Diferença de preços de material escolar chega a 176% no Rio

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No mesmo bairro, disparidade é de até 136%, segundo levantamento do GLOBO com dez produtos
   

Sem tempo para enfrentar as papelarias lotadas do início de ano para comprar o material escolar dos pequenos, há quem se deixe abater e faça as compras sem fazer uma cuidadosa pesquisa de preços. Mas isso pode levar os pais a gastarem até 176% a mais num produto, segundo levantamento feito pelo GLOBO, em 12 lojas — seis delas de vendas on-line. Em uma lista com dez itens — com caderno universitário, corretor líquido, resma de papel A4, lápis de cor, estojos de 12 e 24 canetinhas hidrográficas, cola, massa para modelar, caneta Bic e mochila com o tema da Galinha Pintadinha —, foi encontrada uma disparidade de preços de até 136% num mesmo bairro, o de Copacabana, no Rio, onde estão quatro das lojas pesquisadas.

A cesta de material escolar, excluindo livros, subiu 5,31%, segundo levantamento feito pelo economista da FGV, André Braz, com base no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela instituição. Na cesta, estão incluídos cerca de 20 itens de diferentes marcas e especificações, de materiais básicos, como régua, transferidor, compasso e borracha. Os que tradicionalmente mais se valorizam a cada ano, segundo o especialista, são os de temas específicos, que trazem um personagem em destaque no momento.

— Esses produtos, em geral, não acompanham a inflação. E é difícil evitá-los, porque eles causam um impacto emocional grande na criança. Mas há formas de personalizar um material mais em conta — diz.

Além do preço salgado, esses produtos podem se tornar difíceis de encontrar nesse período de alta demanda. Muitas lojas já não têm a mochila da Galinha Pintadinha, sem rodinhas, em tamanho grande, da marca Xeryu's, procurada pelo GLOBO. Na Casa Cruz de Copacabana, terminou na semana passada, informou uma vendedora. Na Papelaria JLM, no Largo do Machado, só se encontrava o tamanho pequeno. Seu preço variou 45%, de R$ 89 no Extra Online a R$ 129,90, na loja onde foi encontrado o maior valor. O conjunto de 24 lápis aquareláveis da Faber Castell mostrou a maior disparidade de preços do levantamento: ele pode ser encontrado por 176% a mais no mercado do que o preço praticado na loja online da papelaria Kalunga.

Mesmo em produtos mais básicos, que tendem a ter uma variação menor de preço, a caneta Bic se mostrou até 100% mais cara no levantamento. O produto mais barato foi encontrado numa pequena papelaria de Copacabana, a Paperbel, o que mostra que, apesar de as grandes redes conseguirem oferecer preços atraentes pelo grande volume de produtos que ofertam, as pequenas também têm itens convidativos e devem estar no roteiro de compras.

Para Braz, a melhor forma de garantir as maiores pechinchas seria fazer a tradicional pesquisa de preços, produto a produto, em diferentes lojas. Hoje, a consulta on-line facilita esse processo. No site da livraria Saraiva, por exemplo, é possível fazer uma busca de listas escolares por colégio. Há cerca de 3.500 listas cadastradas de 350 escolas do país, segundo a assessoria de imprensa da loja. A ferramenta dá o preço de cada item e quanto seria o orçamento final, se comprados todos os produtos disponíveis.

Uma boa forma de economizar, segundo os economistas, é fazer um inventário do material em bom estado do ano anterior que pode ser reutilizado, além de chamar outros pais para fazer uma compra coletiva — o que aumenta o poder de barganha por descontos e permite a compra de produtos mais em conta no atacado — e fazer, sempre que possível, pagamentos à vista, também para conseguir mais abatimentos.

Segundo a economista e educadora financeira Christiane Monteiro, da consultoria Mais Money, é também imprescindível ter em mente quanto se pode gastar com o material escolar para evitar comprar mais do que se pode, e mesmo do que se precisa. Para ela, vale a pena fazer uma lista em ordem decrescente de importância, deixando os supérfluos para o fim para focar no que a criança mais necessita. E deixar os pequenos em casa pode ser um bom negócio para os pais, diz:

— As crianças costumam se encantar com vários produtos e vão querer levar tudo novo. Na semana seguinte, o encanto já vai ser diferente. O melhor a fazer é comprar a maior parte da lista sem elas e deixar alguns produtos especiais, como a mochila, por exemplo, para escolher junto — recomenda.

Quem não foi às compras até agora pode se preparar para encontrar lojas cheias e produtos já em falta. Segundo o economista André Braz, vale a pena ir às lojas o quanto antes e não deixar para a última semana antes do início das aulas, quando dificilmente se encontram promoções-relâmpago. Já Christiane acredita que quem não comprou até agora e pode esperar um pouco pode encontrar produtos mais baratos em fevereiro.

Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, não acredita que haverá mais reajustes de preço até o início das aulas. O melhor a fazer agora, diz, é mesmo procurar.

— O tempo pode ser um aliado ou um inimigo. Vale a pena fazer as compras com calma e procurar regiões que têm mais lojas daquele setor de vendas concentradas.

Ele defende que, se o orçamento estiver apertado, negocie-se com a escola a compra do material que será usado apenas no primeiro trimestre, por exemplo. Para Braz, uma alternativa para não deixar que essa situação aconteça é fazer uma poupança destinada à compra do material

— Se você sabe que gasta cerca de R$ 1.000 com isso, vale a pena fazer poupança para isso e depois pagar à vista. Isso vale para IPTU, IPVA e outras contas. Mesmo que não se consiga acumular o valor total estimado, o que se conseguir já é bem-vindo para amortizar um pouco as despesas grandes do início do ano.


Veículo: O Globo - RJ


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