Uma semana antes de deixar o poder, o premiê Wen Jiabao anuncia que país vai ampliar seus gastos públicos e o seu endividamento
A China vai aumentar os gastos e a dívida pública para alcançar crescimento ao redor de 7,5% neste ano e reforçar os esforços para mudar a estrutura de sua economia, com aumento do consumo doméstico e redução das exportações e dos investimentos na composição do PIB.
Esses objetivos foram traçados ontem pelo primeiro-ministro Wen Jiabao, em seu último discurso na abertura do Congresso Nacional do Povo antes de transferir o cargo a seu sucessor, Li Keqiang, na próxima semana.
A meta de 7,5% para a expansão do PIB é a mesma do ano passado, quando os dirigentes chineses abandonaram a mágica cifra de 8% e deram adeus ao crescimento médio anual de 10% que havia vigorado por três décadas.
Em 2012, o PIB da segunda maior economia do mundo aumentou em 7,8%, a menor taxa desde 1999, com forte desaceleração em relação aos 9,2% registrados em 2011 e aos 10,3% de 2010.
O menor índice é considerado mais sustentável, mas continua acima da média de 7,0% prevista no Plano Quinquenal para o período 2011-2015, que enfatiza a necessidade de estimular a demanda doméstica e reduzir a dependência de investimentos e exportações como fonte de crescimento.
Apesar da retórica oficial, poucas mudanças estruturais foram realizadas nesse sentido e os investimentos continuam a ser o principal motor da expansão do PIB.
Os objetivos de Pequim para 2013 contemplam a ampliação de recursos para áreas sociais, como saúde, habitação popular e previdência, o que pode aumentar a renda disponível para o consumo que sobra no bolso da população.
Para isso, o déficit público passará de 1,6% do PIB em 2012 para 2,0% neste ano, o equivalente a 1,2 trilhão de yuans (US$ 193 bilhões ou R$ 380,6 bilhões). Desse total, 850 bilhões de yuans correspondem a gastos superiores à receita do governo central, enquanto os restantes 350 bilhões dizem respeito a bônus que serão emitidos por Pequim em nome de províncias e municípios.
Fragilidades. Diante da fragilidade de seus principais mercados, a China reduziu para 8% a meta de expansão de seu comércio exterior (soma de exportações e importações). No ano passado, o aumento foi de 6,2%, bem abaixo dos 10% almejados pelo governo e dos 22,5% registrados em 2011.
"O crescimento econômico mundial continuará a ser lento. A demanda das principais econômicas se manterá em geral fraca. Todas as formas de protecionismo estão claramente se reafirmando", disse relatório apresentado ao Congresso Nacional do Povo pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, responsável pelo planejamento de longo prazo.
A fragilidade das exportações intensifica a necessidade de reestruturação do modelo de crescimento. "O desenvolvimento desequilibrado, descoordenado e insustentável continua a ser um problema proeminente", declarou Wen, repetindo a expressão que forjou em 2007 para descrever a situação da economia chinesa.
Gastos fixos. Entre as ameaças diante do país, o primeiro-ministro mencionou potenciais riscos no setor financeiro, a desaceleração na receita do governo com ampliação dos gastos fixos e o conflito entre a queda no ritmo de crescimento do PIB e o aumento do excesso de capacidade produtiva do país.
Wen Jiabao também ressaltou que a economia continuará "sob considerável pressão inflacionária". Ainda assim, a meta de alta de preços ao consumidor foi reduzida de 4% para 3,5% neste ano.
Entre os fatores que podem aquecer a inflação, o primeiro-ministro mencionou as políticas de expansão monetária adotadas em nações desenvolvidas e a alta nos preços domésticos de terra e de salários.
Pequim pretende manter alto o ritmo de expansão dos investimentos do país no exterior, que deram um salto de 28,6% no ano passado, para US$ 77,2 bilhões. A meta é que o volume alcance US$ 88,7 bilhões em 2013, o que representaria uma alta de 15% em relação a 2012.
Veículo: O Estado de S.Paulo