A grife Kenzo somou-se à lista de empresas de luxo que estão fechando suas portas na Argentina. Em nota, a Kenzo argumentou que sua decisão foi motivada "estritamente pela desaceleração econômica do país". Praticamente todas as marcas de luxo abandonaram a Argentina nos últimos tempos, mas a tendência não se restringe ao mundo fashion. Os setores de alimentos, papel, químicos e biodiesel sofrem baixas. Tampouco os motivos se limitam ao menor crescimento do país. Pesam na decisão as medidas governamentais de maior controle sobre a economia.
Nesta semana, os donos da produtora de biodiesel Tres Arroyos anunciaram o fechamento da unidade, em consequência do aumento das alíquotas de exportação do produto, que passam a ser móveis, e da redução da margem de lucro no mercado doméstico, limitada em 4%. A indústria de papel Witcel, controlada pelo grupo holandês Arjowiggins e produtora de papel especial de alta qualidade, anunciou que deixa o país por uma questão de ajuste interno, para concentrar sua produção no Brasil.
Simulação
"Por enquanto, há uma simulação de êxodo. Mas, se continuar assim, essa tendência pode ser generalizada", alertou o economista José Luis Espert, da consultoria homônima. Ele disse que em suas viagens ao interior, onde é solicitado a fazer palestras sobre a situação macroeconômica, observa crise severa das indústrias de citros, especialmente nas províncias de Entre Rios e Corrientes.
Espert disse que há conjunção de fatores que prejudicam as empresas. "No âmbito externo, há a menor demanda do Brasil, da China, da Índia e da Rússia e a recessão na Europa. Na esfera interna, estão o alto custo do dólar, a alta dos salários e do preço de energia e o impostaço", disse, em referência à carga tributária.
O chefe de pesquisas da consultoria Ferreres e Associados, Fausto Spotorno, concorda com o colega Espert em que ainda não há um êxodo de empresas. Porém, ele diz que "a situação é complicada, porque a atividade econômica está com o pé no freio e a inflação é alta demais". As complicações são maiores para quem depende de importações. Segundo ele, o investimento caiu 4,9% em agosto, para US$ 8,8 bilhões. "Não há entrada de novas empresas e começa a haver interesse em sair", afirmou Spotorno.
Vestuário
Quem não pode esperar faz como a grife Louis Vuitton, que há quase duas semanas comunicou sua saída de Buenos Aires, enquanto buscava uma nova instalação em Punta del Este, no Uruguai. Segundo informações de especialistas, a medida foi consequência da falta de mercadorias provocada pelas barreiras que impedem as importações.
Cartier, Polo Ralph Lauren, Yves Saint Laurent, Escada e Emporio Armani são algumas das grifes de luxo que abandonaram a "Paris latino-americana", como é chamada a capital argentina.
Outras, como Calvin Klein, Chanel e Ermenegildo Zegna, chegaram a suspender suas operações temporariamente e reduziram substancialmente seus negócios. Marcas locais também são afetadas pelas políticas oficiais, como a Tissage, de roupas femininas, que usava tecidos importados e fechou suas portas.
Veículo: DCI