Mais recentes protagonistas de um lento processo de consolidação do segmento de lácteos do país, Vigor e Itambé apresentam diferenças operacionais que se refletem diretamente na rentabilidade de seus negócios. Enquanto a paulista Vigor vem tentando reduzir sua presença em mercados de menor valor agregado desde antes de abrir o capital, em junho de 2012, a mineira Itambé é muito dependente do leite em pó, "commodity" de margens tênues que sofre forte concorrência de importações de Argentina e Uruguai.
Ainda que possa ser encarada como "complementaridade", a administração dessa diferença será um dos maiores desafios dos novos sócios, que em dois anos pretendem unir definitivamente suas estruturas. Os investidores receberam bem a notícia da aquisição de 50% da Itambé pela Vigor, na quinta-feira, e as ações da companhia paulista subiram 18,3% na sexta-feira na BM&FBovespa. Mas, segundo analistas, a longevidade dessa lua de mel dependerá das cicatrizes que essa costura eventualmente produzir.
"O importante não é só agregar valor. A Itambé atua em um mercado em que a Vigor está longe, que é o do leite em pó no Nordeste. E a posição da Itambé nesse mercado por vezes chega a ultrapassar a primeira colocada, que é a Nestlé ", disse ao Valor o presidente da Vigor, Gilberto Xandó. Uma fatia de 40% do faturamento anual de cerca de R$ 2 bilhões da Itambé vem do leite em pó. O Nordeste concentra 70% das vendas do produto. Na Vigor, a categoria lácteos (que inclui iogurtes, sobremesas, requeijão, parmesão, queijos especiais e cremes) representa 54% do faturamento, da ordem de R$ 1,3 bilhão. Área menos rentável da empresa, o segmento de leite UHT (longa vida) responde por apenas 7%.
Apesar do perfil mais "commoditizado" da Itambé, Xandó confia no potencial de crescimento da área de iogurtes da empresa nos mercados de Minas e Rio de Janeiro. Segundo ele, o aporte de R$ 410 milhões que a Vigor fará na empresa mineira devolverá sua capacidade de investimento. "Nasce uma empresa com endividamento baixo, com chance de poder investir. A Itambé não fez investimentos nos últimos dois anos". A expectativa, agora, é que a "nova" Itambé possa reduzir drasticamente seu endividamento, que chegou a R$ 488 milhões no fim de dezembro, dos quais R$ 380 milhões de curto prazo, segundo Jacques Gontijo, atual presidente da companhia mineira. O executivo será um dos membros do conselho de administração da Itambé assim que o aporte da Vigor for confirmado.
Num primeiro momento, Vigor e Itambé - que se tornou uma S.A. em dezembro - terão operações independentes, e a segunda terá seu controle divido entre a própria Vigor e a Cooperativa dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), única acionista da Itambé até então. A expectativa de Xandó é unir as duas empresas em um prazo de dois anos. "Queremos dar um passo de cada vez. Lá na frente, faz muito sentido juntar o que tem de melhor na Itambé e na Vigor para fazer uma empresa melhor".
Antes da união, a Vigor também terá de lidar com seu maior endividamento, decorrente da aquisição dos 50% da Itambé. No fim de setembro, a dívida líquida da empresa somava R$ 31,9 milhões. Segundo Xandó, a Vigor prosseguirá com seu plano de investimentos, que inclui um aporte de R$ 180 milhões na construção de um centro de distribuição e uma fábrica no Rio de Janeiro nos próximos cinco anos.
"Não tem mudança de curso. Só vamos passar por um período de transição, com um nível de alavancagem maior, mas vamos encontrar soluções no médio prazo para que fique mais próxima do que temos hoje". No fim de setembro, a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da Vigor foi de 0,44 vez.
Veículo: Valor Econômico