A seca que devastou a produção de grãos nos EUA em meados do ano passado e reduziu em pouco mais de 100 milhões de toneladas as colheitas de soja e milho no país na safra 2012/13 também afetou o trigo de inverno no país. Plantado a partir de agosto, o cereal "herdou" um solo em geral ressequido - o que catapultou os preços na bolsa de Chicago à casa dos US$ 9 já em setembro -, mas o recente retorno da umidade ao cinturão de produção americano já tirou suporte dos preços.
Segundo Renan Gomes, da consultoria Safras & Mercado, o clima nos EUA tem exercido efeito decisivo sobre os preços internacionais do trigo desde dezembro. "Como o rumo dos preços da commodity estava muito dependente das condições do tempo no país, que é o maior exportador mundial, todos voltaram suas atenções para lá". Mas chuvas e nevascas ganharam força nos últimos 15 dias, o que esvaziou os prêmios de risco climático sobre os preços.
Segundo a agência Dow Jones Newswires, previsões do Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA indicam pouca probabilidade de chuvas nas Grandes Planícies dos EUA (onde se concentra a produção de trigo no país) nos próximos cinco dias, mas em um horizonte de seis a 14 dias as projeções confirmam que há chance de precipitação acima da média - o que não resolveria o problema, mas já traria algum alívio.
Conforme Pedro Dejneka, da PHDerivativos Consultoria, os agentes de mercado chegaram a cogitar uma quebra de 20% na produção dos EUA caso a estiagem persistisse. "Mesmo com a volta da umidade, podemos ver uma produção entre 5% a 10% menor que a esperada inicialmente". No início de fevereiro, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) previu a safra 2012/13 do país em 61,7 milhões de toneladas.
Nesse contexto, Gomes, da Safras & Mercado, diz que há a possibilidade de a commodity recuar ao nível de US$ 6,50 por bushel no curto prazo em Chicago. Mas Dejneka ressalta que os fundos estão com posições vendidas recorde, por isso o mercado estaria suscetível a um "rebote violento", sobretudo se não houver chuvas ou neve nas próximas semanas nas regiões produtoras dos EUA.
"Os movimentos de alta podem ser temporários ou pode haver uma retomada mais duradoura, caso se firme a demanda pelo trigo dos EUA e haja a confirmação de uma safra menor que a esperada. Ainda vejo potencial para o cereal subir para US$ 7,50 a US$ 7,70 por bushel nos contratos de maio e julho", previu. Na sexta, maio fechou a US$ 7,2050 por bushel, em alta de 6 centavos.
Veículo: Valor Econômico