Onde os donos da rede Pague Menos usarão o seu dinheiro

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A totalidade dos recursos da oferta pública inicial da Pague Menos que irá para os bolsos dos donos da rede de farmácia, segundo o Valor apurou, será usada para capitalizar outro negócio da família controladora: a Dupar, que aluga imóveis à Pague Menos.

Com estrutura acionária idêntica à da varejista de remédios, a Dupar foi fundada há cinco anos como braço imobiliário da família do empresário cearense Francisco Deusmar de Queirós, que sozinho tem 70% do negócio. Mas foi somente no ano passado, que a Pague Menos começou a alugar imóveis da Dupar, sua parte relacionada. Procurada, a Pague Menos informou que não comentaria o assunto pois está em período de silêncio.

De acordo com o prospecto preliminar da oferta da companhia, mais de 31% dos pontos da rede de farmácias (são 531 lojas até agora) já são alugados da Dupar. O restante é contratado com terceiros.

A capitalização da Dupar visa acelerar a compra de imóveis, dando fôlego à expansão orgânica da Pague Menos. O negócio permite à Pague Menos maior controle sobre o local de abertura das novas lojas. Além disso, minimiza riscos particulares dos contratos com terceiros, como o de não conseguir renovar os contratos de locação ou de renová-los apenas em condições menos favoráveis.

Uma fonte próxima à empresa disse que os contratos da Pague Menos com a Dupar são de cinco anos, renováveis por mais cinco. A lojas pagam o equivalente a 2% do seu faturamento à Dupar como aluguel, valor considerado abaixo da prática do mercado, diz a fonte. Este é um dos fatores que têm permitido à Pague Menos registrar margem operacional mais alta que as concorrentes Raia Drogasil e Brazil Pharma, listadas na bolsa.

Ao não possuir imóveis próprios, as grandes varejistas aliviam seus balanços do peso de um grande ativo imobilizado. Na prática, isso se traduz em melhores indicadores de rentabilidade, como o de retorno sobre patrimônio, por exemplo.

No setor de varejo, os contratos de aluguel com partes relacionadas não são uma exclusividade da Pague Menos. Nas suas aquisições, a holding Brazil Pharma não compra os pontos físicos, que têm ficado com os antigos donos. Estes, atuais sócios da BR Pharma, passam a cobrar aluguel à holding. Mas o preço, diferentemente do que ocorre entre Pague Menos e Dupar, é definido "caso a caso" e segue "as práticas de mercado", informa a BR Pharma.

A Raia Drogasil também adota "padrões de mercado" nos seus negócios com partes relacionadas, diz a empresa em formulário público apresentado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Apesar dos recentes movimentos de consolidação no setor, a Pague Menos sempre adotou a estratégia de crescimento orgânico. A empresa quer destinar 90% dos recursos da sua oferta primária (que ficam no caixa da companhia) à abertura de novas unidades e reformas de lojas com mais de três anos, para aumentar a área de exposição dos produtos em 30%.

A melhora do layout de 25 lojas maduras em 2011 resultaram num aumento médio de 20% no faturamento dessas unidades no trimestre após a conclusão das obras. "A venda das outras lojas maduras [não reformadas] cresceram em média 12%. Isto significa que as 25 com novo layout obtiveram crescimento real de 8% no período ", detalha a companhia.

O restante dos recursos serão aplicados na construção de dois novos centros de distribuição, sendo um para atender a região Norte e outro para as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Para tanto, um terreno de 150 mil m2 em Hidrolândia já foi adquirido pela Dupar, informa a Pague Menos.

Com faturamento de R$ 2,87 bilhões em 2011, a Pague Menos é hoje a terceira maior rede de farmácias do país, atrás apenas da Raia Drogasil e da Pacheco/São Paulo. De junho de 2010 até junho deste ano, a companhia registrou uma média de crescimento anual de 25,1% das vendas. A companhia tem lojas em todos os Estados do país, embora a maior concentração delas (cerca de 63,65%) esteja no Nordeste e no Norte.


Varejista é única companhia a testar apetite da bolsa



A Pague Menos é a única companhia que, no momento, tenta uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) para estrear na bolsa.

A seu favor, está o bom desempenho das ações das suas concorrentes listadas. A Raia Drogasil sobe 78,4% e a Brazil Pharma avança 43,6% no ano, enquanto o Ibovespa tem alta 6,6%. Contra a empresa, estão as pendências judiciais do seu fundador, Francisco Deusmar de Queirós.

O empresário responde a processos no Estado do Ceará, segundo informa o prospecto da oferta pública de ações. Os processos apuram seu envolvimento em crimes contra o sistema financeiro nacional, como lavagem de dinheiro e compra e venda de valores mobiliários sem autorização da Comissão de Valores Mobiliários ("garimpagem").

A companhia informa que Queirós e seu cunhado Josué Ubiranilson Alves de Queirós - vice-presidente da Pague Menos e acionista com fatia de 10% - são alvo de investigações sobre o assassinato de um cliente e quatro criminosos que teriam roubado a Pague Menos, nos anos de 2001 e 2002.

Os processos tiveram origem na década passada durante investigações sobre a existência de um grupo de extermínio em Fortaleza. O grupo seria comandado por policiais militares e teria executado diversos bandidos. A Pague Menos diz que não foi apresentada nenhuma prova que ligasse Deusmar ou seu cunhado aos crimes. A acusação contra o empresário está "toda baseada na premissa de que ele, na qualidade de presidente da companhia, não poderia desconhecer os crimes que vinham ocorrendo", informa o prospecto da oferta pública de ações.

Em um dos processos, a acusação alega que seguranças armados contratados pela Pague Menos teriam assassinado pessoas que tentaram roubar uma loja da companhia em abril de 2001, do lado de fora da farmácia. A Pague Menos nega e diz desconhecer o envolvimento de policiais e empresas de segurança que utilizava no período com grupos de extermínio.

A maior parte dos processos que envolvem lavagem de dinheiro e os crimes contra a vida está na sua fase inicial (ou seja, sem julgamento). Em relação à acusação de "garimpagem", Deusmar foi condenado, em caráter não-definitivo, a uma pena de 15 anos e 10 meses de reclusão, além do pagamento de multas. Foi interposto recurso contra essa sentença, que ainda não foi julgado. Procurado, o empresário não quis se pronunciar.



Veículo: Valor Econômico


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