As companhias do futuro acolherão profissionais de visão, capazes de apresentar inovações e introduzir mudanças. Esta deverá ser a alma do novo modelo organizacional que fará frente aos novos padrões socioeconômicos. Francisco Belil, conselheiro da Siemens, sabe claramente que o mercado de trabalho mudou e que, para conquistar novos talentos, será necessário inovar na seleção e no desenvolvimento profissional. Não há mais sentido em ocupar uma mesma função ou um mesmo cargo ao longo de uma vida inteira profissional. Belil apresentou esta e outras reflexões acerca do tema de recursos humanos durante um encontro organizado em Madri pela Associação Espanhola de Diretores (AED), que contou com especialistas em gestão de pessoas.
O conselheiro da Siemens defendeu que idéias como "a pessoa é o principal ativo de uma empresa" e que "o valor de uma empresa" está nos seus funcionários e não nas suas máquinas acabam esvaziando-se quando não implementadas de fato. Estamos realmente aplicando as melhores políticas para melhorar os talentos? Belil explicou que "o talento é abundante, mas precisa ser encontrado, desenvolvido e fazer com que se comprometa com os objetivos da empresa". Para ele, "ou inovamos na gestão de pessoas ou jamais podemos inovar nos produtos. Se o comprometimento dos empregados for fraco, há algo que não vai bem."
Para responder a estas dificuldades, Belil expôs as características que deverão nortear as empresas do futuro: "Elas estarão dispostas a mudar, serão sensíveis a clientes mais exigentes, serão companhias globais e estarão comprometidas com seus funcionários. No futuro, "60% dos postos de trabalho que serão ocupados por nossos filhos ainda não existem e precisamos nos preparar para isso". Desta forma, procurou estimular os diretores presentes no evento a lançar mão de todos os meios de que dispõem para criar um novo horizonte na gestão de recursos humanos.
Em sua opinião, a baixa produtividade, as intermináveis jornadas de trabalho e as aposentadorias antecipadas que caracterizam o mercado de trabalho espanhol prejudicam o país em relação ao resto do mundo. Neste sentido, mencionou os países nórdicos, os Estados Unidos e o Canadá como referências, já que estão "recorrendo às novas tecnologias para inovar na gestão de talento e, então, fazer o mesmo na gestão de produto". A partir destas premissas, Balil elaborou uma relação de propostas:
- Selecionar aqueles profissionais capazes de agir e de pensar de modo inovador, aqueles que "levantam questões e mostram-se abertos a novas idéias". Para confirmar esta tese, ele citou as palavras de Steve Jobs, presidente da Apple: "Precisamos de talentos que se sintam bem em situações de incerteza". Segundo Belil, "necessitamos de pessoas que sejam capazes de pensar a partir do zero e que sejam capazes de fazer isso naturalmente".
- É preciso incentivar as tentativas de mudança, por meio de erros e acertos. "Aqueles que não punem os erros de seus empregados são aqueles que verão inovações em seus setores."
- Incorporar a inovação à identidade e cultura da empresa. "A formação e o desenvolvimento das empresas dependem de um líder criativo e empreendedor. Por esta razão é importante investir no DNA da companhia." Belil citou o exemplo da 3M: "A cultura da empresa está ligada à inovação, de modo que buscam transmitir a seus funcionários a idéia de que se aprende com os erros e que se não houver erros, nada de novo acontecerá. Também são premiados os êxitos por meio de fortes programas de reconhecimento.
Em suas conclusões, Belil, longe de fugir de suas responsabilidades em meio ao atual cenário de crise econômica, afirmou: "Somos parte do problema e de sua solução. Se não podemos mudar esta situação, quem poderá? Teremos que ser os primeiros a agir".
No entanto, lembrou que da crise também podem nascer boas idéias. "Historicamente, as crises têm sido a ante-sala das grandes idéias que contribuíram para mudar toda a sociedade. Podemos tirar algo de positivo desta experiência e deixar os empregos da vida inteira para trás, já que não são mais coerentes com as mudanças que estamos vivendo hoje", afirmou. "As empresas precisam que formar profissionais que possuam uma empregabilidade constante e isso não se consegue trabalhando das 8 às 17 horas dos 20 aos 65 anos de idade. Na Siemens, para fomentar nossos talentos optamos por mudar os empregados de cargos de tempos em tempos, de modo que ambos, empresa e empregado, possamos crescer", concluiu.
Veículo: Gazeta Mercantil