Custo inviabiliza cultivo em Minas

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A crise nos preços da batata está atrelada à redução do consumo do produto e a maior oferta no mercado


Os preços desfavoráveis pagos pela batata produzida em Minas Gerais, desde o ano passado, têm desestimulado a produção do Estado e comprometido a rentabidade dos bataticultores. De acordo com as informações da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), a produção prevista para este ano será de 1,2 milhão de toneladas, queda de 5,8% frente ao volume gerado em 2011.

Para o coordenador da assessoria técnica da Faemg, Pierre Santos Vilela, o excesso de produção é o principal fator que vem contribuindo para a manutenção dos preços em baixa. Em julho, os produtores receberam, em média, R$ 22 pelo saco de 50 quilos do produto, valor insuficiente para cobrir os custos. Em média, o custo para produzir 50 quilos é de R$ 35, dependendo do sistema e da tecnologia ampliada.

"Os produtores mineiros estão desestimulados e, caso a situação persista, a tendência é de nova redução na produção. Não conseguimos definir bem os rumos do cultivo, uma vez que o mercado está muito instável e é grande a oscilação dos preços. Além disso, os bataticultores estão migrando para outras culturas mais lucrativas, como o feijão, que no Alto Paranaíba já é tradicional e é produzido em sistema de irrigação ao longo da seca", disse Vilela.

Os dados da Faemg apontam ainda que a área destinada à cultura ficou 6,1% inferior à reservada em 2011. Ao todo serão direcionados ao cultivo da batata 39 mil hectares. Minas Gerais é o principal produtor do tubérculo do país, respondendo por 35% da safra nacional. As principais regiões produtoras são o Alto Paranaíba, que representa 45% da produção mineira, e o Sul de Minas respondendo por 44%.


Gargalos - Além dos preços baixos, a cultura enfrenta outros gargalos. De acordo com o coordenador técnico Estadual de Olericultura, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Georgeton Silveira, os gastos com a manutenção da produção são altos. O custo para o cultivo de um hectare de batata, por exemplo, varia de R$ 20 mil e R$ 30 mil.

Outros problemas citados pelo coordenador são a mão de obra no meio rural, que está cada vez mais escassa e valorizada, e a comercialização de batata para mesa, principal destino da batata in natura produzida no Estado. Segundo Silveira, existe a dificuldade em relação ao equilíbrio da oferta para o atacado, já que não há uma programação da produção no país gerando, em certas épocas, uma superoferta do produto e como conseqüência a queda generalizada dos preços praticados.

No Sul de Minas, segundo o engenheiro agrônomo e secretário-executivo da Associação dos Bataticultores do Sul de Minas (Abasmig), José Daniel Rodrigues Ribeiro, a produção de batata na região deverá cair cerca de 20% neste ano. Um dos principais fatores que promoveram essa queda foram os preços baixos que vêm sendo praticados ao longo dos últimos dois anos.

"Estamos vivendo uma crise profunda devido ao prejuízo causado pelos baixos valores pagos pela batata. Muito produtores da região estão desistindo da cultura e investindo em outras atividades", disse.


Preços - A crise nos preços está atrelada à redução do consumo do produto in natura e a maior oferta no mercado. De acordo com Ribeiro, há 10 anos o consumo per capita anual de batata no Brasil era de 15 quilos, e hoje está em torno de 8 quilos, enquanto isso o consumo de batata chips, palha e pré-frita aumentou significativamente. A atração de agroindústrias para processar o produto no Estado, para agregar valor à produção seria uma das soluções para o excesso de oferta, porém o custo elevado retira a competitividade frente aos itens importados.

Os preços praticados na região estão em torno de R$ 30, com um custo de produção estimado em R$ 45 por saca de 50 quilos. A produção no Sul de Minas gira em torno de 480 mil toneladas, em uma área de 16 mil hectares, frente aos 20 mil hectares utilizados anteriormente.

"Com o aumento da renda da população, o consumo do produto in natura foi reduzido, uma vez que as pessoas têm condições financeiras de adquirir a batata já processada e, assim, buscam por itens de preparo rápido. A instalação de agroindústrias só seria viável caso o custo Brasil fosse menor. Atualmente grande parte da batata pré-frita consumida no país é importada e tem custo inferior", observa Ribeiro.

O produtor de batatas de Sacramento, no Alto Paranaíba, Ricardo Brischi, também está desestimulado e pretende, ao longo da próxima safra, reduzir ainda mais a área utilizada. Segundo ele, ao invés de plantar os 100 hectares utilizados em 2011, este ano serão cultivados apenas 20 hectares. "Para cada hectare plantado é preciso investir entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, valor que não estamos recuperando com a venda do produto. Os preços estão bem abaixo dos custos e não temos mais condições de investir na cultura", ressalta Brischi.



Veículo: Diário do Comércio - MG


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