Terno chinês domina vendas no Brasil

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Com peças produzidas a US$ 15 a unidade, graças à mão de obra e matéria prima barata, país asiático já tem 80% do mercado local


A roupa mais famosa do guarda-roupa masculino tem, cada vez mais, etiqueta asiática no Brasil. Com presença crescente nas vitrines brasileiras, o terno importado da China dobrou em volume de 2007 a 2011, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Somente no ano passado, a compra de modelos deste tipo de roupa chineses totalizou US$ 36,8 milhões.

O Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi) aponta que, em 2011, foram vendidos 8,2 milhões de ternos no País, entre nacionais e importados. A entidade não tem um número exato para cada procedência.

Custo e qualidade polarizam as discussões sobre os motivos que sustentam o aumento da participação das importações. Fabricante de Osasco, a Raphy Indústria Têxtil consolidou-se há cinco décadas na produção de camisas, mas decidiu importar ternos para venda há dois anos. Até o fim do ano passado, mais de 20 mil peças confeccionadas com tecido de poliéster com viscose chegaram ao Brasil pela empresa. Todas provenientes da China.

A diretora de produto da Raphy, Magda Gamberini, explica que a fabricação própria nem sequer foi cogitada. Segundo ela, os custos da produção nacional e a falta de mão de obra qualificada inviabilizam a atividade no País. "Mesmo com o dólar em alta, é mais compensador importar", assegura. Nos últimos 12 meses, a moeda americana saltou da faixa de R$ 1,60 para a casa de R$ 2,05.

Invasão. O presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho, critica o que classifica de "invasão chinesa". Para ele, as peças têm qualidade inferior e são forjadas em condições não competitivas - subsídios governamentais e a mão de obra barata, principalmente. "Eu gostaria de ver uma fábrica chinesa produzindo terno no Brasil. Não falta eficiência ou inteligência nos produtos brasileiros", argumenta.

Segundo Filho, os números mostram a convergência das exportações para o Brasil no período de retração dos mercados europeu e norte-americano. O presidente da Abit entende que o País se tornou um mercado atrativo diante da crise global.

Com tecido poliéster, o quilo do terno (uma peça tem, em média, 1,1 kg) fabricado na China custa cerca de US$ 15 (o equivalente a pouco mais de R$ 30), de acordo com a Abit.

O mesmo produto vindo de Portugal, ainda segundo a Abit, custa em torno de US$ 140 (quase R$ 290). Pelos cálculos da Raphy, o custo de uma peça equivalente, mas fabricada com tecido e mão de obra brasileira sai por R$ 80,00.

Preço. Sócio da rede de lojas Cia. do Terno, Bernardo Magalhães diz que a questão não se resume a preço. Trata-se, também, de qualidade.

"A indústria brasileira não oferece padrão", afirma. Para aqueles que criticam a qualidade do produto chinês, ele argumenta que "é preciso saber qual o objetivo da peça". "O produto para quem trabalha todos os dias é diferente daquele para uma data especial", diz.

O consultor de alfaiataria Maurício Messias pondera, de um lado, que é preciso ter cuidado para não superestimar o item estrangeiro.

Em compensação, ele lembra que o Brasil é carente de boas fábricas de tecido e peca na modelagem. "É mania de brasileiro não procurar um modelo no padrão do consumidor. Falta informação técnica", afirma.

Padronização. O consultor Maurício Lobo, do Senac Moda Informação, ilustra o problema da padronização com as calças jeans. Ele comenta que um tamanho 36 de uma determinada marca pode equivaler a 38 em outra. "Ninguém no Brasil consegue visualizar o que é um tamanho M", afirma. A comparação também se aplica aos ternos.

O profissional acrescenta que, além de incentivo aos investimentos, a qualidade brasileira ganhará fôlego quando houver uma transformação cultural.

"O processo industrial chinês é como a própria cultura do país. A padronização é um princípio que segue a lógica de comportamento local. Nesse sentido, o chineses estão sempre à frente", afirma.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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