Oxfam avalia cadeia de produção de grandes grupos

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Grandes empresas de alimentos e bebidas evoluíram no monitoramento de suas cadeias produtivas, sobretudo em questões que ganharam mais relevância nos últimos anos, como o uso da água. Mas a lupa sobre o comportamento de seus fornecedores ainda não passa perto de assuntos igualmente relevantes - seja o apoio a pequenos agricultores, às mulheres do campo ou aos direitos à terra. Entre as dez maiores empresas de alimentos do mundo, são raros os compromissos claros para esses segmentos.

A constatação é feita pela britânica Oxfam, uma associação de organizações que trabalham pelo fim da pobreza e da desigualdade no mundo, que divulga hoje o primeiro estudo com foco na atuação das companhias de alimentos e bebidas mais representativas segundo critérios de faturamento, presença global e força de marca.

"Na Índia, são as mulheres quem plantam e colhem a lavoura, mas elas ainda não tem direito de serem proprietárias da terra", diz Muriel Saragoussi, coordenadora da Oxfam no Brasil. "Ao mesmo tempo em que se preocupam hoje com o ambiente e as emissões de gases, não está no radar das empresas a questão da mulher que, diferente do trabalho infantil, é silencioso porque não chama tanto a atenção", acrescenta, mostrando a necessidade de essa parcela dos trabalhadores entrar nas políticas corporativas. Conforme a Oxfam, as mulheres formam 43% da mão de obra agrícola no mundo.

Intitulado "Por trás das marcas - Justiça alimentar e as 10 Grandes empresas de alimentos e bebidas", o relatório faz parte de campanha "Cresça: abra a boca para acabar com a fome", lançada pela Oxfam em mais de 45 países na tentativa de promover debates sobre iniciativas que podem ser tomadas para reverter a fome mundial em um mundo de recursos limitados.

O relatório analisa o estado das políticas de Associated British Foods (dona da Ovomaltine e Twinings), Coca-Cola, Danone, General Mills, Kellogg, Mars, Mondelez International (antiga Kraft Foods), Nestlé, PepsiCo e Unilever, e destaca pontos fracos, de modo que ações possam ser propostas para a melhoria na cadeia de fornecimentos de alimentos. Foram observados temas considerados cruciais para a produção agrícola sustentável, mas negligenciados: mulheres, agricultores familiares e de pequena escala, água, terras, mudança climática e transparência.

Segundo esses critérios, Nestlé e Unilever apresentam melhor desempenho que outras empresas, tendo desenvolvido e publicado mais políticas visando combater riscos sociais e ambientais nas cadeias de fornecimento. Na outra ponta, ABF e Kellog têm poucas políticas para o impacto de suas operações em produtores e comunidades.

"O ranking também mostra que todas - inclusive aquelas com melhores notas - não utilizam o enorme poder que têm para ajudar a criar um sistema alimentar mais justo. De fato, em alguns casos, essas empresas prejudicam a segurança alimentar e a oportunidade econômica dos mais pobres, acentuando a fome dessas pessoas", afirma o levantamento.

Baseados em dados disponíveis nos sites das matrizes desses empresas e em seus relatórios de sustentabilidade, a Oxfam identificou entre as falhas mais importantes destas políticas o excessivo sigilo sobre suas cadeias de fornecimento de matérias-primas, tornando as alegações de sustentabilidade e responsabilidade social difíceis de verificar. Além disso, nenhuma tem políticas adequadas para proteger as comunidades locais da apropriação de terra e água ao longo das cadeias de fornecimento, nem propicia acesso adequado de produtores de pequena escala e agricultores familiares a essas cadeias. Uma minoria faz algo para evitar a exploração de agricultoras nas cadeias de fornecimento.

"Pagamento de salários adequados aos trabalhadores, preço justo para os agricultores e avaliação e eliminação da exploração abusiva da terra, da água e do trabalho são medidas que definitivamente estão ao alcance dessas poderosíssimas empresas". De acordo com a entidade, a análise das empresas ganha relevância no momento em que a Europa e outros países discutem a importância do controle sobre a cadeia produtiva de alimentos.

Juntas, as "dez grandes" geram receitas diárias de mais de US $1,1 bilhão e empregam milhões de pessoas direta e indiretamente.

 

 

Veículo: Valor Econômico


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