O mineiro mantém o hábito de não cumprir à risca o que planeja. A afirmativa é comprovada pela Pesquisa de Orçamento Doméstico de agosto, divulgada ontem pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas). Embora 89% dos consumidores tenham afirmado que planejaram seus gastos para o período, com crescimento na comparação com julho, quando a taxa apurada foi de 82,7%, 50,5% revelaram ter comprado por impulso, ou seja, fora do previsto, no mês passado. O percentual é mais uma vez superior ao do sétimo mês deste ano, quando o índice ficou em 47%.
A maioria (57,6%) confessa que o planejamento não é uma estratégia muito eficaz quando o assunto é o controle do orçamento. Conforme o levantamento, 51,3% seguiram apenas parcialmente as metas estabelecidas, enquanto 6,3% afirmaram que as decisões financeiras tomadas no mês passado passaram longe da proposta inicial. Em agosto, 11% admitiram não planejar os gastos, o que significa queda frente aos 17,3% de julho. Uma fatia menos expressiva, 31,5%, disse planejar e controlar rigidamente o que gasta, estabilidade frente ao mês anterior, quando o índice ficou em 31,6%.
Para o economista da Fecomércio Minas, Gabriel de Andrade Ivo, a população já tem consciência da importância do planejamento. No entanto, o fato de o número de pessoas que não resistem às tentações estar em ascensão surpreende, sobretudo quando se tem em vista os elevados índices de endividamento e inadimplência da pessoa física. "Mas, de qualquer maneira, acredito que o recebimento do 13º salário e de outras bonificações vai ajudar a aliviar o orçamento do consumidor, antes que o comércio sinta quaisquer impactos negativos", avalia.
O índice de pessoas que afirmam que a soma dos débitos é exatamente o valor do rendimento chegou a 51,2% em agosto, alta em relação aos 48,1% do sétimo mês do ano. Em seguida, 39,4% afirmam que conseguem pagar as contas e ainda economizar parte do salário. O índice, por sua vez, é menor frente ao de julho, quando o percentual atingiu 43%. A retração pode ser um reflexo das medidas de incentivo ao consumo, como a redução na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos, eletrodomésticos e móveis. Os que recorrem a algum tipo de financiamento somaram 7,4%.
Apesar de os constantes cortes na taxa de juros deixarem a poupança cada vez menos atrativa, a maioria (35,6%) ainda destina o que resta do salário para a caderneta, uma das formas menos rentáveis, porém mais seguras, de investimento. Outra parte (28,7%) gasta o que sobra com lazer e 11,8% aproveitam para quitar uma prestação em atraso. Outras estratégias adotadas em agosto para equilibrar as contas foram o corte de itens supérfluos (41,6%) e saques na poupança (18%).
Compromissos - O cartão de crédito ainda é o principal compromisso financeiro, para 59,3% dos entrevistados. Em seguida, vem o financiamento de automóveis (10,8%). Vale ressaltar que a modalidade vem crescendo desde que o IPI menor começou a vigorar. Em junho, antes que houvesse tempo suficiente para que a medida surtisse efeito, uma vez o anúncio foi feito na última semana de maio, o automóvel absorvia apenas 4,30% da renda dos entrevistados. Passou para 7,7% em julho, até extrapolar a casa de 10% no mês passado.
O "dinheiro de plástico" é usado, principalmente, para compras no supermercado (33,3%), seguido por roupas (22,1%) e aquisição de eletrônicos e eletrodomésticos (10,3%). A grande maioria (70,9%) ainda prefere a modalidade parcelada, contra 29,1% que costumam optar pela compra à vista. Quem não usa o cartão de crédito, prefere, por questões de segurança, o cartão de débito (74,8%) ao dinheiro (25,2%).
Os proprietários dos estabelecimentos também podem fazer sua parte para evitar o endividamento do consumidor. Uma ideia, bastante aceita pela clientela, é a concessão de descontos para o pagamento à vista, no dinheiro ou no débito. Isso porque, quase que a unanimidade (97,6%) dos entrevistados afirmou que prefere evitar dívidas, caso fosse oferecido alguma redução no preço no ato da compra. "O pagamento à vista, principalmente no dinheiro, ajuda tanto consumidor quanto o cliente", argumenta Ivo.
Entre as despesas correntes, ou seja, aquelas que não podem ser cortadas do orçamento por serem essenciais ao cotidiano, a alimentação é a principal responsável por consumir a maior parte da renda da população (29,1%). Em seguida, aparece a água, 25,7% e a energia elétrica, com 19,6%.
Veículo: Diário do Comércio - MG