Cautela nas compras e fé na venda de frutas secas

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A Casa Irmãos Borges se instalou no Mercado Municipal Paulistano, em 1949, exatos 16 anos após a sua inauguração. O forte da mercearia eram os cereais. Depois de passar de pai para filho e hoje ser comandada pelos netos e bisnetos, o estabelecimento decidiu mudar completamente o tipo de produto das prateleiras. A família, descendente de portugueses, constatou que estava perdendo a competitividade para os supermercados e passou a pesquisar outros produtos. Há seis anos Wagner Borges, um dos netos, viu nas importações de produtos uma área de negócios mais promissora e foi certeiro na decisão. 

 

Hoje, quem chega ao Mercado pela avenida Senador de Queiroz e caminha até o final do corredor "A" pode devorar com os olhos centenas e centenas de produtos vindos da Turquia, Portugal, Chile, Argentina entre outros países numa das bancas mais tentadoras do lugar. Nessa época do ano, são as frutas secas as que chamam mais atenção. As glaciadas como damasco e morango prometem ser a sensação deste Natal, ao lado do abacaxi desidratado. 

 

Os produtos foram escolhidos a dedo e as encomendas feitas com muita antecipação, o que permitiu ao empresário passar a largo da disparada do dólar. Mas ainda assim os preços praticados este ano estarão entre 30% e 40% superiores aos de dezembro de 2007. A carteira de clientes é composta pelas classes A e B e 80% dos produtos são consumidos pelos hotéis cinco estrelas e apenas 20% ficam no varejo. "O damasco, a ameixa e pêra custam hoje ao consumidor 40% mais caro e as demais frutas secas subiram 30%", conta Wagner Borges, responsabilizando o câmbio pela alta. Receoso com a crise financeira global, ele diz que preferiu reduzir o volume em 30% em relação ao último Natal. "A situação é de dúvida e temos de agir com cautela para não quebrar." 

 

Esse pé atrás de alguns importadores, por conta da reviravolta no mercado, é que incentivou a La Violetera, que fica dentro da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), a importar um volume de frutas secas 20% superior ao do ano passado. "Muitas empresas não quiseram importar por conta da alta do dólar e há falta de frutas secas no mercado", conta Nilton Rodrigues Paiva, gerente de vendas. Com oito lojas no país, a La Violetera comercializa mais de 50 tipos dessas frutas, tendo a uva passa preta como carro-chefe. 

 

"O faturamento que no Natal passado ficou em R$ 3,2 milhões deverá passar de R$ 4 milhões no próximo mês", calcula. Mas os preços do atacadista que tem na sua carteira de clientes supermercados peso pesados como Pão de Açúcar, Carrefour, Sonae, entre outros, ficarão mais amargos. "Os aumentos são da ordem de 25%", admite. Segundo ele, no entanto, uma caixa de uva passa preta com dez quilos, que em dezembro passado saia a R$ 30,00, custa hoje entre R$ 48,00 e R$ 50,00", diz. Essa alteração no preço, no entanto, representa um acréscimo de 67%, bem distante dos 25% calculado por ele. Apesar da disparada nos preços, a La Violetera tem certeza que o volume de vendas tende a crescer pelo menos 20% se comparadas ao Natal de 2007. 

 

A vizinha Benassi Importação e Exportação Ltda na Ceagesp entrou na área de frutas secas há quatro anos e o resultado tem sido satisfatório, segundo Eduardo Benassi, diretor da empresa. No Natal passado, ele trouxe quatro contêineres de castanha e este ano decidiu mais que dobrar e oferecer à sua clientela supermercadista vários tipos de frutas secas desidratadas com leve adição de açúcar, importadas da Ásia. "Foram nove contêineres que já estão quase todos vendidos", comemora. Para garantir as vendas, Benassi optou por repassar apenas uma parte da alta dos custos para seus clientes. "Os reajustes ficaram entre 15% e 20%". 

 

Segurar os preços e praticar os mesmos patamares da tabela do mês de agosto será a estratégia da Casa Santa Luzia, que fica na região dos jardins, em São Paulo, desde 1926 no mercado. A lista de encomendas, assim como nas demais importadoras, começa a ser feita em março e fecha em abril. "Toda a mercadoria já está em casa. Só falta a castanha que está sendo embarcada em Portugal", conta Jorge da Conceição Lopes, diretor comercial, há 58 anos na Santa Luzia. Pelos seus cálculos, esse produto terá o preço majorado entre 10% e 20% em relação ao último Natal. O carro-chefe do Natal, na Santa Luzia, é o damasco, apesar de a loja ter um sortimento de cerca de 50 tipos diferentes de frutas secas. 

 

Com uma clientela classes A e B, a centenária loja decidiu comprar para este Natal o mesmo volume comercializado no ano passado. "Foram vendidas 150 toneladas de frutas secas no Natal passado e para esse ano foi comprado o mesmo volume", diz. A decisão do diretor em manter o mesmo nível de encomenda, explica, ocorreu pelo fato de as frutas frescas disputarem com as secas. "Isso tem acontecido já há alguns anos", lembra. O consumo de amêndoa, avelã e as nozes, segundo ele, tem caído cerca de 10% desde 2006. 

 

Depois de encerrar as compras para o Natal, a La Violetera baixou uma ordem em todas as suas lojas: suspender as compras em todos os segmentos. "Estamos estocados e agora é preciso cautela para ver o que acontecerá com a economia. O ano de 2009 será uma incógnita", diz Paiva. Essa preocupação não ocorre apenas na banca da Ceagesp. Borges, que diz ter crescido atrás do balcão na banca dos pais, no Mercado Municipal, não esconde sua inquietação. "Na área de importados se ganha mais, porém a situação agora é de dúvida. É preferível dar um passo e ficar em pé do que ir em frente e quebrar", profetiza. Foi por isso que Borges decidiu reduzir suas compras em 30% neste ano. 

 

Veículo: Valor Econômico


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