Vigilância Sanitária lança hoje uma consulta pública com novas regras para cosméticos feitos para crianças
Dermatologista diz que criança não precisa desses produtos; agência diz que há demanda social
Uma consulta pública lançada hoje pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pretende liberar a entrada no mercado de desodorantes e sombras infantis.
De acordo com a proposta, desodorantes para axilas e pés podem ser ofertados para crianças a partir de oito anos, desde que não sejam antitranspirantes ou em aerossol -forma cuja toxicidade para crianças não está definida, segundo a agência.
Substâncias antissépticas estão liberadas, desde que sejam de "uso consagrado". Já os componentes alcoólicos, normalmente presentes nos desodorantes, devem ter índices mínimos.
A sombra, diz a proposta, pode ser aplicada por adultos em crianças de três e quatro anos e pelas próprias crianças a partir dos cinco anos de idade.
Produtos como blush, batom e brilho labial já têm regras específicas e são liberadas para o público infantil. O mesmo vale para xampus, sabonetes, esmaltes, protetores solares, entre outros.
Dirceu Barbano, diretor-presidente da Anvisa, afirma que demandas da sociedade e do mercado levaram à revisão da norma anterior sobre cosméticos infantis, de 2001.
"Brevemente você vai encontrar, em farmácias e supermercados, desodorantes para crianças. Hoje não existe, não havia um marco normativo que permitisse às indústrias lançarem um desodorante para uso infantil."
BOM-SENSO
Sérgio Graff, médico da Unifesp especializado em toxicologia e que participou da elaboração dessa consulta, afirma que a proposta avança ao regular melhor o setor.
"A falta de alguns produtos destinados a crianças fazia com que as mães usassem produtos de adulto nos filhos", diz. O problema, diz Graff, é que cosméticos para crianças precisam passar por testes de maior sensibilidade e não podem ter determinados componentes.
O médico argumenta que é justificável a entrada no mercado de desodorantes infantis, porque algumas crianças -principalmente meninas que menstruam mais cedo- podem precisar do produto por volta dos dez anos.
A coordenadora de dermatologia pediátrica da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Silmara Cestari, diz que esses casos são raros e que o odor pode ser minimizado com sabonetes antissépticos.
"Por que a criança passa maquiagem? Porque vê o adulto passar. Com o desodorante é igual, a criança transpira mais, tem um cheirinho azedinho, a mãe acha que precisa passar desodorante."
Alberto Keidi Kurebayashi, presidente da ABC (Associação Brasileira de Cosmetologia), diz que a norma pode proteger as crianças ao evitar propagandas equivocadas. Mas defende o bom-senso.
"Será que é preciso usar sombra na criança? Não pode ter exagero, a criança tem de ser bonita como ela é."
A proposta fica disponível para sugestões no site da Anvisa por 60 dias.
Veículo: Folha de S.Paulo