A desvalorização de quase 40% do café, em um ano, desacelera o ritmo das negociações em torno do grão, que estão cerca de 10% mais lentas neste período.
Segundo especialistas, a passividade dos compradores em relação à oferta e a postura dos cafeicultores, retendo produto à espera de uma elevação de preços, colocam ainda mais em risco as cotações da commodity. Com a entrada da nova safra, em junho, os valores podem despencar.
Depois de uma colheita recorde que compôs estoques de 1,6 milhão de sacas (60 quilos) ano passado, o excedente de oferta fez cair o volume de negociações, que eram de 67% (36,75 milhões de sacas) da produção total em fevereiro, ante 79% no mesmo mês de 2012, segundo análise do especialista Gil Barabach, da consultoria Safras & Mercado.
"O principal fator dessa redução é a postura mais lenta e comedida dos compradores, que consideram o cenário de crise e estão confortáveis quanto à oferta", observa Barabach. "A maior ameaça, em função disso, é quando se emendarem as safras [2012/2013 e 2013/2014]", ele prevê.
O excesso de oferta provocaria, então, uma derrubada de preços, segundo o especialista. A Safras & Mercado projeta uma temporada ainda mais volumosa para o próximo período, com uma colheita de 54,4 milhões de sacas e acúmulo de estoques de três a quatro milhões de sacas.
"Sensação de estoque alto"
A Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), que dispõe de aproximadamente cinco milhões de sacas para vender - e que é a maior organização cafeicultora do País -, apura ritmo 15% mais lento na comercialização do produto neste ano. 60% do volume total produzido pela empresa foram vendidos até agora, na safra de 2012/2013, ante 75% no mesmo período da temporada anterior.
"O produtor, por conta do baixo preço, não quer colocar o produto no mercado", diz o superintendente de Mercado Interno da Cooxupé, Lúcio Araújo Dias. "Se o preço não subir, o pessoal não vai vender e o estoque interno crescerá", acrescenta.
As cotações do café na Bolsa de Nova York, em que é negociado, vêm caindo a um patamar quase 40% inferior, neste ano, em relação ao início de 2012. Nos primeiros pregões de cada ano, em janeiro, os preços variaram de US$ 227,2 para US$ 146,5 por libra-peso (medida padrão). Ontem, o valor era de US$ 140,6.
"Os compradores têm a sensação de que os estoques estão altos e de que o produtor vai ter de vendê-los, afinal", aponta Dias, citando também uma perda de 20% na qualidade do café em decorrência das chuvas, neste ano.
O especialista também observa que há uma pressão exercida pelas negociações futuras sobre o valor do produto no mercado físico. Segundo ele, a ação de fundos de investimento em torno do café afeta negativamente o preço.
Até esta semana, esses fundos já negociaram 37 mil lotes (ou 10,5 milhões de sacas, em média) do grão, pressionando suas cotações. "É um impacto forte: o produtor se retrai e o comprador desiste de comprar", afirma Dias.
O operador de valores Roberto Costa Lima, da corretora nTerra Investimentos, observa uma elevação dos negócios focados no mercado futuro, neste início de ano. "Há um remanescente da safra passada que tem aparecido no mercado", comenta.
Veículo: DCI