Bicho de casa movimenta R$ 18 bi

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O mercado voltado para cães, gatos, peixes e outros animais domésticos já movimenta mais dinheiro no Brasil do que um dos mais tradicionais setores da economia, o de linha branca. As vendas de fogões, geladeiras e lavadoras de roupa somaram R$ 17,9 bilhões em 2011, segundo a consultoria GfK. O mercado de produtos e serviços para bichos de estimação atingiu R$ 18,2 bilhões de faturamento, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Animais de Estimação (Abinpet).

"Ninguém mais pode chamar o nosso mercado de supérfluo", diz José Edson Galvão de França, presidente da Abinpet. O Ministério da Agricultura criou a Câmara Setorial Pet para abrir um canal de diálogo entre empresários e o governo e discutir legislação, políticas públicas e carga tributária (o setor paga até 49,9% de imposto sobre produtos e serviços).

"O mercado 'pet' é muito mais do que ração e medicamentos", diz Paulo Márcio Mendonça Araújo, coordenador das câmaras setoriais do Ministério da Agricultura. Será feito um censo para mapear a população de animais domésticos em áreas urbanas e rurais. Para a Abinpet, há 101 milhões bichos de estimação no país. A publicação da portaria no Diário Oficial da União que institui a câmara setorial será feita em outubro.

Em 2011, o Brasil passou à frente do Reino Unido e da França, tornando-se o segundo maior mercado "pet" do mundo, atrás dos Estados Unidos. "Empatamos em valor com o Japão, que tem apenas um décimo do total de animais que nós temos", diz França. Este ano, segundo a Abinpet, o setor deve movimentar R$ 21 bilhões, com expansão de 15,5%.

"Os segmentos de serviços e comércio de animais estão puxando o aumento das vendas", diz. A Abinpet começou a contabilizar o comércio de animais apenas em 2011 e o setor de serviços cresce em importância a cada ano. Em 2010, representava 8% do faturamento total. No ano seguinte, 11%, este ano, segundo França, deve ultrapassar os 15%. Em serviços, a oferta vai muito além dos tradicionais banho e tosa. "Estamos falando de profissionais pagos para passear com cães, ser babá de gatos e até de estabelecimentos em que os donos deixam os animais para passarem o dia, enquanto trabalham, as creches", diz França.

A veterinária Vanessa Requejo é proprietária de duas unidades que servem de hotel e creche para animais domésticos na capital paulista, a Cãominhando: "Comecei oferecendo o serviço de 'pet sitter' [babá] quando ainda estava na faculdade, nos anos 90, mas a procura foi aumentando e criei a creche". Ela também tem uma clínica veterinária. Na creche e hotel, os bichinhos vivem soltos, não ficam presos em gaiolas, como em outros hotéis.

"Só admitimos animais castrados e que tenham passado por uma adaptação para ingressar na creche", diz Vanessa. Uma das unidades, no Butantã, zona oeste de São Paulo, atende apenas cães de pequeno porte e gatos. Enquanto outra, na Granja Viana, zona sul, é voltada para cães de porte médio e grande. Um dia inteiro de creche, serviço mais usado por donos de cachorros, já que os gatos não são muito afeitos a deixar o lar, sai por R$ 190. Já a babá, que atende principalmente gatos, sai por R$ 70 a hora. A empresária Juliana Gomes, dona de duas cadelas lhasa, faz questão de deixar os bichinhos na creche quando tem festa em casa. "É melhor assim, para não estressar os animais, nem os convidados", diz Juliana, que gasta, em média, R$ 350 por mês com as cachorrinhas. "Toda semana elas vão para a 'pet shop' e faço questão de escolher o banho mais perfumado, que dure uma semana", afirma.



Avanço do mercado atrai interesse de investidores


O crescimento do mercado "pet" no Brasil vem chamando a atenção de investidores. Fundos de investimento nacionais e estrangeiros estão em conversas com a Pet Center Marginal, uma das duas únicas redes de varejo de produtos e serviços para animais de estimação no país. Com sede em São Paulo, a Pet Center Marginal conta com 14 lojas no mercado paulista (incluindo capital, litoral e interior), enquanto a concorrente Cobasi, também paulista, conta com 15 pontos de venda.

O diretor da Pet Center Marginal, Sérgio Zimerman, afirma não ter interesse em vender o negócio agora, mas gostaria de ter um sócio que o ajudasse a crescer. "Só nos Estados Unidos, as duas maiores redes de 'pet center', a Pet Smart e a Petco, têm juntas quase 2,5 mil lojas, enquanto a Pet Center Marginal e a Cobasi somam menos de 30 lojas", diz Zimerman. "Isso dá uma medida de quanto o Brasil, segundo maior mercado mundial de 'pets', tem espaço para crescer".

Este ano, os fundos de investimento Monashees Capital, Tiger Global e Kaszek Ventures fizeram um aporte no PetSuperMarket, um dos maiores sites de vendas do segmento no país, criado há 12 anos. O valor investido não foi divulgado. Este mês, o site passou a se chamar PetLove.

O plano de expansão da rede Pet Center Marginal prevê a abertura de franquias em 2013. "A ideia é ter lojas de 70 m2 a 150 m2, que uma família possa tomar conta", diz Zimerman, que iniciou o negócio há 10 anos. Hoje, os "pet centers" têm de 1 mil m2 a 3 mil m2.

O empresário está investindo, este ano, R$ 11 milhões na abertura de três lojas e um hospital 24 horas, que vai funcionar a partir de setembro no Pacaembu, na zona oeste de São Paulo. "Já contamos com clínicas dentro dos 'pet centers', mas um hospital independente vai servir para consolidar a marca Pet Center Marginal", afirma. No local, será instalado um quiosque virtual, onde os donos de pets poderão fazer compras.

Segundo Zimerman, as vendas sob o critério "mesmas lojas" cresceram 15% no ano passado. Em 2013, o empresário planeja abrir quatro unidades. Este ano, a Pet Center Marginal lançou o programa de televendas, com entregas em até 12 horas. Na loja on-line da marca, a entrega pode chegar a três dias.

A concorrente Cobasi planeja inaugurar sete lojas nos próximos 12 meses. "Acreditamos que a oferta de novos produtos gerará demanda, independentemente de os indicadores apontarem para a redução do nível de consumo", diz Ricardo Nassar, diretor da Cobasi. O empresário aposta na substituição de itens de menor valor agregado para os de maior valor. Brinquedos interativos e rações "ultrapremium", feitas de produtos orgânicos, são duas grandes tendências de consumo na opinião de Nassar. "Também deve haver uma oferta cada vez maior de serviços de hotelaria, creche e treinamento para cães", diz ele.



Botica Animal entra na venda direta


O mercado "pet" ganha uma nova modalidade no Brasil: venda direta. Assim como as multinacionais de beleza Natura e Avon recrutam consultoras para oferecer um catálogo de produtos, a Botica Animal, que fornece suplementos e petiscos para cães e gatos, deu início em junho à formação de consultores da marca. "Já contamos com 150 revendedoras na Grande São Paulo", diz Fernando Pires, diretor da Botica Animal.

"É preciso que alguém treinado oriente o consumidor sobre o aspecto funcional do produto, que atua diretamente sobre a saúde do animal", diz Pires, ex-dono da marca de salgadinhos Fritex, pertencente à PepsiCo. Segundo ele, a meta é chegar ao fim do ano com 500 consultores. Os produtos também são vendidos na rede Cobasi.

O apelo de produtos funcionais, que contam inclusive com venda direta, é mais um capítulo no processo de "humanização" do mercado "pet". "À medida que os donos se preocupam mais com a saúde, querem que seus 'pets' sejam mais saudáveis e bem nutridos", diz Fabíola Perini, gerente de marketing da marca Purina, da Nestlé. No portfólio de Purina, vice-líder do mercado de ração para animais domésticos, há marcas como Proplan, Dog Chow, Friskies e Beneful.

Na Mars, líder do mercado de comida para bicho de estimação com as marcas Pedigree e Whiskas, a tendência é alimento para garantir a longevidade. "Eles querem que seus cães e gatos possam acompanhá-los por mais tempo na vida", diz José Carlos Rapacci, diretor de vendas da Mars.



Veículo: Valor Econômico


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