os leilões públicos das últimas semanas seguram a alta maior do trigo. Mas o governo não terá estoque para repetir o movimento em 2013." Ao final da próxima safra, haverá 1 milhão de toneladas estocadas, suficientes para menos de um mês de consumo interno.
Veículo: Folha de S.Paulo