Corte do IPI não reduziu preços da linha branca

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Em vez de cair, geladeiras e máquinas de lavar sofreram reajustes para cima em julho



Quem acreditou na promessa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que os eletrodomésticos ficariam mais baratos com o corte de IPI percebeu que, em vez de cair, alguns preços subiram. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), geladeiras e máquinas de lavar tiveram os preços reajustados para cima em julho. A nota fiscal de fogões e móveis também mostrou aumento nos primeiros sete meses do ano, de acordo com o IBGE.

A inflação de eletrodomésticos e equipamentos calculada pelo instituto subiu 0,22% em julho sobre o mês anterior, ajudando a pressionar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Após o corte de IPI, as lavadoras ficaram 0,29% mais caras, com reajuste de 0,64% somente em julho. Já o preço dos fogões cresceu 0,42% de abril a julho e dos móveis, 0,13%. Em sentido oposto, o preço das geladeiras caiu 3,09% depois do pacote, mas registrou leve aumento de 0,09% no mês passado.

Os cortes de imposto para móveis e eletrodomésticos da linha branca foram anunciados no dia 26 de março deste ano. Ao custo de mais de meio bilhão de reais, o governo baixou o tributo industrial de lavadoras à metade, zerou o tributo sobre fogões e móveis e eliminou dois terços do IPI de geladeiras. A lógica por trás da medida era reduzir os preços para estimular o consumidor a ir às lojas, turbinando as vendas e a produção destes produtos. Com isso, a roda da economia acelera, impedindo demissões de trabalhadores.

Os números representam mais um revés para a sociedade em relação aos pacotes de estímulo ao consumo anunciados pelo governo no primeiro semestre. Outro problema foi a decisão da General Motors de criar um programa de demissão voluntária para 900 funcionários, apesar do corte de IPI de automóveis. Após reunião com executivos da companhia, Mantega considerou "muito bem-sucedido" o programa de estímulo às montadoras.

Os preços de eletrodomésticos vêm subindo porque as fábricas nacionais compram partes e peças no exterior, sofrendo com a desvalorização do real nos últimos meses, analisou Roque Pellizzaro, presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), que representa o varejo. "É praticamente certo que seja o câmbio, porque parte dos componentes da indústria é importada e o repasse de preço é inevitável", disse.

"Era esperado o reajuste de preço. Além disso, o importado puro perdeu competitividade com o produto nacional." Representante da indústria, a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros) não respondeu aos pedidos de entrevista do Estado feitos desde quinta-feira. A reportagem não conseguiu contatar o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez, ontem.

Procurado pelo Estado, o Ministério da Fazenda informou que "está acompanhando os dados do setor com atenção". Nos bastidores, a equipe de Mantega avalia que os impactos limitados, somados à queda na arrecadação de impostos, indicam que é chegado o momento de interromper o programa e focar em projetos de longo prazo, como a retomada de concessões de portos, ferrovias e rodovias à iniciativa privada.

Ao mesmo tempo, avalia o governo, a indústria ganharia competitividade via redução do custo da energia, depois do corte de encargos e impostos na conta de luz na renovação das concessões do setor elétrico, atualmente sob análise do Palácio do Planalto.


Veículo: O Estado de S.Paulo


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