A recente crise da Argentina deve diminuir os investimentos e o comércio do Brasil com o país. Segundo especialistas consultados pelo DCI, o possível não pagamento de suas dívidas, o congelamento de preços e a falta de credibilidade sobre os índices oficiais de inflação fazem com que a entrada de capital fique paralisada.
De acordo com o presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira (Camarbra), Alberto Alzueta, "muitos investimentos estão sendo afastados. A Vale tem investimentos de estrutura para a extração de minas de potássio e esse investimento é a extração, a ferrovia, as construções do porto e isso praticamente parou. Eles alegam vários motivos mas o que está acontecendo é que, na Argentina, os preços estão aumentando, enquanto o Indec [Instituto Nacional de Estadísticas y Censos] diz que a inflação oscilava 9% enquanto os economistas estimavam 26%. No primeiro bimestre se calcula que atingiu 36%, isso evidentemente está aumentando os custos, os investimentos se dá em dólares que está sendo trocado por uma taxa desvantajosa e faz com que muitos sejam adiados", disse.
Para o professor da ESPM, Mario Gaspar Sacchi, o fato de a Argentina ter que pagar a dívida aos Estados Unidos pode causar uma crise grave no país. "O que ocorre é que existe uma possibilidade de ganhar dinheiro com a venda de 4 milhões de toneladas de soja, para chegar até meados de abril com mais fluidez", disse.
A Argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. No último ano, as vendas do País ao vizinho ficaram prejudicadas devido às barreiras comerciais colocadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner, na tentativa de proteger sua balança comercial e equilibrar o resultado, que era muito mais favorável para o Brasil.
No ano passado, o superávit do Brasil com a Argentina foi de US$ 1,5 bilhão ante US$ 5,8 bilhões alcançados no ano anterior. Segundo Alzueta, é importante lembrar que houve uma queda no crescimento econômico dos dois países. "Realmente, o mercado exterior da Argentina caiu bastante no ano passado, mais para o Brasil que para a Argentina, isso de um lado equilibrou um pouco, o superávit está mais razoável."
Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff tinha uma reunião marcada com Cristina Kirchner, cancelada devido à necessidade de comparecimento no funeral do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Segundo o representante da Câmara, o encontro serviria para um acerto da Argentina com o Brasil sobre o financiamento de obras de infraestrutura através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES).
Em contrapartida, Dilma pediria pelo fim das barreiras comerciais.
"Tem uma série de grandes projetos de infraestrutura na Argentina, como duas hidrelétricas, linhas ferroviárias que estão paradas por falta de financiamento. O BNDES estaria financiando essas obras. Em contrapartida, a Argentina liberaria muitas travas com os produtos brasileiros. Estamos todos ansiosos, esperando essa reunião pois os entraves provocam uma diminuição do volume de comércio", disse Alzueta.
Sacchi colocou que o que pode mudar na relação é que o país vizinho tenha mais restrições para a entrada de nossos produtos.
"O dólar no câmbio negro esta chegando a oito pesos, o consumo vai cair no geral", disse.
Para o presidente da Camabra, um dos próximos acontecimentos importantes no que tange à relação bilateral é a revisão do acordo automotivo entre os países, que deve ocorrer, segundo ele, em meados deste ano.
"A revisão do acordo automotivo é uma coisa que está sempre latente, vence agora em meados do ano e teria que ser revisto, vamos torcer para que mude para melhor e buscar que tenha mais participação de componentes locais argentinos e brasileiros. A Argentina, inclusive, estava pedindo que os carros produzidos no Brasil tivessem prioridade de peças argentinas, os fabricantes brasileiros não iriam gostar mas é uma forma de equilibrar o comércio", disse Alzueta.
Veículo: DCI