O aumento nos estoques mundiais de celulose de fibra curta, uma especialidade dos produtores brasileiros, em junho, acendeu a luz amarela na indústria e poderá ter implicações negativas nos preços praticados no segundo semestre, na avaliação de analistas que acompanham o setor.
De acordo com levantamento mensal do Conselho de Produtores de Papel e Celulose (PPPC), os estoques globais da matéria-prima, considerando-se as fibras longa e curta, avançaram um dia no mês passado, em relação a maio, para 34 dias de abastecimento, ligeiramente acima da média histórica de 33 dias.
No caso específico da celulose de fibra curta, os estoques mundiais mostraram alta mais forte, de 4 dias, para 40 dias - frente a média histórica de 37 dias. Essa foi a primeira vez, desde novembro do ano passado, que os estoques desse tipo de celulose ficam acima da média histórica, lembraram em relatório os analistas Marcos Assumpção e André Pinheiro, do Itaú BBA.
"Em nossa avaliação, os dados do PPPC trazem algumas implicações negativas para os produtores latino-americanos (particularmente para os brasileiros, que são dedicados à fibra curta)", afirmou em relatório o analista Josh Milberg, do Deutsche Bank.
Para o especialista do Deutsche, esse cenário pode dar fôlego aos compradores de celulose nas negociações de preço e confirmar a expectativa de cotações mais baixas para a fibra curta no segundo semestre.
Em julho, os preços de referência da celulose de fibra curta permaneceram em US$ 860 a tonelada na América do Norte, US$ 800 a tonelada na Europa e US$ 700 por tonelada na Ásia.
Para os analistas Thiago Lofiego e Karel Luketic, do Bank of America Merrill Lynch, embora os estoques tenham mostrado deterioração, não há sinais de grande desequilíbrio na relação entre oferta e demanda, de forma que os preços não deverão recuar mais que US$ 30 ou US$ 50 por tonelada no curto prazo, com possibilidade de recuperação no quarto trimestre.
Na avaliação dos analistas, a alta nos estoques de fibra curta indica que houve movimento de substituição desse tipo de matéria-prima pela fibra longa, diante da menor diferença de preços. Nos últimos cinco anos, a tonelada da fibra longa custava, em média, US$ 100 mais do que a curta. Hoje, essa diferença caiu a US$ 30 por tonelada.
Para os especialistas do Itaú BBA, esse fator e o declínio dos preços do papel na China e na Europa devem contribuir para que os preços atuais da fibra curta não se sustentem. "Acreditamos que os preços da celulose provavelmente negociarão de lado no segundo semestre", disseram em relatório.
O PPPC informou ainda que os embarques mundiais de celulose recuaram 2,9% em junho ante maio, para 3,45 milhões de toneladas, influenciados sobretudo pelo menor apetite chinês. Na comparação anual, a queda foi de 5,5%.
Veículo: Valor Econômico