Clima e erradicação de pomares deve reduzir a safra em 11%
Com a safra já entrando no segundo mês, a colheita de maçãs no Brasil e no Estado deve ter uma queda em 2013, de acordo com estimativas de entidades do setor. Fenômenos climáticos, como seca e geadas, diminuíram tanto a quantidade como o tamanho das frutas. Além disso, a erradicação de pomares em algumas regiões de Santa Catarina também contribui para a redução.
No País, conforme dados da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM), a expectativa é de que sejam colhidas 1,05 milhão de toneladas neste ano, uma queda de 11% em relação ao total de 2012, quando foram atingidas 1,18 milhão de toneladas. Já no Rio Grande do Sul, segundo a Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi), a redução deve ser de 6,83%, caindo de um volume de 483 mil toneladas, no ano passado, para 450 mil toneladas nesta safra. “A geada tardia ocorrida durante a florada, associada à seca de novembro e dezembro, fez com que caísse o número de frutas e também contribuiu para reduzir o seu calibre”, explica Leandro Bortoluz, presidente da Agapomi.
Outro fator que contribui para a queda nacional é a suspensão de pomares na região de Fraiburgo, em Santa Catarina, onde a concorrência com culturas mais rentáveis, como grãos, reflorestamento e leite, tem levado produtores a abandonar a produção das frutas. “Além dos preços mais vantajosos, essas atividades demandam menor custos de mão de obra, e isso tem incentivado a migração de atividades”, comenta Moisés Lopes de Albuquerque, diretor-executivo da ABPM.
Essa redução contribuiu para equalizar a produção catarinense, que tradicionalmente era a maior do Brasil, à gaúcha. Atualmente, conforme Albuquerque, o Rio Grande do Sul já é responsável por 45% da safra nacional, enquanto Santa Catarina corresponde a 48%. “A diferença é muito pequena, hoje já podemos falar que os dois estados são líderes nesse setor”, afirma.
As principais necessidades que os produtores de maçã enfrentam para alavancar o segmento devem ser discutidas, hoje, em Vacaria. A partir das 11h, no CTG Porteira do Rio Grande, acontece o evento União Pela Sustentabilidade do Segmento da Maçã, com a presença do ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho.
Um dos principais pleitos que devem ser entregues ao ministro é a liberação de recursos federais para a construção de uma biofábrica em Vacaria. No local, seriam produzidas moscas das frutas estéreis, uma prática já existente em outras regiões do País. “Esses insetos, ao ser liberados na natureza, cruzam com as moscas normais, mas sem gerar fecundação, o que reduz a população destas pragas”, explica Albuquerque. Além disso, entre os outros pedidos que serão tratados, estão o aumento do prazo de reembolso de linhas de comercialização de 180 para 240 dias, novas condições para renegociação do endividamento e de incentivos para investimentos na cobertura de pomares contra granizo.
Brasil é o primeiro país a erradicar inseto que afeta pomares
As lideranças setoriais da maçã estarão comemorando uma extraordinária conquista. Em 2013, após 16 anos de trabalho intenso, finalmente o Brasil conseguiu erradicar a Cydia pomonella, uma lagarta introduzida no País através da Argentina e que ataca os frutos, causando grandes prejuízos nos pomares.
Conforme Adalécio Kovaleski, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e coordenador-técnico de programa de erradicação da lagarta, o Brasil é o primeiro país do mundo a erradicar o inseto. “Isso tem uma importância econômica muito grande, não apenas na economia quanto na aplicação de alguns inseticidas, que não serão mais necessários, mas também para a abertura de novos mercados para nossas frutas”, destaca.
O pesquisador lembra que, para evitar a entrada da praga, muitos países exigem quarentenas, para impedir que embarques de maçãs apresentem frutas que contenham o inseto. Com o reconhecimento da erradicação, as entidades do setor buscam que o Brasil seja reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) como área livre da Cydia pomonella. Dessa forma, de acordo com Kovaleski, os produtores nacionais terão mais condições de manter e conquistar mercados externos, além de permitir ao governo o estabelecimento de barreiras sanitárias mais fortes contra a entrada, em território nacional, de frutas provenientes de países competidores, como Argentina, Chile e Uruguai.
Veículo: Jornal do Comércio - RS