Europeus vão dar menos presentes no Natal

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Cristina Valls, uma espanhola de 29 anos que é estilista de moda e mora em Londres, tem uma lista de compras mais longa que de costume neste Natal. Os tempos difíceis no país vão obrigá-la a fazer boa parte das compras de Natal da família. Depois que a crise da zona do euro atingiu a Espanha, seu pai perdeu o emprego de vendedor de carros na Ford Motor Co. Sua irmã, mãe de dois filhos, foi demitida quando a agência de viagens onde trabalhava pediu concordata. "As prioridades mudam quan-do você tem que batalhar para pagar o aluguel e comprar comi-da", diz ela. "Mas sei que continua sendo importante para minha irmã dar presentes para os filhos, então vou comprar alguns."

A família Valls não é a única que terá um orçamento mais apertado nesta temporada de compras. A crise da dívida europeia está entrando em seu terceiro ano, e em toda a Europa os consumi-dores estão contando os tostões. Isso obrigou os varejistas a reduzir os preços e fazer promoções de maneira muito mais agressiva para atrair clientes às lojas. A redução no consumo tende a ser mais grave nos países mais atingidos do bloco de 17 nações da moeda única, inclusive Gré-cia e Portugal. Mas os consumidores de outros lugares também planejam gastar menos. "Como as coisas estão difí-ceis este ano, na nossa família decidimos comprar presentes só para as crianças", diz Marie- Claude Bernard, bancária de 58 anos, olhando as estantes de uma livraria de Paris. É uma tendência dura para o varejo. "As pessoas deixaram de comprar carne de vaca para comprar carne de porco, depois passaram para o frango e agora para as salsichas", diz Alexandre Soares dos Santos, dono majoritário da cadeia de supermercados portuguesa Pingo Doce.

A economia da zona do euro encolheu 0,2% no terceiro trimes-tre, à medida que a austeridade fiscal em grande parte da região pesa sobre a atividade econômi-ca. A crise elevou o desemprego no bloco para 11,6%, um recorde e, na Espanha e na Grécia, para mais de 25%. Os economistas alertam que o ritmo da contra-ção pode se acelerar no quarto trimestre, que tradicionalmente é a melhor época para o varejo. "Nossas margens continuam sendo corroídas", diz Emmanuel Zeller, gerente de um dos hipermercados do Groupe Auchan SA num subúrbio de Paris. Os números iniciais de vendas de Natal sugerem que os adultos estão comprando menos presentes uns para os outros, diz ele, prejudicando as vendas de produtos como DVDs, joias e aparelhos eletrônicos.

Os brinquedos, por outro lado, até o momento apresentam vendas estáveis. Os consumidores na Grécia - o marco zero da crise da dívi-da soberana - planejam cortar gastos com presentes e alimen-tos em 16% nesta temporada de Natal, segundo um estudo realizado pela Deloitte LLP. Na Espanha e na Itália, os consumi-dores estão reduzindo os gastos em até 4%. Livros, cosméticos e vales-presentes são os três prin-cipais presentes que os europeus pretendem comprar este ano, segundo o estudo. Os consumidores franceses estão gastando 0,7% a mais que no Natal passado, mas também estão procurando fazer economia. "Mais do que nunca, os fran-ceses estão sensíveis aos preços, e nove entre dez vão estar à procura de promoções especiais no Natal", diz Stephane Rimbeuf, associado da Deloitte.

A tendência se repete na Itália e em Portugal. Este ano, pela primeira vez, a associação dos lojistas de uma área comercial popular de Milão, na Itália, não conseguiu levantar dinheiro para a iluminação de Natal que normalmente enfeita suas ruas. Tanto a associação nacional italiana de consumidores como a confederação de comércio e serviços de Portugal antecipam queda de uns 20% nas vendas de Natal em relação ao ano passado, em seus respectivos países. É verdade que há bolsões de resistência.

Na Alemanha, a grande potência econômica da Europa, as vendas no varejo nos últimos dois meses de 2012 deverão aumentar 1,5% em relação ao ano passado, para um recorde de 80 bilhões de euros (US$ 103,7 bilhões), segundo a associação alemã de varejistas Handelsverband. Isso apesar de os alemães cos-tumarem ser frugais no Natal, que em geral comemoram em pequenos grupos familiares, com menos abundância de comida do que na França, por exem-plo, onde o patê de "foie gras" e o champanhe são tradições nas festas. Segundo a Deloitte, a família alemã média planeja gastar uns 485 euros no Natal, em comparação com 639 euros da família média francesa. A Irlanda, onde as pessoas cos-tumam gastar muito no Natal, também se destaca.

A Deloitte prevê que as famílias irlandesas vão gastar 966 euros em média este ano, mais que qualquer outro país da zona do euro. Mas a quantia é 1,7% menor que um ano atrás e o terceiro declínio consecutivo em gastos de Natal na Irlanda, que foi forçada a buscar ajuda internacional em 2010. Um estudo realizado pela Liga Irlandesa de Cooperativas de Crédito estima que os gastos cairão para 527 euros por domicilio, já que mesmo os que têm renda estável estão apertando o cinto. John Mc Garry, um policial aposentado de Dublin, a capital irlandesa, planeja gastar cerca de 600 euros em presentes e alimentos este ano. "Antes de 2008, quando as coisas ainda estavam boas, eu talvez gastasse facil-mente o dobro disso", diz. Ele também está adiando a compra de um carro novo há dois anos. "Fico pensando que posso pre-cisar desse dinheiro para algo mais importante", diz ele. É na Grécia que a situação tal-vez seja mais sombria.

Em vez de fazer compras de Natal, o ate-niense Nikos Sarris, que tem 42 anos e está desempregado, vai fazer as malas para ir para Brisbane, na Austrália, com a família. "O Natal deste ano vai ser em algum lugar entre o Oceano Índico e Austrália, pois vamos deixar o país na véspera de Natal, espero que para ter uma vida melhor na Austrália", diz ele. "Nós não queremos ir embora [...] mas as coisas aqui com certeza serão muito difíceis ainda por muito tempo."



Veículo: Valor Econômico


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