As incertezas que rondam 2009 já provocam uma onda de demissões e paralisações temporárias nas fábricas de eletrodomésticos e nas indústrias que fornecem peças para esse segmento, cujas vendas são altamente dependentes da concessão de crédito para os consumidores. Após a crise de liquidez no sistema financeiro, a queda da demanda preocupa executivos do setor, que se queixam que o governo ainda não demonstrou sensibilidade para ajudar a indústria de linha branca, ao contrário do que fez com o setor automobilístico.
A Tecumseh, que produz compressores para refrigeradores e condicionadores de ar , demitiu cerca de 400 funcionários desde outubro e, nesta semana, deu férias coletivas para grande parte dos seus 4 mil funcionários na sua fábrica em São Carlos (SP). A multinacional americana parou a unidade no dia 15 e espera reabri-la no dia 6 de janeiro.
Procurado pelo Valor, um representante da Tecumseh afirmou que os seus maiores clientes - tanto no Brasil como no exterior - ainda não entregaram uma previsão de demanda para 2009, o que leva a empresa a ser cautelosa. "Estamos no meio das negociações com os nossos clientes. O cenário ainda é muito incerto", disse o executivo. Metade da receita da empresa é obtida com exportações e a demanda mundial por eletrodomésticos caiu fortemente após a crise.
A maior cliente da Tecumseh, a Electrolux, anunciou, globalmente, que fará a demissão de 3 mil funcionários e já suspendeu parte da produção neste fim de ano no Brasil. A multinacional sueca dará férias coletivas entre os dias 22 de dezembro a 5 de janeiro para 1,5 mil dos seus 4,2 mil funcionários no Paraná, medida que não era normalmente usada pela multinacional sueca, segundo informações do presidente do sindicato dos trabalhadores de Curitiba, Paulo Bastos. Segundo ele, 95 pessoas foram demitidas nas unidades do grupo na capital paranaense no início de dezembro.
Na unidade de São Carlos, onde a Electrolux produz lavadoras de roupa, freezers e fogões, todos os 1,5 mil funcionários foram para casa nesta semana e devem retornar ao trabalho dia 6 de janeiro, afirmou o presidente do sindicato dos metalúrgicos da cidade, Emídio Manzino. Procurada, a Electrolux não se pronunciou sobre as informações fornecidas pelos sindicatos.
Sobre as demissões anunciadas pela matriz, a Electrolux afirmou, em comunicado à imprensa, que a "medida foi motivada pelo enfraquecimento na demanda global e que as demissões estão previsto para ocorrer em unidades da empresa no mundo todo".
Segundo o comunicado, "no Brasil, a redução dessa demanda não tem se mostrado relevante para a Electrolux. A empresa reforça que vem empenhando todos os esforços para que 2009 seja um ano de crescimento , mantendo-se otimista em relação ao futuro desempenho da economia global e nacional".
A Tecumseh é a maior empregadora de São Carlos, município de cerca de 200 mil habitantes, onde está instalada há 35 anos. A cidade possui cerca de 13 mil metalúrgicos e, desses, cerca de 8 mil estão em férias coletivas, estima Manzino. Essa é a primeira vez que a Tecumseh recorre às férias coletivas.
A Electrolux, além das demissões e férias coletivas, teria colocado na gaveta um projeto para abertura de uma terceira unidade no Paraná, que ficaria no município de Campo Largo, em imóvel onde já funcionou no passado a montadora Chrysler e a empresa de motores de pequeno porte para exportação TMT Motoco.
Veículo: Valor Econômico