Marca mais cara da calçadista Grendene, a Melissa deve começar a se expandir no varejo, depois de anos com atuação mais restrita ao canal de atacado. Hoje são apenas duas lojas exclusivas, mas estudos preliminares da Grendene indicam potencial para até 200 lojas só da Melissa em cinco anos, diz o diretor de relações com investidores da companhia, Francisco Schmitt.
O primeiro passo para atingir essa meta já foi dado. Há dez dias, a Grendene firmou um memorando de entendimentos para se tornar a franqueadora da rede Jelly. Com 42 lojas, a Jelly vende apenas calçados Melissa, mas, até então, atuava de forma independente da Grendene.
No ano passado, a Jelly comercializou 620 mil pares de Melissa. Dentro do total de vendas da Grendene no período (107 milhões de pares no mercado interno), o volume é pouco expressivo. Porém se torna representativo se considerada apenas Melissa, diz Schmitt. "Se atingir as 200 lojas exclusivas em cinco anos, é muito provável que a operação de varejo da Melissa fique maior do que o canal atacadista da marca", comenta.
A Grendene não divulga a fatia isolada de vendas de cada uma de suas marcas (Melissa, Rider, Ipanema, Grendha, Ilhabela e Grendene Kids). Schmitt informa apenas que, hoje, o tíquete médio da Melissa é de cerca de R$ 115, bastante superior ao tíquete médio de todas as marcas da companhia juntas, algo em torno de R$ 35.
O fortalecimento no varejo com a Melissa, segundo o executivo, é estratégico para Grendene, que sente necessidade de acompanhar mais de perto o seu consumidor. Com o controle das franquias, a companhia tem acesso rápido às respostas dos seus clientes e, portanto, consegue ofertar um mix de produtos cada vez mais acertado. "Além disso, sabemos que a experiência de compra é hoje tão importante quanto o produto oferecido", comenta.
Ainda não está definido se as próximas franquias abertas serão com as bandeiras Jelly ou Melissa. "Existe a possibilidade também de trabalharmos com as duas bandeiras ao mesmo tempo", conta.
No segundo trimestre, o lucro líquido da Grendene ficou em R$ 59,5 milhões, alta de 61,4% em relação a um ano antes. Na mesma comparação, a receita líquida subiu 35,2%, para R$ 330,5 milhões. Os números foram divulgados na noite de ontem.
Schmitt considerou o resultado "muito bom", mesmo assumindo que a base de comparação é atipicamente pequena. "De fato, não tivemos resultados bons no segundo trimestre do ano passado. As vendas caíram", diz.
Uma combinação de fatores justifica a retomada das vendas da calçadista agora. Com bastante exposição às classes C e D, a Grendene sente imediatamente os impactos de medidas como o aumento do salário mínimo. Ele considera também que, por ofertar produtos de tíquete baixo, a companhia pode ter absorvido consumidores de categorias mais caras, mais dependentes de crédito e diretamente afetadas pelo alto endividamento das famílias. "Nos Estados Unidos, eles chamam de 'efeito Walmart'. Quando há uma crise, as vendas do Walmart crescem mais porque é mais barato."
No mercado interno, a Grendene teve vendas brutas de R$ 322 milhões, em alta de 26,2%. No externo, o faturamento subiu 76,1%, para R$ 94,7 milhões. Em número de pares, as exportações cresceram bem menos (4,2%), reflexo da estratégia da companhia de crescer em produtos de maior valor agregado no exterior.
A Grendene registrou ganhos de rentabilidade na sua operação. Em boa parte, devido à diluição de despesas fixas diante do aumento das vendas, mas também a partir de melhorias de processos internos, explica Schmidt. A margem bruta avançou 6,8 pontos percentuais, para 41,8%, e a Ebitda subiu 7,3 pontos percentuais, para 12%.
Veículo: Valor Econômico