O mercado de fraldas, absorventes e roupas íntimas para incontinência urinária cresce a passos largos no Brasil e já movimenta R$ 1 bilhão. Só em 2011, as vendas cresceram 17% em volume e 20% em valor, segundo a Nielsen. A concorrência entre as fabricantes brasileiras e multinacionais aumenta. A sueca SCA acaba de chegar ao mercado com um plano agressivo para sua marca Tena. A Hypermarcas é líder, com a marca Bigfral, seguida pela americana Kimberly-Clark, com Plenitud. A Ever Green, de São Bernardo do Campo (SP), também está na corrida.
A despeito dos altos índices de expansão, o setor tem uma perspectiva forte de crescimento. Segundo Gabriel Arruda, gerente de cuidados com adultos da Kimberly-Clark, apenas 2% da demanda do mercado é atendida hoje, levando-se em conta o volume de produtos vendidos. O aumento da renda e da população de idosos, além do crescente acesso à informação, contam a favor do setor. A indústria, de seu lado, investe em tecnologia e diversificação do portfólio, comunicação e organização da categoria no varejo.
Os fabricantes não gostam do termo "fralda geriátrica". "Não é só fralda e não só geriátrica", diz Julio Ribas, presidente da SCA. É verdade que os idosos são os maiores consumidores, mas o universo é maior. Dez milhões de brasileiros têm algum nível de incontinência urinária. Um terço das mulheres acima dos 40 anos de idade sofre com a disfunção, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). "Antes essa mulher usava absorvente feminino, mas o produto não é adequado", diz Gabriela Garcia, diretora de planejamento da Hypermarcas.
As fabricantes investem para desenvolver o mercado e oferecer diferentes formatos, como absorventes e uma espécie de roupa íntima (semelhante a uma cueca ou uma calcinha). Cada tipo de produto busca atender um público específico, com diferentes níveis de incontinência. "A maioria das indústrias só tinha fralda antes. Agora há um movimento forte para oferecer novos formatos", diz Arruda. Segundo ele, as vendas da Kimberly-Clark crescem 54% em valor neste ano.
As fraldas representam 63% do volume de vendas do setor. Os absorventes são responsáveis por 33% do mercado. A roupa íntima ainda tem uma presença tímida, com 4% do volume total, mas dobra de tamanho a cada ano. Das quatro empresas citadas, apenas a Ever Green - dona das marcas Natural Master, Geriamax e Naturalmente - ainda não atua no segmento de roupas íntimas. "Estamos nesse exato momento preparando o lançamento desse produto", diz o diretor geral da companhia, Amauri Hong.
Esse nicho, cujos produtos são cerca de 30% mais caros do que as fraldas, é uma das principais apostas da SCA. Líder do mercado mundial de incontinência urinária com a marca Tena, a SCA chegou ao país há um ano, com a aquisição da brasileira Pro Descart, dona da marca Biofral. A partir deste mês, a SCA vai ampliar a distribuição de seus produtos, iniciada em março. O portfólio é importado da Holanda. A expectiva de Ribas é terminar 2013 com 20% do mercado e conquistar a liderança em 2015.
A americana Kimberly-Clark, que atua no Brasil com a marca Plenitud desde 2003, trouxe a roupa íntima ao mercado em 2008 e em setembro deste ano lançou uma nova versão, também importada. A Affective, marca da Hypermarcas para pessoas com estilo de vida ativo, também tem em seu portfólio uma linha desse segmento. A marca veio com a compra da Mabesa, em 2010.
A Hypermarcas tem 31% do volume de vendas do mercado total. A principal marca é a Bigfral, que ganhou novas embalagens este ano e tornou-se guarda-chuva para os produtos da categoria. Agora a marca Affective tem o selo da Bigfral. A empresa prepara lançamentos para 2013, além de reforço na relação com os médicos e na comunicação aos consumidores. Segundo Gabriela, as vendas "vêm crescendo dois dígitos".
No ano passado, a Hypermarcas perdeu mercado, segundo a Euromonitor. De acordo com a diretora de planejamento, a empresa estava se preparando para o relançamento de algumas linhas, que ocorreu em 2012. Além disso, "mais gente tem olhado para esse mercado".
As indústrias se unem ao varejo para organizar a categoria e tratar o tabu que ainda envolve o segmento. Há uma discussão sobre a exposição do produto nas gôndolas, que costumava ser perto das fraldas infantis. Muitos fabricantes dizem que o melhor seria na seção de perfumaria ou higiene pessoal, perto dos absorventes femininos. O mercado ainda está muito concentrado nas farmácias, responsáveis por 80% das vendas dos produtos.
Segundo a Euromonitor, o envelhecimento da população brasileira tem contribuído para quebrar o tabu que existe no mercado. "Como resultado, os produtos de incontinência ganharam visibilidade no varejo, o que contribuiu para uma performance forte", informa um relatório da consultoria.
Veículo: Valor Econômico