Durante uma hora, reportagem flagra 236 veículos, de 20 empresas diferentes; medida completa um ano
Sindicalista afirma que empresas preferem paga multas a deixar veículo parado, o que é negado por companhias
Um ano depois da restrição imposta pela prefeitura à circulação de caminhões na marginal Tietê, empresas e caminhoneiros autônomos ainda desrespeitam a regra.
Desde 5 de março de 2012, veículos pesados foram proibidos na marginal e em outras vias da cidade das 5h às 9h e das 17h às 22h.
Ontem, a Folha contou 236 caminhões das 8h às 9h, só em um sentido da via. Não foram contadas exceções como veículos de coleta de lixo, alimentação e construção civil.
Parte desses caminhões flagrados pertencia a transportadoras -foram contadas 20 empresas diferentes.
"A empresa tem compromisso com o cliente de fazer a entrega. O empresário faz as contas e vê que compensa levar multa a ter um caminhão parado tanto tempo", diz Norival Silva, presidente do Sindicam (sindicato dos caminhoneiros autônomos).
O caminhão que burla a restrição leva multa de R$ 85,13. No caso de empresas, outra multa do mesmo valor é aplicada quando o condutor não é indicado.
"E quem paga a conta é a população, pois esse valor é repassado ao frete. O empresário não tem como fazer diferente", afirma Silva.
As multas a caminhões foram as que mais cresceram na cidade em 2012, segundo balanço da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) -alta de 39% no item relativo à circulação em hora proibida.
Oficialmente, as empresas negam que estejam preferindo as multas a deixar de transitar na marginal Tietê. Para Manoel Souza Lima Jr., presidente do Setcesp (sindicato das transportadoras), o número de multas tem a ver com a dificuldade de sair da marginal no horário da restrição.
"Um caminhão que vem de Pernambuco e vai ao Rio Grande do Sul tem que ter uma mira danada para conseguir passar no horário certo. Ele acaba preso pelo trânsito", diz.
O empresário diz ainda que as restrições implantadas por cidades vizinhas deixaram ainda mais difícil o planejamento, pois os horários não são coincidentes.
ACOSTAMENTO
Para evitar multas, caminhoneiros recorrem a postos e paradas pelo caminho. "Pouco antes das 9h ou das 17h, o acostamento da via Dutra fica lotado. Quando dá o horário parece aquele estouro de boiada", diz o caminhoneiro Amauri Alquati, 46, há 20 anos nas estradas.
Ele diz que são comuns os roubos de veículo e de carga, principalmente à noite. Especialistas também alertam para o risco de acidentes -no local há placas de aviso.
Outros profissionais, em especial os autônomos, revelam recorrer a artimanhas para burlar a fiscalização, como entortar a placa do caminhão.
Pesquisa sobre cargas pode alterar regras
A CET não divulgou balanço da restrição, mas técnicos confirmam que não identificaram variação significativa um ano depois. A gestão Fernando Haddad (PT) diz que espera uma pesquisa sobre o transporte de cargas para decidir se haverá mudanças nas regras. O resultado deve sair em 80 dias.
Veículo: Folha de S.Paulo