Chocotone empata com tradicional

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Quem é fã do panetone tradicional pode ficar arrepiado com a notícia: os chocotones já vendem tanto quanto a versão original, com frutas cristalizadas. A estimativa é do vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Martinho Paiva Moreira, com base nas vendas do produto realizadas nos supermercados paulistas desde setembro até agora. 

 

Até 2006, segundo estimativas dos fabricantes, a participação de mercado da versão de chocolate do quitute natalino era de, no máximo, 40%, sendo que o restante ficava com a receita tradicional. Já no ano passado o chocolate ficou com 40% e o de frutas com 60%. "Há regiões neste ano em que estamos vendendo mais o chocotone do que o de frutas", diz Reinaldo Bertagnon, gerente comercial do Grupo Village, sem revelar quais localidades seriam essas. 

 

Mas, de acordo com Paulo Cardamone, diretor de marketing da Bauducco, o chocotone normalmente é a versão preferida de jovens e crianças. Por isso, o produto vende mais em regiões onde essa população prevalece. "Nos supermercados onde o fluxo maior é de famílias com criança, a maior parte das vendas fica com o panetone de chocolate. Mas onde prevalece o consumidor mais velho, os de fruta ganham", acrescenta Moreira, da Apas. 

 

Por mais que pareça um pecado para os consumidores tradicionalistas, o avanço do chocotone no mercado é bom para a categoria como um todo. "O chocotone ajuda a aumentar o costume de consumo do produto em áreas onde ele não é tão expressivo", diz Cardamone, da Bauducco. Hoje, 60% da população brasileira consome regularmente o pão de origem italiana. "Em São Paulo e no Sul, esse percentual é maior. Mas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda é muito baixo. Nesses mercados, o chocolate é um apelo forte para o produto", diz o executivo da Bauducco, líder do setor, com 70% do volume de panetones industrializados vendidos no país. 

 

Esse "apelo do chocolate" é tão forte que está ajudando também novas marcas a emplacar sua estréia no mercado de panetones. A Nestlé, por exemplo, nunca vendeu o produto, mas neste ano lançou os panetones Alpino, o Classic e o Frutas. Ou seja, mais marcas de chocolate do que de frutas. E isso se reflete também no volume produzido: mais da metade dos panetones com a marca Nestlé (que estão sendo fabricados pelo panifício Casa Suíça) são de chocolate. Além da carona no sabor de preferência dos jovens, a multinacional aposta na força das marcas de dois de seus tabletes e bombons mais vendidos. 

 

O mesmo fez a mexicana Bimbo, dona da marca Pullman. A empresa, que comprou o Panifício Laura em janeiro, também é marinheira de primeira viagem nessa categoria. "Mas aproveitamos todo o 'know-how' da marca Laura, que no ano passado se consolidou como segundo maior fabricante do país", diz Débora Micchi Hila, gerente de panetones da empresa. Além da marca Laura nas versões frutas, chocolate e avelã, e da marca Pullman, pela primeira vez em panetones, a empresa transformou o tradicional bolinho infantil Ana Maria em versão minipanetone no sabor, claro, de chocolate. 

 

E para quem não gosta nem de fruta, nem de chocolate, também não falta opção. A fabricante argentina de alfajores Havana está lançando um panetone (feito no Brasil, também pela Casa Suíça), mas com recheio de doce de leite argentino. 

 

Mas, com tantas marcas novas no mercado - a Bimbo também está lançando no Sul o panetone Nutrella -, será que haverá consumidor para todo mundo? "Claro!", diz o executivo da Bauducco. A empresa, que fabrica o produto no país há 50 anos, aposta na manutenção de sua liderança. "Panetone Bauducco é sinônimo de Natal", diz ele. E, só para garantir, a empresa está investindo 40% a mais em propaganda que nos anos anteriores, totalizando R$ 10 milhões. Assim, a companhia espera um crescimento em volume de vendas para este ano de 10% em relação a 2007 e de 20% em faturamento, já que o produto está em média 10% mais caro. 

 

A Village também não teme os novos concorrentes e já registra vendas 12% maiores que em 2007 (nos dois sabores, em volume e faturamento). "Até o dia 25 devemos chegar a 15% de aumento no total", diz Bertagnon. Chegar mais cedo às prateleiras ajuda para conseguir esse resultado. A Village, assim como a Bauducco, este ano colocaram seus panetones nos mercados a partir da última quinzena de setembro, em vez de esperar o início de outubro. Desse modo, elas chamam a atenção, primeiro, do consumidor "heavy user", ou seja, do viciado em panetone. Mas a retirada do produto continua programada para depois do Natal. "Vender panetone o ano inteiro, embora muitos queiram, ainda é um assunto polêmico", diz Cardamone. (Com Heloisa Magalhães, do Rio de Janeiro) 

 


Veículo: Valor Econômico


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