Mandioca some e farinha vira “ouro”

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Com o andar contínuo e tranquilo e os braços rentes ao corpo, o produtor Ataíde de Souza carrega seu facão para dar início à parte primeira do processo repetido toda semana. A poucos passos da casa que abriga, além de sua própria moradia, o imenso tacho redondo de onde retira a farinha já pronta, o senhor de 59 anos inicia as primeiras horas do dia já sacando a mandioca que, moída e assada, recheará a mesa de muitos paraenses. É dia de torrar farinha.

Realizado antes nos muitos retiros – locais onde é produzida a farinha de mandioca - existentes no município do Acará, a rotina estabelecida por Ataíde, hoje, já não se repete em todo lugar. Nas terras vizinhas de onde, antes, brotavam o ingrediente necessário para a produção da farinha de mandioca, agora, o que se observa é o cultivo de um fruto destinado à produção do biodiesel, o dendê. Com a confiança alimentada por poucos, Ataíde resistiu à monocultura que se instalou em boa parte das terras cultiváveis de Acará. “Tem produtor que vendeu terreno, que se afobou na época em que a farinha não estava dando muito [dinheiro]. Tá faltando mandioca”, atesta. “70% dos produtores venderam suas terras. Tem muita gente que deixou de plantar a mandioca. Eu não vendo de jeito nenhum”.

Enterrado sob a terra escura e fofa, o causador do alto preço da farinha é quase imperceptível. Acomodado sob a terra já cultivada pelo produtor há pelo menos oito anos, o pequeno pedaço de maniva - espécie de graveto de onde brota a mandioca - em nada lembra as mandiocas que tanta falta fazem no município. Passados um ano e três meses e duas capinadas desde a plantação, a terra de Ataíde é uma das poucas que ainda possibilitam a produção da mandioca que tanto lucro tem gerado para produtores e atravessadores. “É desse pauzinho que sai a mandioca. Um pauzinho desse sai cinco ou seis batatas [mandioca] daquelas”, explica, sem esconder o orgulho pela plantação farta. “Para quem trabalha com farinha, tá bom. Vendemos um pacote [de 30 quilos] a R$130. Chegou uma época em que um pacote custava R$18, R$15”.



Veículo: Diário do Pará


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