Novas companhias de shopping centers têm sido criadas no país com recursos de fundos de investimentos, de executivos do mercado e de tradicionais empresários do setor da construção. Redução da taxa de juros às empresas, manutenção dos altos patamares de resultados dos shoppings e forte valorização do capital aplicado nesse negócio fizeram surgir novas sociedades no setor nos últimos três anos.
Nesse grupo estão a 5R Shopping Centers, criada por Edmundo Rossi, um dos fundadores da Rossi Construtora, e a Vértico, um braço do grupo WTorre, do empresário Walter Torre. Ex-sócio do Sonae Sierra, Henrique Falzoni, da Enplanta Engenharia, anunciou o seu retorno ao mercado meses atrás e um grupo de ex-executivos da Brookfield Incorporadora, donos da WGL Administração e Participações, criou há um ano e meio um fundo gerido pelo Credit Suisse Hedging-Griffo para construir shoppings para a classe C.
Esse conjunto de empresas anunciou, de 2010 para cá, cerca de R$ 3,5 bilhões em investimentos em 20 shoppings em construção ou em fase de obtenção de licenças finais. Com base no portfólio de lançamentos apresentados pelas companhias, metade desses 20 empreendimentos tiveram o projeto anunciado no último um ano. Cidades como Araguaína (TO), Rio Grande (RS), Três Lagoas (MS) e Limeira (SP) receberam investimentos das empresas para o que será, em muitos casos, o primeiro shopping dos municípios.
"Tem que escolher o projeto a dedo, não dá para errar", diz Henrique Falzoni, dono da Enplanta Engenharia. "O momento é bom, há dinheiro no mercado, mas o risco é exatamente se animar, dar um passo maior que a perna e querer abrir shoppings demais", afirma ele, que deixou a sociedade com o Sonae Sierra após a abertura de capital da empresa no início de 2011. Neste ano, o empresário decidiu voltar ao setor por meio de investimento com capital próprio, de amigos investidores e de empresas que ele não revela os nomes.
Neste momento, Falzoni comanda a obra de um shopping de 35 mil m2 em Sorocaba (SP), e ainda aguarda a aprovação de planta de outros empreendimentos em Piracicaba (SP) e na capital paulista. Somando as três cidades, são investimentos de R$ 800 milhões. "Há investidores individuais que querem tentar um novo segmento. Mas aviso que isso não é coisa para entrar e achar que em três anos se sai com o bolso cheio. Shopping não é negócio para especular", afirma.
São negócios estruturados de maneira diferente e com operações em focos muitas vezes opostos. A 5R Shopping Centers faz investimentos que variam de R$ 150 milhões a R$ 300 milhões, com capital dos sócios e financiamento bancário, e busca cidades com, no mínimo, 250 mil habitantes. Seus acionistas são Carlos Felipe Fulcher, César Garbin (ex-Sonae Sierra) e Paulo Rossi, filho de Edmundo Rossi, criador da 5R. Hoje, o grupo soma uma carteira de nove empreendimentos, sendo cinco em construção. Uberlândia (MG), Manaus (AM) e Americana (SP) estão no portfólio. Os nove shoppings já anunciados somam desembolsos de R$ 1,8 bilhão.
Para efeito de comparação, a recém-criada WGL Administração e Participações - de Walter Lafemina, Gilberto Benevides e Luiz Tolosa, todos ex-Brookfield Participações - avalia negócios menores que a 5R. E busca recursos no mercado para a expansão - ao contrário da 5R. O fundo criado pela WGL (CSHG Desenvolvimento de Shoppings Populares), tem duas emissões finalizadas neste ano, na soma de R$ 182 milhões. Ainda estão disponíveis R$ 100 milhões em bancos para investimento.
O interesse está em operações de médio porte, na faixa de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões, de preferência com foco na classe C, diz Marcos Romiti, consultor imobiliário e dono da Nassau Empreendimentos, parceira da WGL. A Nassau fechou acordo que dá ao fundo direito de preferência dos shoppings que Romiti desenvolver. "Temos cerca de 50 cotistas no fundo e com o primeiro shopping, em Santo André, em construção", diz Romiti.
O que há em comum nas novas empresas é o interesse em ter o controle total do negócio. Todo o processo de criação dos empreendimentos, da construção à comercialização, está com os sócios. Querem ganhar em todas as pontas. "Isso traz rapidez. Quando negociamos terrenos, mandamos o presidente e não o gerente. Mas não é fácil. Precisamos ter pessoas na empresa que conheçam todas as áreas" diz Carlos Felipe Fulcher, sócio e presidente da 5R.
Algumas empresa já admitem a possibilidade de vender participação no novo negócio mais à frente - quando a operação ganhar maior peso e a necessidade de novos aportes crescer. A 5R não afasta a hipótese de aceitar novos sócios, assim como a Vértico, apurou o Valor. Neste ano, a Vértico já esteve em contato com investidores estrangeiros para a venda de uma fatia minoritária no negócio. A empresa não comenta o assunto.
Veículo: Valor Econômico