Um dos principais Estados produtores de mamão do país, o Espírito Santo inicia neste mês a colheita das apreciadas variedades papaia e formosa com a expectativa de que o volume tenha forte retração em decorrência dos preços pouco atraentes e de problemas fitossanitários nos pomares.
Bahia e Espírito Santo respondem por 80% de uma produção nacional próxima a 2 milhão de toneladas. Em 2011, segundo o IBGE, o volume da safra capixaba foi de 560,5 mil toneladas, 9% menor que em 2010, e gerou receita de R$ 299 milhões, baixa de 35% na comparação. Mesmo com os recuos, o Espírito Santo liderou as exportações nacionais.
A colheita que começa este mês e chega ao auge em março deverá ser 40% menor no Estado, conforme estimativa da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex). Se confirmada a previsão, portanto, será a segunda forte retração seguida.
Os preços baixos pagos ao produtor, entre R$ 0,36 e R$ 0,42 por quilo nos últimos dois anos, é apontada como uma das razões para o encolhimento do cultivo, segundo Rodrigo Martins, presidente da Brapex.
Mas as oscilações de valor não o preocupam tanto como a doença do mosaico, um problema nacional. Ao ser transmitida pelo pulgão, as folhas do mamoeiro começam a ficar amarelas e enrugadas e a produção da planta é comprometida. Nem Pinheiros, no Espírito Santo, principal município produtor do país, com 198,4 mil toneladas no ano passado, vem sendo poupado.
O controle está no corte das plantas doentes para evitar a disseminação por todo o cultivo, uma prática chamada de "roguing". Segundo José Roberto Macedo Fontes, engenheiro agrônomo da associação, esse corte provoca perdas de cerca 2% da lavoura. "Mas não há outro remédio. Tem que ser feita". Mas, segundo ele, o agricultor capixaba normalmente faz um manejo adequado para tentar manter no cabresto a doença surgida em São Paulo no fim dos anos 1960.
Conforme Fontes, a infestação do mosaico saiu do controle em parte por conta da entrada de produtores inexperientes no mercado. Embora não tenha divulgado estimativas para a próxima safra, a Bahia, maior produtor do país, com 910 mil toneladas anuais, compartilha a preocupação do Estado vizinho. A fiscal da Agência Estadual de Defesa Agropecuária, Flávia Fernandes Lopes, diz que a doença do mosaico é séria no Estado e que já levou à erradicação de 40% da área de plantio no oeste baiano neste ano. "No sul, outro polo importante, a situação está razoavelmente controlada".
A perspectiva de uma produção menor já começou a mexer com os preços do mamão. Segundo Rodrigo Martins, da Brapex, o produtor recebe agora, em média, R$ 1,15 pelo quilo da fruta - o consumidor tem pago entre R$ 4 e R$ 5 o quilo - e prefere abastecer o atraente mercado doméstico a atender aos pedidos de exportação. Conforme a associação, no ano passado o Brasil exportou pouco mais de 3% da produção.
O próprio Martins, sócio da UGBP, sigla para "Union of Growers of Brazilian Papaya", resolveu inverter a meta da empresa voltada para exportar ao longo dos últimos três anos e, hoje, Cerca de 70% da produção de 11 mil toneladas fica no mercado interno. O restante continua sendo embarcada para Europa, Canadá e EUA. Segundo recente levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o mamão papaia foi o segundo item que mais subiu para o consumidor no país entre novembro de 2011 e outubro passado - 67,57%, atrás da batata (74,15%).
Na paulista Ceagesp, maior entreposto de legumes, frutas e hortaliças da América Latina, o mamão foi a segunda fruta mais vendida - atrás da laranja - de janeiro a setembro, com 99 mil toneladas e movimentação financeira de R$ 151 milhões.
Veículo: Valor Econômico