Com o aumento de renda da classe C, o formato de atacado tem crescido a passos largos no Brasil, principalmente no nordeste, local onde o grupo social tem forte influência. Há um consenso, aliás, entre as três maiores redes supermercadistas do País - Grupo Pão de Açúcar (GPA), Walmart e Carrefour - em ampliar suas atividades na região, que cresce a cada ano e mantém ainda ritmo chinês. "O avanço está associado, sobretudo, à expansão geral da renda, em especial da classe C, no bojo de uma maior mobilidade social", disse Valdeci Monteiro, sócio-diretor da Ceplan Consultoria, e professor de Economia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Novos hábitos de consumo - gerados com o enriquecimento da população - também implicaram em alterações no modelo de negócio, cuja essência é vender em grande quantidade a preços acessíveis. "As mudanças no perfil do consumo estimularam um novo padrão de atacado, com diferenciais de preços, condições diversas de pagamento e maiores opções de vendas, o que inclui produtos importados", como destacou Monteiro.
Vale lembrar que o público dos atacados vai desde os pequenos e médios comerciantes, ao consumidor final, sendo este último observado pelos players com atenção redobrada.
"A compra em volume tem sido um mecanismo utilizado cada vez mais pelas famílias brasileiras para reduzir o orçamento", comunicou, em nota, o presidente do Assaí, representante do autosserviço do GPA, Belmiro Gomes.
O principal atrativo apontado pelos executivos, e considerado responsável pelo sucesso das unidades no nordeste, é o preço. "O consumidor da região é muito focado em preço, que, aliás, é um dos nossos diferenciais", explicou Priscila Vicente Ferreira, diretora distrital de lojas do Maxxi Atacado, do norte-americano Walmart, no nordeste.
Novas metas
Representante do GPA no modelo de atacados, o Assaí estipulou como meta para os próximos três anos abrir mais 60 unidades - 25 delas só no nordeste. Com investimentos na casa dos R$ 35 milhões, Maceió (AL) foi a primeira cidade a colocar o plano em prática. "Nós tivemos uma inauguração muito acima do esperado. As previsões são muito boas. Nós acreditamos no nordeste de uma forma geral. A aceitação da população é visível. A expansão vai ser agressiva", disse o diretor operacional da corporação, Anderson Castilho, em entrevista ao DCI, logo após o lançamento da loja.
Na mesma conversa, ele falou sobre as próximas inaugurações: uma na cidade de São Paulo (SP), prevista para março, e a outra em Cuiabá (MG), para este mês.
Deixando a concorrência ainda mais acirrada, o Maxxi Atacado, do Walmart, que está presente em todos os estados nordestinos, com exceção do Maranhão e Sergipe inaugurou neste ano um estabelecimento em Mossoró (RN), e até o final do primeiro semestre prevê a entrega de mais um em Itabuna (BA), que está em fase de construção. A rede opera tanto nas capitais como no interior, conforme observado pela localização dos recentes lançamentos.
"A Região Nordeste é estratégica para o Walmart. É nessa região onde está concentrado o maior número de lojas da empresa. E para atendermos ainda mais os nossos consumidores nordestinos, apostamos em lojas como o Maxxi, que apesar de atender a dois tipos de público - pessoa jurídica e consumidor final - possui uma estrutura simples, com gôndolas e espaços diferenciados", como destacou Priscila Vicente.
Outro gigante do setor, o Atacadão, do grupo francês Carrefour, acabou de inaugurar a sua 28ª unidade no nordeste, no município de Caucaia (CE).
"O avanço do segmento de atacado na região está atrelado a importantes fatores econômicos, como o aumento de renda da população, o potencial de consumo da classe emergente, maior acesso ao crédito, economia em expansão e espaço para instalação de novas lojas", informou, por meio de nota, a assessoria da rede, também procurada pela reportagem.
A empresa justificou a nova abertura nos resultados positivos proporcionados pela região aos estabelecimentos, que já atuam por lá há algum tempo, assim como o fez um dos seus maiores concorrentes, o Assaí. O representante da última rede do GPA, Anderson Castilho, havia dito que a empresa se inspirou na operação de João Pessoa (PB) para projetar a ampliação da marca sobre a região. "De uma forma geral, o autosserviço tem uma aceitação boa em todos os estados. Nós estamos com uma boa repercussão desse formato", concluiu.
Particularidades
Assim como em outros setores da economia, o atacado nordestino possui algumas peculiaridades em comparação às demais regiões. De acordo com Anderson Castilho, do Assaí, a rede chega a região trazendo uma nova concepção da marca e colocando em prática a reformulação prevista no projeto.
"As unidades em São Paulo - cidade onde a bandeira fez sua estreia - são menores e mais antigas. Os estabelecimentos do novo projeto, como, por exemplo, o de Maceió, são maiores e adaptados ao atendimento de um grande número de público", disse. A loja recém-aberta em Alagoas possui 5.320 mil metros quadrados de área de vendas, 22 caixas e 260 vagas de estacionamento.
Já o Atacadão, de Caucaia - segunda cidade mais populosa do Ceará - detém 6.300 m² de área construída, e pretende fazer o atendimento de 120 mil moradores locais e de cidades vizinhas, como Fortaleza, São Gonçalo do Amarante e Maracanaú. Isso desacorda com as ideias de alguns especialistas, que defendem a redução do tamanho dos supermercados, como tendência futura, com o objetivo de otimizar as vendas.
O motivo seria a busca incessante do consumidor por flexibilidade e praticidade, já que em locais maiores a procura por determinados produtos o obriga a gastar mais tempo. Em contrapartida, estabelecimentos de grande porte disponibilizam uma variedade maior de mercadorias - reservando espaços consideráveis para a área de refrigerados e importados.
Veículo: DCI