Shopping no Recife abre as portas e atrai multidão

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O apetite da nova classe média nordestina, cujo consumo baseou o crescimento econômico da região na última década, foi posto à prova ontem, dia em que foi aberto ao público recifense o Shopping RioMar, do empresário João Carlos Paes Mendonça. A manhã de uma terça-feira comum do mês de outubro foi de fazer inveja a qualquer véspera de Natal.

Antes mesmo das portas serem abertas, às 9 horas da manhã uma longa fila de carros já estava à caça de vagas em um estacionamento abarrotado. Muitos motoristas pararam os veículos em locais proibidos, complicando ainda mais o imenso congestionamento que se formou. Na saída, a confusão também era grande. Dezenas de carros saíam com caixas de papelão amarradas no teto.

Pelos portões de acesso a pedestres, um enxame de consumidores marchava shopping adentro, a maioria em direção às lojas de eletrodomésticos. O pavimento voltado a varejistas como Insinuante, Magazine Luiza e Eletroshopping ficou intransitável. A debutante Casas Bahia amealhou o maior contingente. Uma imensa e confusa fila se formou em frente à loja, que teve o acesso do público controlado.

As longas filas não eram privilégio da Casas Bahia. No segmento de confecções, a Riachuelo teve que controlar a multidão que se formou em frente à loja. O mesmo aconteceu no Magazine Luiza e na Eletroshopping, braço nordestino do grupo Máquina de Vendas. Além do shopping novo em folha, as promoções de inauguração ajudaram a atrair a multidão.

Estático no fim da fila de mais de 100 metros da Casas Bahia, o motoboy Cleiton Barcelos estava decidido a encarar a espera. Sua expectativa era sair de lá com seu primeiro televisor LED, pelo qual ele esperava pagar R$ 1.299: "Me disseram que aqui estava esse preço, então eu vim disposto a levar. Se for isso mesmo, pago à vista."

O RioMar é o primeiro shopping inaugurado em Recife desde 1998. Com 101 mil metros quadrados de ABL (área bruta locável), custou R$ 600 milhões e levou pouco mais de dois anos para ficar pronto. Outra unidade, com o mesmo nome, está sendo erguida em Fortaleza, capital de um dos Estados onde o varejo mais cresce no país.

O empreendimento pertence ao empresário sergipano João Carlos Paes Mendonça, conhecido no Nordeste como "JCPM". Ele é um dos principais empreendedores do setor no país e o maior do Nordeste. Além do RioMar, controla os outros quatro shopping da capital pernambucana: Tacaruna, Plaza, Guararapes e Shopping Recife. JCPM ainda tem participação em dois shopping em Salvador, dois em Sergipe e dois em São Paulo.

No RioMar, à medida em que se sobe as escadas rolantes, o fluxo de pessoas cai. Como numa pirâmide social, os andares superiores abrigam estandes de condomínios de luxo e das montadoras japonesas Toyota e Mitsubishi, bem como a primeira loja nordestina da sofisticada grife britânica Burberry. A concepção do shopping é justamente atender bolsos nordestinos de todos os tamanhos.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas no varejo da região Nordeste cresceram em média 8,5% ao ano desde 2008, acima do índice nacional, de 7,8%. Se considerados apenas as quatro maiores economias da região (Bahia, Pernambuco, Ceará e Maranhão), o avanço passa dos 9%.


Na Casas Bahia, entrada teve de ser controlada


"Abrir as portas" não pode ser usado como sinônimo de inauguração para a Casas Bahia. Assim como ocorreu um ano atrás em Fortaleza, a estreia da varejista no Recife teve que acontecer a portas fechadas. Movidos pela enxurrada de propaganda, os consumidores avançaram sobre a primeira loja da rede em Pernambuco e a entrada teve de ser controlada.

Muita gente chegou à porta do Shopping RioMar às 6 horas da manhã. O cenário de confusão do lado de fora não era diferente no interior da loja, onde os vendedores eram disputados por pernambucanos em busca de televisores de tela plana, refrigeradores duplex e a cama-box, fenômenos de venda entre a nova classe média.

A dona de casa Jane Oliveira se disse motivada pela propaganda. "Você vê mais divulgação da Casas Bahia", disse ela ao ser questionada sobre sua escolha. Jane procurava um refrigerador inox por R$ 1.500, que seria pago à vista. Muita gente no interior da loja, entretanto, perguntava pelo notório crediário.

Michael Klein, presidente do conselho de administração da Via Varejo, holding que controla a Casas Bahia e o Ponto Frio, disse que os hábitos de pagamento do consumidor nordestino não fogem à média nacional no que diz respeito aos parcelamentos. O desempenho de vendas, porém, é maior. No primeiro semestre, a empresa registrou nacionalmente uma alta de 8% nas vendas das mesmas lojas, sobre igual período de 2011. A operação nordestina, segundo ele, avança acima de dois dígitos.

Com a entrada em Pernambuco, a Casas Bahia chega a 44 lojas no Nordeste, das quais 37 estão na Bahia, por onde a rede entrou na região, em abril de 2009. A expectativa, segundo Klein, é chegar a cem lojas no Nordeste nos próximos dois anos. Segundo ele, 70% da expansão da rede ocorrerá na região.

Satisfeito com o movimento no primeiro dia, o empresário disse que o tumulto foi maior em Fortaleza, onde nos quatro primeiros dias de operação a entrada de consumidores teve de ser controlada. Klein só mudou o semblante quando questionado sobre a sua atual relação com o Grupo Pão de Açúcar (GPA). Conforme noticiado pelo Valor, a família Klein quer a retomada do controle da holding, por meio da revisão dos valores acertados na fusão. Os gastos da família Klein também foram foco de discussão de uma reunião de conselho na semana passada. Perguntado sobre as negociações com o GPA, o empresário foi impedido de comentar o assunto por sua assessoria.



Veículo: Valor Econômico


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