Quatro companhias estão hoje com ofertas de ações em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas nenhuma delas deverá concluir a operação neste ano por conta da situação adversa do mercado de capitais, apurou o Valor. As empresas esperavam uma reação mais rápida no ânimo dos investidores no segundo semestre, mas sem sinais consistentes nesse sentido, tiveram que rever os planos.
Segundo informações apuradas pelo Valor, a varejista Pague Menos, a Vix Logística e até mesmo a Auto Brasil, empresa de compra e venda de carros usados - que protocolou o pedido de análise há cerca de um mês - jogaram a toalha e não esperam conseguir uma janela de mercado para concluir a operação este ano. Ontem a CPFL Renováveis desistiu oficialmente do pedido de análise por conta das condições de mercado.
Outra companhia sempre citada como presente na lista de abertura de capital, a CVC também não retomará a operação no curto prazo. A CVC está marcando reuniões com fundos de investimento para fazer uma espécie de pré-IPO. A companhia vai reunir um conjunto de investidores que capitalizarão a companhia e venderão suas participações no momento de uma oferta inicial de ações, segundo fontes próximas à empresa.
Ao se somar os valores de captação previstos pelos analistas de bancos - em condições positivas de mercado - para Pague Menos, AutoBrasil e CPFL, o valor a ser obtido chegaria a até R$ 2,8 bilhões. Cerca de R$ 1 bilhão foi estimado para a operação da Pague Menos, outros R$ 1 bilhão para a CPFL e até R$ 800 milhões para a AutoBrasil.
As companhias acima citadas não comentaram as informações porque estão em período de silêncio. Na AutoBrasil, o BTG é o coordenador da operação, em parceria com o Credit Suisse e Itaú BBA. Na Pague Menos, tambem são os bancos Itaú BBA e Credit Suisse, além de BB Investimentos e Santander.
"Precisa haver uma melhora maior no mercado para que essas ofertas possam ser feitas", diz um interlocutor. "Tem que haver uma convergência maior de preços [entre as empresas emissoras e os investidores] e é isso que está difícil". Algumas semanas atrás, bancos de investimentos e companhias se animaram com as perspectivas para a realização de ofertas na segunda metade do ano, depois de um primeiro semestre muito fraco.
Havia sinais de que os investidores estrangeiros estavam voltando à bolsa brasileira e que a volatilidade estava diminuindo. No entanto, a avaliação neste momento é que as condições ainda não melhoraram o suficiente.
No caso da Pague Menos, fontes ligadas à rede dizem que a companhia trabalhava com a hipótese de ir à mercado com o Ibovespa próximo a 65 mil pontos, num indicativo de uma reação mais forte dos investidores, e que essa faixa poderia ser alcançada até o fim de outubro. Mas a empresa já acha que isso não deve acontecer tão cedo, possivelmente em dezembro. Ontem, o Ibovespa fechou em 58.458 pontos, queda de 0,29%.
Na avaliação do mercado, duas questões pesam para o sucesso de uma oferta da Pague Menos. Hoje a linha de custos gerais e administrativos é baixa porque os integrantes da família controladora que trabalham na empresa não recebem salários, apenas dividendos. Com a abertura de capital, isso muda. Além disso, existe a questão dos imóveis que estão na estrutura da empresa, mas que serão comprados pelos familiares com os recursos da oferta secundária e depois alugados para a empresa.
Veículo: Valor Econômico