Produto mais saudável em ritmo mais lento

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O presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz, vai levar, possivelmente nesta semana, ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o balanço de 23 produtos que tiveram, nos últimos anos, importantes reduções nos teores de açúcar, sal e de gorduras trans e saturadas. 

 

Os casos de maior sucesso são os da eliminação de 100% da gordura trans em cereais matinais, batata congelada e bisnaguinhas. As quedas de sódio mais relevantes ocorreram na batata frita (59%), no amendoim (46%) e nos salgadinhos de milho (34%). Os melhores resultados para a queda dos teores de açúcar foram verificados nos caldos para preparo de refeição (90%), pó para refresco (39%), queijo "petit suisse" (29%) e bebida à base de soja (15%). 

 

Essas reduções não envolvem todos os fabricantes, mas mostram boa vontade, segundo a indústria. Com esse argumento e uma certa apreensão, os empresários aguardam o desfecho da negociação de um cronograma de redução gradativa desses itens nos alimentos processados. O temor, principalmente das pequenas indústrias, é proporcional à velocidade desejada pelo governo. A adaptação, em muitos casos, depende de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. 

 

Há sinais de cautela na atitude de Temporão. O ministro, certamente, não quer iniciar um novo conflito entre o governo e um dos setores mais dinâmicos da economia. Também não há, da parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disposição, na perspectiva de crise na economia, para brigar com indústrias responsáveis por milhares de empregos. 

 

A rede de restaurantes McDonald´s é um exemplo de adaptação. O diretor de Compras e Qualidade, Celso Cruz, não revela custos, mas informa que já tem pronta uma solução para adoçar os sucos vendidos nos quase 600 pontos de venda no país. Quanto à gordura trans, já vendem, desde 2006, a batata frita e outros itens livres dela. Esse foi o resultado de 20 meses de trabalho ouvindo dois mil clientes e interagindo com três grandes fornecedores: Cargill, Bunge e Dow AgroScience. 

 

A Kraft é outra grande empresa que, segundo o diretor de Assuntos Corporativos, Fábio Acerbi, investe muito em pesquisa. A empresa começou a trabalhar em 2002 reduzindo a gordura trans em todo o portfólio e os resultados vieram a partir de 2004, segundo ele. Atualmente, 85% dos produtos da Kraft estão livres da gordura trans. No Brasil, a empresa produz chocolates, biscoitos, queijos, sucos, chás e preparos para sobremesas. 

 

As corporações globais não medem gastos para manter suas participações num mercado cada vez mais regulado, mas os pequenos fabricantes temem que a transição seja muito rápida. Se essa hipótese for confirmada, vão ter grande dificuldade em criar novos produtos com sabor igual ou próximo dos atuais. A nutricionista e pesquisadora de alimentos da organização de defesa do consumidor Pro Teste, Manuela Dias, diz que "a transição pode ser gradual, mas é preciso um ponto de partida. O Ministério da Saúde é quem deve iniciá-la. Alimentos mais saudáveis são menos doces, têm pouco sal e são livres da gordura trans." 

 

Manuela diz que, ao contrário do que defendem as indústrias, não há um limite tolerável para o consumo de gordura trans. A ProTeste também combate o uso de alguns corantes artificiais e conservantes. Na Europa, em países com normas mais rígidas, os iogurtes são brancos, independentemente do sabor. O benzoato de sódio é um conservante muito usado na fabricação de alimentos que, segundo Manuela, eleva a hiperatividade infantil. 

 

O diretor da Kraft tem outra posição. Diz que o sal (cloreto de sódio) e o açúcar têm níveis seguros de consumo e, por isso, não serão eliminados. Argumenta que sem campanhas educativas e de esclarecimento aos consumidores, nenhuma medida mais rígida de regulação vai funcionar. Nessa visão, para terem hábitos mais saudáveis, os brasileiros precisam mudar de comportamento e, ao mesmo tempo, deixar o sedentarismo. 

 

Acerbi não acredita que o governo vá simplesmente proibir a gordura trans. "Quando alguém propõe isso, argumentamos com dados técnicos e sempre conseguimos convencer", diz. 

 

O diretor do Mc Donald's garante que açúcar, sódio e gordura trans são fontes de preocupação constante. "Parece simples tirar o sal dos alimentos, mas esse item é central para o sabor. Pesquisas mundiais são feitas para reduzir o teor de sódio e, ao mesmo tempo, manter o gosto. Elas não estão concluídas, mas evoluem bem", informa Cruz. Segundo ele, as normas brasileiras equiparam a zero os produtos que têm até 0,2 grama de gordura trans por porção. Ele admite que há uma "enorme pressão" pelo banimento. 


 
Veículo: Valor Econômico


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