O valor pago aos produtores de leite em agosto ficou estável em R$ 0,78, na média dos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia. A pesquisa, divulgada pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Economia Aplicada (Cepea), aponta ainda que a situação do setor está crítica. Em plena entressafra, os preços não apresentaram recuperação enquanto os custos, principalmente do milho e da soja, continuam elevados.
Diante deste quadro, produtores de leite têm sido obrigados a racionar a alimentação dos animais, o que tem reduzido ainda mais a produção.
O preço médio pago ao pecuarista, nos sete estados que mais produzem leite, teve "ligeira alta" de 0,8% ante o mês anterior, mantendo-se em R$ 0,78 por litro, 2 a menos que em agosto de 2011. Entre junho e julho, a média ponderada dos sete estados havia recuado mais de 5%, em relação ao período idêntico do ano passado.
"O produtor trata o gado com o mínimo de alimentação possível", observa o presidente da Cooperativa Mista Agropecuária de Itapirapuã (Comai), de Goiás, José Mário Pereira Lima. O representante registra, durante a atual entressafra, perdas de 50% no volume de leite produzido pela instituição (de 25 mil litros, hoje) e de 13% no preço pago ao produtor (em cerca de R$ 0,70).
O custo, ao contrário, aumentou 30%, considerando a disparada do milho e da soja - após o anúncio de quebra de safra nos Estados Unidos - e o valor pago pelo frete desses grãos.
Lima considera sua região desprivilegiada, quando se trata da falta de chuva ao longo de cinco meses por ano e da dependência do município pela importação de grãos do Mato Grosso e do sul de Goiás. "Temos que comprar tudo de longe", expõe.
Sem pasto nutrido nem ração abundante, os produtores da Comai passaram a alimentar os animais com soluções baratas, como torta de algodão e polpa cítrica. A substituição do milho ou do "volumoso" (capim), contudo, acarreta consequências.
Confinamento
Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez, o pico de produção do leite - que era esperado para agosto, não vai acontecer neste ano. Isto porque a alimentação adequada do rebanho, de um modo geral, foi interrompida em má hora.
"Pode-se tirar a ração de uma vaca no início do processo de lactação, que ela vai produzir leite mesmo assim. Mas a alimentação foi cortada no meio da lactação, de modo que não se recupera o leite", analisa o representante.
Nesta entressafra "atípica", com preços baixos, a Leite Brasil afirma que o produtor brasileiro está gastando R$ 0,90 para produzir um litro de matéria-prima pela qual recebe R$ 0,80.
"Não existe mais, a entressafra. Neste ano, por exemplo, produziu-se mais no período de entressafra do que no resto. Acabou a diferença", observa Rubez, referindo-se à pecuária leiteira em confinamento.
Lima, da Comai, contudo, discorda: "Em regiões com bastante agricultura, pode ser que a entressafra já não exista. Para nós, de Itapirapuã, ainda há".
Se em uma média brasileira, o atual prejuízo da produção de leite fica em torno de R$ 0,10, segundo a Leite Brasil, o lucro dos cooperados da empresa goiana é, também em média, inversamente proporcional.
Entretanto, esses produtores vão continuar com baixos níveis de oferta até novembro, quando volta a chover em Itapirapuã, de acordo com Lima. Com os pastos regados, a produção deve ser totalmente recuperada no mês de dezembro.
Veículo: DCI