Tráfego de caminhões graneleiros nas estradas que levam ao Porto de Santos aumentou desde terça-feira e tem causado lentidão
As rodovias que ligam a capital a Santos tiveram longos congestionamentos esta semana. Ontem o tráfego atingiu 18 quilômetros de lentidão pela manhã, na Rodovia Cônego Domenico Rangoni. Motivo: as safras de soja e milho, geralmente entre abril e maio, chegaram adiantadas neste ano e com mais toneladas.
A antecipação da safra sobrecarregou a produção e surpreendeu o porto santista. Segundo produtores e operadores portuários, até a semana passada não havia motoristas para trazer as cargas das áreas produtoras ao cais. Segundo a Ecovias, o número de veículos pesados na quarta-feira foi 2,5% maior que no mesmo período do ano passado.
De acordo com a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), as principais medidas para solucionar os problemas estão sendo tomadas. A Codesp informou que as vias que conduzem ao Porto de Santos têm recebido uma média de 25 mil caminhões de cargas (safras e contêineres) nos últimos dias, sendo 16 mil para a margem direita e 9 mil para a esquerda.
O congestionamento começou na terça-feira, quando muitos veículos se destinavam ao T- Grão Cargo Terminal de Graneis S.A., na margem direita do porto, que recebeu naquele dia 350 caminhões graneleiros, enquanto o máximo permitido para descarga nesse terminal é de 250 caminhões por dia.
Segundo os produtores, o caos ocorreu por causa da falta de motoristas e problemas nos fretes de caminhões. O terminal foi autuado pela prefeitura de Santos. Outro terminal, na margem esquerda, também foi autuado pela prefeitura do Guarujá, por desrespeitar o limite de carga diária.
Além das cargas vindas pelas rodovias, o Porto de Santos tem 31 navios atracados, 9 em terminais, e mais 90 fundeados, aguardando liberação para atracar.
Mato Grosso. Carretas com 50 toneladas de soja de Sapezal, no meio-norte de Mato Grosso, estão levando três dias a mais para descarregar nos portos de Santos e Paranaguá. A viagem de 2,2 mil km, que há dois anos levava seis dias, ficou mais demorada este ano em razão das precárias condições das estradas e do gargalo nos portos. Como os veículos demoram mais para retornar, faltam caminhões. Com isso, o custo do frete dobrou e já absorve 27% do valor da soja na região, uma das principais produtoras do grão no Estado.
Ontem, o produtor e presidente do Sindicato Rural de Sapezal, Claudio José Scariote, tentava monitorar os veículos que seguiam com soja para os portos de São Paulo e Paraná. "As estradas estão em péssimas condições e os caminhões viajam em comboios, com velocidade reduzida." A opção ferroviária, segundo ele, não atrai porque as operações de transbordo são demoradas e o preço não é competitivo.
Paranaguá. A administração do Porto de Paranaguá e de Antonina (Appa) espera encontrar nos próximos meses, menos dificuldades para o embarque de grãos para exportação, em um ano cuja expectativa de safra é de 44 milhões de toneladas. Entre esses problemas estariam as filas de caminhões que em alguns anos estiveram próximas dos 60 quilômetros.
Para esta temporada, a administração instituiu o sistema de carga online, no qual a carga tem a entrada no porto agendada desde a sua origem e dessa forma os caminhões podem ser descarregados com mais agilidade, dentro do prazo previsto. Apesar disso, muitos caminhoneiros têm esperado a liberação de suas cargas pelos postos da região.
Eduardo Carlos Karas viajou 350 km de Guarapuava a Paranaguá com 37 toneladas de grãos, mas não estava com a liberação da carga agendada. "Estou esperando a liberação. Existe uma burocracia que está emperrando, mas preciso aguardar."
Na tarde de ontem, o porto de Paranaguá tinha 67 navios ao largo do corredor de exportação. Segundo a assessoria da Appa, esse número de navios corresponde a três com cargas plenas, 15 com carga parcial (diversas cargas de variadas empresas) e outros 49 sem carga, mas que negociam com as empresas. "Como em Paranaguá existe um pool de empresas, o que não ocorre em Santos, muitos navios vêm para cá e fazem suas negociações de cargas. Por isso, não há uma média de tempo de espera, mas isso não é controlado pelo porto."
Especialista prevê caos logístico no País neste ano
SÃO PAULO - O especialista em agronegócio e energia, Marcos Jank, ex-presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), prevê um caos logístico no Brasil este ano. Com uma safra recorde e portos despreparados, 2012 será o pior ano do setor, o que já começa provocar dúvida entre clientes estrangeiros sobre a capacidade do País de conseguir entregar os produtos dentro do prazo.
"A soja e o milho estão chegando nos portos ao mesmo tempo que o açúcar e os fertilizantes que estão sendo importados." Em um ano, explica Jank, o aumento no volume de soja e milho exportado será de 40%. Na avaliação dele, apesar das estradas deterioradas, o pior problema está nos portos, que sofrem com a concentração de cargas.
Sem rotas para escoar a produção pelos portos do Norte, os produtores mandam boa parte da carga para os portos do Sul e Sudeste, apesar de terem de percorrer milhares de quilômetros. Segundo Jank, 60%da produção de grãos está no cerrado brasileiro, no Norte do Mato Grosso, Bahia e Goiás. Desse produção, apenas 14% são exportados pelos portos do Norte. Os resto, 86%, saem pelo Sul e Sudeste.
A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) também está preocupada com os problemas de logística que atrapalham o escoamento da produção brasileira. As dificuldades de movimentação da safra tem sido tema de discussões e estudos que estão sendo levados ao governo federal. Para a entidade, está sendo um enorme desafio transportar as 81 milhões toneladas de soja, além das outras 73 milhões de toneladas de milho e mais 28 milhões de toneladas de outros grãos para os centros de consumo e portos de exportação.
Problemas estruturais de infraestrutura logística têm sido amplamente debatidos, mas a solução para os mesmos ainda está longe de contribuir para o aumento de competitividade da produção agropecuária brasileira. As distâncias são longas, o transporte hidroviário é precário e os fretes rodoviários e ferroviários são elevados no Brasil, porque a demanda por serviços de logística de transporte é maior do que a oferta.
Veículo: O Estado de S.Paulo