"Tempos difíceis requerem decisões difíceis." Na boca do australiano John Mullen, o principal executivo da DHL Express, a frase soa menos como um clichê e mais como a síntese do pensamento que o orientou nos últimos meses. Há pouco mais de 20 dias, Mullen anunciou o fechamento de toda a operação doméstica de cargas expressas nos Estados Unidos, com demissão de 9,5 mil pessoas e prejuízo acumulado de cerca de US$ 10 bilhões em cinco anos. O negócio em território americano, que nunca havia sido lucrativo mas apresentava melhoras de um ano para o outro, ficou insustentável depois que a economia do país entrou em declínio, diz o executivo.
A extinção da operação interna nos EUA foi a medida mais drástica. Agora, diz Mullen, a ordem é cortar custos indiretos mundialmente em 20% e zelar pelo caixa. "Gastos com viagens, publicidade e projetos secundários serão fortemente reduzidos em 2009", disse ao Valor o CEO, que esteve em São Paulo na segunda-feira.
Apesar dos tempos duros, Mullen afirma que os investimentos na América Latina e outros mercados emergentes estão mantidos porque está neles "o futuro da companhia". "Não podemos fazer cortes profundos nesses mercados porque quando a economia retomar seu ritmo de crescimento precisamos estar em boa posição", diz.
Na América Latina, a DHL pretende aportar US$ 200 milhões entre 2009 e 2010, o que representa um investimento em linha com o dos últimos anos. A companhia não revela quanto está projetado para o Brasil. A DHL pertence ao grupo alemão Deutsche Post.
Um dos objetivos em território nacional, segundo Mullen, é ganhar participação no mercado de cargas expressas de alto valor agregado, com serviços voltados para empresas de tecnologia que precisam de transporte com alto nível de segurança. "Embora não seja muito grande, esse segmento cresce 30% no Brasil, enquanto a carga expressa convencional cresce 15%", diz Joakim Thrane, presidente da DHL Express no Brasil. "Além de crescer rápido, é muito rentável e há pouca concorrência." As receitas da DHL cresceram 12,4% no Brasil até dezembro.
Mullen diz que a DHL está analisando aquisições no Brasil e considera também a possibilidade de firmar joint-ventures. "Já fizemos as duas coisas em outras partes do mundo e temos casos de sucesso nos dois lados", diz. A concorrente TNT comprou a Expresso Mercúrio, em 2007. Uma compra seria a forma rápida de ganhar fatias no mercado doméstico brasileiro, ainda dominado pelos Correios. A empresa estatal transporta 33 milhões de pacotes por dia no país, sendo 600 mil com o serviço Sedex. Segundo estimativas do setor, empresas multinacionais como DHL, FedEx e TNT transportam juntas 12 mil pacotes por dia entre o Brasil e o exterior, segmento mais forte para elas. "Se os Correios cedessem 1% de participação doméstica, as outras empresas teriam dificuldade para dar conta do volume", afirma um ex-executivo da DHL que preferiu não ser identificado.
Veículo: Valor Econômico