A fabricante de calçados Alpargatas, dona da marca Havaianas, está "vasculhando" oportunidades de aquisição na Europa, disse o presidente da companhia, Márcio Utsch.
Durante reunião com cerca de 100 analistas e investidores ontem, em São Paulo, o executivo afirmou que a empresa não ficou satisfeita apenas com a aquisição da grife de vestuário brasileira Osklen, anunciada em outubro.
Utsch disse que os resultados da operação comercial da Alpargatas na Europa tem revelado resultados superiores à dos Estados Unidos. Na opinião do executivo, o europeu tem mais apego à questão da marca do que o americano.
Ele disse que a procura por oportunidades de compra no continente europeu inclui tanto marcas de calçados como de vestuário de alto padrão, segmento que, em geral, opera com margens mais elevadas.
Este ano, a Alpargatas enfrentou o desafio da alta da sua principal matéria-prima, a borracha, uma commodity da cadeia do petróleo. Com pressão nas margens, o lucro da empresa no terceiro trimestre caiu 15,3%, para R$ 74 milhões em relação a um ano antes. No acumulado do ano, o ganho líquido recuou 14%, para R$ 213,6 milhões.
Utsch disse que há uma expectativa de melhora da margem operacional da empresa no quarto trimestre em relação ao terceiro, mas preferiu não comentar sobre o comportamento do indicador na comparação com o mesmo período do ano passado.
Segundo ele, o preço da borracha está cedendo, o que permitirá uma maior "absorção de ganhos operacionais já conquistados" pela Alpargatas. Além disso, num espaço de tempo mais longo, Utsch enxerga uma tendência de queda no preço do petróleo, impactado pela exploração de gás de xisto.
Principal marca da empresa, a Havaianas ganhou reforço produtivo com a construção de uma nova fábrica em Montes Claros (MG). Segundo Utsch, a unidade ficará responsável pela produção de sandálias com maior valor agregado. A confecção dos modelos mais simples ficará a cargo da fábrica de Campina Grande (PB).
Durante a reunião, um investidor presente questionou a suposta governança corporativa "ruim" da Alpargatas. Utsch disse que a governança da empresa era sólida, a gestão apresentava estabilidade e que a não divulgação de alguns números ocorria apenas porque isso poderia "ajudar mais o concorrente do que o investidor".
A Alpargatas não abre o seu desempenho em vendas por marca. Questionado pelo Valor a respeito de uma possível migração da empresa para o Novo Mercado, nível mais alto de governança corporativa da bolsa, Utsch afirmou apenas que "quem pode comentar esse assunto são os sócios".
O acionista controlador da Alpargatas é o grupo Camargo Corrêa, com cerca de 44% do capital total da companhia e a maior parte das suas ações ordinárias (com direito à voto). A Alpargatas é listada no nível 1 da bolsa - o primeiro degrau no segmento de empresas com mais governança.
Veículo: Valor Econômico